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Exclusivo: Globo explica Jade Picon na novela; e por que é uma oportunidade
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Resumo da notícia
- A influenciadora Jade Picon fará sua estreia na dramaturgia em uma novela das nove da Globo; a notícia gerou críticas de artistas e nas redes sociais
- Ricardo Waddington, diretor de entretenimento da Globo, revela os bastidores da escolha e por que Jade está "credenciada" para o desafio
- Agências digitais já começam a investir na formação e preparação de influenciadores para eles estarem mais presentes em filmes, séries e novelas
- Influenciadoras digitais como Addison Rae e Charli D'Amelio são apostas das gigantes Netflix e Disney para conquistar o público jovem
A notícia de que Jade Picon irá atuar em Travessia, próxima novela de Gloria Perez na Globo, tem incomodado muita gente. Atrizes como Anna Rita Cerqueira, Nina Tomsic e Ana Hikari postaram comentários no Instagram criticando a escolha da influenciadora para o papel na trama das 21h que deve ir ao ar no segundo semestre. Alguns usuários nas redes sociais também reclamaram.
Mas descartar Jade antes mesmo de sua estreia parece precipitado. Conhecer os bastidores da seleção da ex-BBB para a novela ajuda a entender a razão.
Segundo Ricardo Waddington, diretor de entretenimento da Globo, não existe um movimento específico da emissora para trazer influenciadores, mas as oportunidades quando surgem são aproveitadas. Questionado se o número de seguidores interfere na escalação de um profissional na Globo, Waddington diz que "depende da natureza do projeto, mas no que diz respeito à dramaturgia, não tem nenhuma interferência. Não é isso que vai ditar a escolha. Em projetos comerciais, provavelmente alguma. Não há resistência, mas tampouco há um esforço (para escolher influenciadores digitais). A escalação obedece a outros critérios".
Jade, em boa medida, é uma feliz coincidência. "Muitas coisas inspiram um diretor na hora de uma escalação. É algo técnico, mas também muito intuitivo. E em uma das muitas reuniões de casting da novela, de escalação, o nome dela surgiu no meio de uma conversa. Todo mundo imediatamente recuperou a imagem dela no BBB e associou à personagem", lembra Waddington.
Na trama de Gloria Perez, Jade irá viver Chiara, uma influenciadora digital vítima de fake news.
"Vimos que tinha muito a ver. A partir disso a gente foi atrás, fez testes. O tipo físico da Jade, mais o temperamento que ela demonstrou no BBB, a maneira como ela se comunicava com as pessoas na casa e com o público, isso tudo a credenciou a fazer um teste para uma personagem que trazia essas mesmas características", diz Waddington.
Processo de preparação de Jade
Jade pode não ter experiência em novelas, mas a Globo não será pega de surpresa. Além de ter ido bem nos testes, a influenciadora trabalha duro no processo. "Desde o momento em que foi contratada, a Jade começou um trabalho de preparação bastante intenso. Assim como outros atores na mesma situação. E ela tem respondido muito bem", afirma Waddington.
Jade não é a primeira ex-BBB a ganhar um papel de destaque na Globo a receber críticas. Grazi Massafera incomodou atores veteranos ao migrar do BBB 5 para uma novela da emissora em 2006. Em 2016, Grazi foi indicada como melhor atriz ao Emmy por seu papel em Verdades Secretas. Grazi irá interpretar a mãe de Jade na trama.
Nada garante que Jade conseguirá reproduzir o sucesso de Grazi na dramaturgia, mas essa talvez nem seja a principal questão. Outro ponto a favor de Jade é o potencial interesse de anunciantes e a chance de estender as ações comerciais da novela de maneira ainda mais integrada nas plataformas digitais da emissora. Se tudo correr bem, a influenciadora talvez possa reproduzir na Globo algo semelhante ao que já acontece em Hollywood e plataformas de streaming como a Netflix.
Alguns especialistas torcem o nariz, mas público gosta
A Netflix pagou mais de US$ 20 milhões pelos direitos de Ele É Demais, uma comédia romântica estrelada por Addison Rae, de 21 anos. Addison tem mais de 88 milhões de seguidores no TikTok e possui o quarto perfil mais seguido do mundo na plataforma de vídeos.
No ano passado, o filme de Addison estreou no topo dos mais vistos da Netflix em diversos países. Semanas após a estreia, a plataforma de streaming anunciou que havia fechado um novo acordo com a influenciadora para mais produções.
Outra influenciadora, Charli D'Amelio, com mais de 142 milhões de seguidores no TikTok (o segundo maior perfil da plataforma), tem acordo com a Disney. Ela realizou um documentário de oito episódios que foi exibido nos serviços de streaming da empresa.
