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Globo acertou ao demitir e saída de Galvão e chegada de Sabrina Sato provam
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Resumo da notícia
- A Globo recebeu duras críticas da mídia e da audiência por seus sucessivos cortes de colaboradores e saída de estrelas como Faustão
- As medidas foram parte de uma longa e dura reestruturação, intensificada na pandemia, com redução do quadro de diretores e até venda de propriedades
- Retomando o lucro após anos de prejuízos, e com forte crescimento do Globoplay, a Globo vê a estratégia começar a dar frutos
- Um dos aspectos mais polêmicos da nova fase da Globo foi a mudança do modelo de contrato com os talentos, cada vez mais por obra e não fixos
- A estratégia copiada da Netflix pela Globo deu tão certo que outras emissoras de TV também começam a usá-la
- O crescente número de famosos dispostos a seguir na Globo, mesmo ganhando menos, mostra que a marca da emissora pode pesar mais que o salário
Quando uma empresa corta centenas de funcionários, nos solidarizamos com aqueles que vão embora. Quando essa empresa é a Globo, uma das maiores e mais ricas empresas de mídia do mundo e os demitidos são profissionais que admiramos e nos acostumamos a ver por décadas na TV, a solidariedade não raro se transforma em revolta.
Jornalistas esbravejavam apontando o que viam como desrespeito da emissora com sua "prata da casa". Outros, ignorando os bilhões de reais no caixa da empresa, diziam que a Globo estava falindo. Fãs publicavam milhares de mensagens e comentários indignados nas redes sociais.
Como disse em um texto de outubro do ano passado, a subida do dólar no Brasil e a pandemia, aliados a uma profunda crise econômica no país e fuga de anunciantes e audiência da TV para o online, forçaram a Globo a tomar um remédio amargo e ajudaram a criar uma das maiores crises de imagem da história da empresa.
O remédio amargo foi um duro plano de reestruturação iniciado em 2018, acelerado na pandemia, tendo como medidas mais visíveis grandes cortes de funcionários. A empresa também reduziu o investimento em esportes ao vivo, como campeonatos de futebol e F-1, além de cortar despesas em diversas áreas, inclusive vendendo propriedades como prédios e torres de transmissão.
Globo copiou Netflix e todos copiam a Globo
Se há alguns meses a saída de estrelas chocava e gerava indignação, hoje se tornou apenas mais uma notícia. Galvão Bueno não renovar seu contrato com a Globo, por exemplo, já não surpreende tanto, o narrador era um dos maiores salários da emissora.
Mas sejamos francos, qual a alternativa para Galvão Bueno ou qualquer astro que deixa a Globo? Internet, redes sociais, streaming? Sem dúvida, mas em nenhuma dessas plataformas há salário fixo milionário ou mesmo na casa das centenas de milhares de reais.
Sair da Globo para TVs concorrentes? É possível, mas nenhum executivo de televisão está disposto a fechar contratos nos mesmos valores de dois ou três anos atrás. A lógica é simples, a Globo tem liberado diversas estrelas e estão sobrando profissionais no mercado.
"As negociações estão cada vez mais difíceis", diz uma empresária de famosos. "Acabou aquela farra do passado em que tinha artista que mesmo tendo contrato de exclusividade dizia que não tinha agenda para fazer projeto. Se a Globo vive sem o Faustão, vive sem qualquer nome da casa. E a Globo é a referência. As outras emissoras observam", acrescenta.
Basicamente, os contratos por obra são mais baratos. Assim como a Globo copiou o modelo de contratos da Netflix, agora outras emissoras copiam a Globo.
Sabrina Sato na Globo
Quando as emissoras não estão dispostas a pagar os mesmos salários fixos do passado, a estratégia dos famosos também muda. Sabrina Sato teria aceitado ir para a Globo ganhando cinco vezes menos, cerca de R$ 200 mil. Quanto ela ganharia se tivesse topado ficar na Record não foi divulgado, mas ela também já não tinha um contrato fixo com a emissora paulista.
Para Sabrina, que ganha milhares de reais como influenciadora digital e em seus outros negócios, a lógica mudou radicalmente nos últimos anos. A TV já não tem o mesmo peso e os salários são piores, e quando se trata de exposição de marca, a Globo ainda é imbatível. A Globo ainda é a líder absoluta de audiência, e agora com menos contratos fixos, pode "testar" cada vez mais novos talentos.
Sabrina sabe disso e pode conseguir fazer o que Fernanda Gentil não conseguiu: dar à Globo um programa "mais jovem" que caia no gosto do público. Entre ficar saltando de um programa para o outro na Record ou na Globo, melhor fazer isso na Globo e ainda poder realizar projetos no Multishow, Globoplay ou outras plataformas de streaming.
Marcos Mion é um exemplo. Foi contratado pela Netflix, depois Multishow, mas saltou para a Globo "ajudado" pelas inesperadas saídas de Faustão e Tiago Leifert da Globo.