Kim Kardashian, outra estrela da influência digital com mais de 320 milhões de seguidores no Instagram, também tem contrato com a Disney. Segundo o Hulu, streaming em que a Disney é sócia, "The Kardashians" foi sua maior estreia de série na história dos EUA. O Hulu não divulgou números, mas disse ainda que o novo programa é a série da Star Originals mais assistida (portanto, não incluindo os títulos de streaming da Marvel ou Star Wars) no Disney+ e Star+ nos mercados globais.
As críticas ao novo show das Kardashians não foram positivas. Afinal, a atração parece mais uma grande vitrine para vender produtos. Charli D'Amelio e Addison Rae dificilmente vão ser indicadas ao Oscar, mas o público (e os anunciantes) não se importam. O objetivo dessas produções é entreter o público e as influenciadoras conseguem fazer isso.
A Netflix também lançou uma produção brasileira com influenciadores locais. O suspense protagonizado pelos influencers Ingrid Ohara (Lua), Pietro Guedes (Bernardo), Gabriel Peixinho (Lucas), Vivi Wanderley (Caetana), Gregory Kessey (Gustavo), Luíza Parente (Olivia), Priscila Caliari (Cris) e Fael (Rodrigo) não agradou à crítica, mas esteve entre os mais vistos da plataforma no país.
As estrelas do mundo digital podem até não concorrer ao Oscar, mas a Academia na última edição do evento convidou 23 influenciadores para criar conteúdos durante a premiação. Segundo os organizadores do Oscar, o objetivo era atrair uma audiência mais jovem para a transmissão na TV e redes sociais.
Globo, Netflix, todos querem os influenciadores
Os influenciadores estão ganhando rapidamente as telas das grandes produções. À medida que o público das mídias tradicionais como o cinema e a TV envelhecem, e os jovens cada vez mais se voltam para as plataformas digitais, trazer as estrelas das redes sociais para as produções tradicionais se tornou uma questão de sobrevivência. E isso não se limita às novelas, filmes e séries.
Nos esportes, estrelas do streaming como Casimiro e Gaulês reúnem audiências dignas de canais abertos de TV. A própria Globo vem abolindo as fronteiras entre TV, internet, redes sociais e streaming. A meta é levar conteúdo onde a audiência esteja consumindo e veicular publicidade em todos os meios de maneira cada vez mais integrada.
"O influenciador já tem um talento nato de conquistar as pessoas", diz Fátima Pissara, autora do livro Profissão influencer: como fazer sucesso dentro e fora da internet e CEO da Mynd, agência digital. "Influenciador pode ser ator assim como ator pode ser influenciador. Uma coisa não acaba com a outra. É uma onda bem maior".
Segundo Fátima, a Mynd tem apoiado alguns dos influenciadores no processo de treinamento para que possam fazer testes e entrar em produções de TV, cinema e streaming.
"Ainda existe uma imagem de que o influenciador é uma pessoa que fica no sofá o dia inteiro e não faz nada. Não é isso. Eles trabalham muito e o dia inteiro. É preciso incentivar o surgimento de novos talentos, se os influenciadores passarem no teste como a Jade Passou, ótimo".
Marketing espontâneo das influenciadoras
Jade entende o poder das redes sociais. Ao gravar e postar no Instagram a ligação em que recebeu a notícia de sua escalação para o elenco de Travessia, a influenciadora começou um arco narrativo de sua jornada rumo à novela da Globo. O apresentador Marcos Mion usou estratégia semelhante quando entrou na emissora.
Bom para Jade, mas melhor ainda para a Globo, que ganhou acesso aos 20,6 milhões de seguidores da influenciadora no Instagram e começou a criar interesse em torno da nova trama meses antes da estreia e sem gastar nada. O vídeo com Jade chorando, gritando e comemorando a entrada em Travessia repercutiu amplamente nos grandes veículos de notícias de entretenimento e perfis de fofoca nas redes sociais. A publicação já tem 892 mil likes e quase 28 mil comentários apenas no perfil da influenciadora no Instagram.
A influência digital ainda é subestimada, mas não deveria. Mesmo não sendo uma profissão regulamentada, segundo levantamento da empresa de pesquisas Nielsen, o Brasil tem mais de 500 mil influenciadores digitais. Número superior a dentistas formados (374 mil) e engenheiros civis (455 mil). O contingente de influenciadores empata com o número de médicos, que chega a 502 mil.
À medida que o número de pessoas criando conteúdo em redes sociais aumenta, há mais oportunidades para as estrelas digitais ganharem dinheiro online e aproveitarem o sucesso offline. Jade já era uma estrela digital antes do BBB, mas depois da exposição na TV aberta sua popularidade explodiu.
O que é mais importante: talento ou seguidores?
As plataformas também estão otimizando os algoritmos para expor os conteúdos mais populares, se preocupando cada vez menos em mostrar o que os seus amigos estão compartilhando, como acontecia no passado. Essa dinâmica facilita o crescimento das "estrelas".
Mas se qualquer um pode ser um influenciador, maior a competição e mais difícil você se destacar. É a mesma lógica dos círculos artísticos, ser uma estrela da Globo é um desafio para poucos. Milhões querem e uma dezena consegue. Há poucas vagas e a concorrência só aumenta (agora também com influenciadores digitais).
Não é segredo em Hollywood que o número de seguidores de um ator nas redes sociais tem pesado cada vez mais na escolha dele para um elenco. Um dos principais investimentos de uma grande produção é o marketing. Atrair e reter a atenção das pessoas tem sido um desafio cada vez maior. Em 2017, em uma entrevista à revista Porter, a atriz Sophie Turner afirmou que concorreu a um papel com outro nome mais qualificado, mas foram os seguidores nas redes sociais de Sophie que lhe garantiram o papel.
"Muito do que conquistei é questão de tempo e sorte, mas também é, e odeio dizer isso, um grande número de seguidores nas mídias sociais. Eu fiz o teste para um projeto e foi entre mim e outra garota que é uma atriz muito melhor do que eu, muito melhor, mas eu tinha seguidores, então consegui o trabalho. Não está certo, mas agora faz parte da indústria cinematográfica", afirmou Sophie.
Autorização especial para Jade Picon
Uma das últimas barreiras para a entrada de Jade Picon na novela era a falta do registro profissional. Mas ela recebeu uma autorização especial do Sated-RJ (Sindicato dos Artistas de Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado do Rio de Janeiro) para atuar na Globo.
"Continuamos a defender o registro profissional com unhas e dentes e vamos defender sempre", disse Hugo Gross, presidente do Sated-RJ, em entrevista a Fábia Oliveira no site Em Off. "Dentro da lei existe uma lacuna que qualquer empresa de teatro, cinema ou teledramaturgia tem o direito a um número específico de cada produto. Por isso, existe uma autorização especial para aquele produto. No caso de Jade, nós demos uma autorização especial e específica para aquele produto".
Mas os colegas de trabalho de Jade também têm uma oportunidade. Dwayne Johnson, o The Rock, não conseguia fazer seu canal no YouTube decolar. Após ouvir de uma consultoria digital que deveria fazer vídeos com os principais youtubers, o astro do cinema seguiu o conselho e decolou na plataforma de vídeos.
Dwayne usa o perfil no YouTube, com 6,1 milhões de seguidores, e no Instagram, com 324 milhões, para promover seus filmes e sua marca de tequila. Para quem construiu a carreira e ganhou fama na luta livre, ganhar respeito dos pares no cinema também não deve ter sido tarefa fácil.
É natural o desconforto de outros profissionais diante da estreia de Jade Picon na Globo. Mas é um caminho sem volta. Ainda teremos muitas Jades, Chalies D'amelio e Addisons Rae em novelas, séries e filmes. É uma evolução natural do meio.
Chaplin resistiu a falar em filmes. Escreveu em 1931 que a "imagem silenciosa... é um meio de expressão universal. Filmes falados necessariamente têm um campo limitado", argumentando que "a pantomima está na base do drama". Mas ele incorporou efeitos sonoros sincronizados, incluindo um apito que o Vagabundo engole em Luzes da Cidade. Com o tempo, Chaplin cedeu. Seu primeiro filme falado foi O Grande Ditador, em 1940. Assim como Chaplin e os demais atores tiveram de se adaptar, a atual geração de estrelas também terá de conviver com o digital. No final, quem prevalece é o público, não os críticos ou os especialistas.
Outra possível analogia é com astros como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger e o próprio The Rock, que após ganharem fama em outras mídias migraram para o cinema. Hoje, atores "musculosos" se tornaram uma imagem recorrente em filmes de ação.
Tendência ou movimento natural?
"Eu não acredito que exista uma tendência. São oportunidades pontuais. Aconteceu o mesmo quando modelos começaram a fazer novela. A diferença é que, hoje, onde as pessoas se apresentam ao mundo? Nas redes sociais! É um local que dá às pessoas visibilidade", diz Waddington, que faz uma ressalva: "Mas o universo para a captação de elenco é nas escolas de teatro, festivais de cinema, peças, filmes. É lá que buscamos os nossos talentos."
"Os streamings, as redes sociais, sim, fazem parte de um dos nossos vários meios de entrar em contato com pessoas", lembra Waddington."E ainda continuam a existir outros lugares de exposição como as passarelas da moda, campanhas publicitárias - eu passei por um outdoor, vi uma foto da Juliana Paes e falei 'quero testar essa menina'. Nunca tinha ouvido falar dela, não sabia se era atriz ou não! -, na padaria, na esquina da rua também. É onde você vê as pessoas. Mas são ocasiões extraordinárias", completa.
Uma influenciadora na novela de maior prestígio da Globo talvez seja apenas uma nova manifestação da dramaturgia, que traz os temas relevantes da sociedade para os espectadores. Se Jade será um sucesso é imprevisível. Mas estrelas do digital cada vez mais presentes na TV são um caminho sem volta.
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