Luciano Huck por sua vez foi para o domingo, e teria assumido o lugar de Faustão sem grandes impactos na receita comercial da Globo. Mas a mudança permitiu à emissora provar que a grade de programação e a marca do canal têm mais força que o nome de um talento. Também fica claro que a vida fora da gigante platinada é "dura".
A saída de Faustão e Xuxa
O sucesso de Faustão na Band ainda é uma incógnita. A audiência do programa está longe de ser espetacular. O apresentador conseguiu atrair grandes anunciantes, mas se as marcas estão renovando os investimentos, e principalmente, qual a relação do custo e da receita comercial do programa, são difíceis de avaliar.
A Band, diferentemente da Globo, SBT e Record, não divulga seus balanços, então é mais difícil entender a conta na emissora do Morumbi. Mas algumas notícias em torno da atração de Faustão são preocupantes. Conforme o colunista Mauricio Stycer noticiou, o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão e Televisão de São Paulo enviou uma carta à Band denunciando as más condições de trabalho das equipes de produção do apresentador.
Soubemos ainda pela jornalista Luiza Leão que a Band deixou funcionários sem restaurante para criar um espaço gourmet para Faustão. Também há reclamações de outras produções da emissora de que o apresentador e sua equipe receberiam um tratamento desproporcionalmente favorável, reduzindo a qualidade de outros programas, como revelou o colunista Ricardo Feltrin.
Xuxa, maior contratação da história recente da Record, fora da Globo não emplacou nenhum grande sucesso. De volta à emissora carioca em participações pontuais, retornou triunfalmente à mídia. Ou seja, se sair da Globo trouxe riscos para Faustão e Xuxa, imagine para os outros famosos.
Galvão Bueno em outra emissora?
Galvão narrando na Band, SBT ou Record? Seria possível. Mas é um desafio crescente manter estrelas com salários milionários em qualquer canal. Quando a Globo mudou o modelo dos contratos, mudou porque o mercado é outro. Se é difícil "fechar" a conta na líder de audiência, imagine nas demais.
Nas próximas semanas, o SBT divulgará seu balanço de 2021. O lucro deve ser de mais de 200 milhões, revertendo a tendência de queda dos últimos anos. Uma das peças-chave do bom resultado é José Roberto Maciel. vice-presidente do SBT. A missão do executivo nos últimos anos foi enxugar custos, promover demissões e aumentar a receita colocando as contas em ordem.
Maciel, em março, foi promovido a presidente do Grupo Silvio Santos. Antes de assumir a vice-presidência do SBT o executivo foi diretor administrativo e financeiro do canal. Agora, cuidará de todas as empresas do grupo, como Jequiti, Jequitimar, Liderança Capitalização e Sisan entre outras.
No SBT, assim como na Globo, as paixões cada vez mais dão espaço a um modelo pautado pelos números. Galvão entende de mídia e do mercado como poucos. Ao anunciar sua saída, mas acenando que seguirá na "sua casa" em outros projetos, mostra que entende o jogo.
Admita, a Globo estava certa
A estratégia da Globo está sendo vitoriosa. Se funcionará nos próximos anos, é uma incógnita. A Netflix dá sinais de que seu modelo começa a se esgotar e os competidores estão se aproximando cada vez mais rápido. Quando todas as estrelas estão "disponíveis no mercado", a estratégia passa a ser tão, ou mais importante, quanto no passado foi ter recursos para contratar os atores e apresentadores mais conhecidos. Mas os desafios da Netflix são tema para uma próxima coluna.
Os artistas também estão descobrindo que trabalhar com plataformas de streaming e suas rígidas fórmulas está longe de ser fácil. A estrutura da Globo, e a exposição de suas diversas plataformas (sites, TV aberta e a cabo, Globoplay, rádios, jornais e revistas) são outra vantagem.
O fato é que a Globo pode comemorar. A empresa cortou salários, reduziu custos e aumentou os lucros, revertendo anos de prejuízo. Pode-se argumentar que ainda falta um novo sucesso artístico estrondoso para a Globo na TV aberta, já que no Globoplay há vários, com destaque para Verdades Secretas 2.
Morte lenta da TV aberta?
Talvez Pantanal tenha o propósito de ser um projeto para mostrar que a emissora aumentou os lucros e a relevância do Globoplay sem perder sua capacidade criativa de produzir grandes sucessos na TV aberta.
Provavelmente, essa seja somente mais uma "conta" sobre como reduzir o investimento na TV no ritmo certo, sem alienar a audiência que está lá e não matar a galinha dos ovos de ouro, já que o lucro ainda está na TV e não no digital.
Usar os lucros da TV aberta para criar um novo negócio digital é uma estratégia válida. Porém, como no caso da reestruturação e do corte de artistas e funcionários, seria uma medida pouco popular. Possivelmente outro remédio amargo, mas inescapável. Haverá reclamações de que a Globo deixou de ser criativa e que matou as novelas e assim por diante.
Seja como for, não vão faltar talentos. A fila de estrelas dispostas até a ganhar menos, desde que seja para estar na Globo, não para de crescer.
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