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Guilherme Ravache

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como Gisele Bündchen, Elon Musk e vários famosos perderam bilhões na semana

Gisele Bündchen e Tom Brady, de casal dos sonhos a vítimas das criptomoedas - Getty Images
Gisele Bündchen e Tom Brady, de casal dos sonhos a vítimas das criptomoedas Imagem: Getty Images

Colunista do UOL

13/11/2022 04h00

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Resumo da notícia

  • Gisele Bündchen e Tom Brady caíram no conto das critomoedas ao investir na FTX, corretora que quebrou nesta semana
  • Elon Musk viu seu patrimônio despencar após a compra do Twitter e já fala em falência da rede social que acabou de comprar
  • A última semana prova que os bilionários também cometem erros grosseiros; mas no caso deles, as consequências poder ser ainda piores

Pode ser difícil imaginar que bilionários tenham problemas. Principalmente na esfera financeira. Mas se os últimos dias provam algo, é que não está fácil para ninguém, nem para os ultra-ricos.

Gisele Bündchen e Tom Brady já não vinham em uma boa fase. Divórcio, ele fazendo uma temporada ruim no futebol americano e a modelo sendo fotografada em público chorando. Para muitos, a fortuna do casal estimada em mais de R$ 3 bilhões até seria um consolo.

Mas até essa fortuna está ameaçada. Nesta semana, a FTX, uma corretora de criptomoedas, quebrou. Gisele e Tom teriam investido uma soma considerável de suas fortunas na empresa. Em 2021, o casal anunciou ter participação na FTX. Brady era um embaixador da marca e aparecia em comerciais da empresa. Gisele foi nomeada consultora de iniciativas ambientais e sociais da companhia.

Em um evento ao lado de Sam Bankman-Fried, fundador da FTX, Gisele disse ao público que "foi fascinante conhecer mais sobre o universo criptográfico! A criptomoeda se tornará cada vez mais familiar para todos nós com o passar do tempo".

Gisele tinha grandes planos para a FTX. "O que mais me atraiu nessa parceria foi o potencial de aplicação de recursos para ajudar a regenerar a Terra e permitir que as pessoas tenham uma vida melhor, gerando uma verdadeira transformação em nossa sociedade", disse a modelo em uma conferência ao lado de Sam Bankman-Fried. "Sam e eu somos entusiastas que compartilham a crença de que estamos nesta terra por uma razão maior e que todos temos um papel na proteção de nosso planeta. Estou ansiosa para trabalhar com a equipe da FTX para criar um impacto positivo em nosso mundo!"

Bilhões perdidos e clientes sem receber

Ainda não está claro o que aconteceu, por que aconteceu tão rapidamente ou o que acontecerá com a FTX e seus clientes. Mas já se sabe que foram feitas transferências de recursos de clientes da FTX para outras empresas de Bankman-Fried. Isso pode até não ser um crime, mas na opinião de especialistas, é um grande problema, já que existe um claro conflito de interesses e aumento de risco.

Pelo menos US$ 1 bilhão em fundos de clientes desapareceram da FTX, de acordo com duas pessoas familiarizadas com o assunto que falaram à Reuters. Bankman-Fried também teria transferido secretamente US$ 10 bilhões em fundos de clientes da FTX para sua outra empresa, a Alameda Research.

Uma grande parte desse dinheiro sumiu desde então. Uma fonte disse à Reuters que o valor perdido é de cerca de US$ 1,7 bilhão. Outra fonte disse que a diferença estava entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões.

Ao longo da semana Bankman-Fried tentou salvar a FTX pedindo mais dinheiro aos investidores, mas na sexta-feira, a FTX, a Alameda, a FTX US e outras afiliadas da FTX entraram com pedido de recuperação judicial. Isso significa que pode levar muito tempo até que investidores e credores possam recuperar seu dinheiro ou parte dele. Mas existe uma grande chance de que não recebam nada.

Longa lista de famosos no prejuízo

Bankman-Fried também perdeu bilhões. Em seu auge, o magnata das criptomoedas chegou a ter US$ 26 bilhões de patrimônio. No início da semana passada, ele ainda tinha US$ 16 bilhões. Após o colapso de sua exchange e sua outra empresa, a Alameda Research, seus ativos nas Bermudas foram congelados pelas autoridades, ele está sendo investigado pela Comissão de Valores Mobiliários dos EUA por possíveis violações das regras de valores mobiliários, e os reguladores no Chipre estão prestes a suspender sua licença para operar na Europa.

Na quinta-feira, o Bloomberg Billionaires Index avaliava os negócios da FTX nos EUA em US$ 1. Ou seja, foi US$ 8 bilhões a apenas US$ 1 no espaço de poucos dias.

Gisele e Brady não são as únicas personalidades que podem ser afetadas pela falência da FTX. Lewis Hamilton, Shaquille O'Neal, Naomi Osaka e Stephen Curry, e até artistas, como a cantora Katy Perry e o ator Larry David tinham parcerias públicas com a FTX. David protagonizou uma campanha milionária da FTX lançada no último Super Bowl. Como usualmente a FTX usava criptomoedas e ações da empresa como parte do pagamento dessas parcerias, há boas chances de todos terem perdido dinheiro.

Twitter pode falir, diz Elon Musk

Mas poucas histórias de investimentos ruins são tão infames como a do bilionário Elon Musk. Além do prejuízo financeiro, ela vem acompanhada de requintes de estupidez e desconexão da realidade em níveis raramente vistos.

Depois de um processo de compra caótico no qual Musk terá de pagar US$ 44 bilhões pela rede social, o bilionário estreou no comando do Twitter com a delicadeza de um elefante em uma loja de cristais. Seus planos e decisões mudaram tão rápido que muitos já apostam que o destino do Twitter é valer bem pouco (ou nada) em breve. Isso se Musk e executivos do Twitter não acabarem sendo punidos pela Justiça, ou até sendo presos.

Depois de demitir cerca de 3700 funcionários, metade da empresa, justificando a decisão dizendo que o Twitter perde US$ 4 milhões por dia, Musk voltou atrás e alguns funcionários foram chamados para retornar ao trabalho porque se descobriu que eram essenciais.

No Brasil, os demitidos perderam o acesso às contas de e-mail e computadores, mas não receberam instruções claras, nem maiores detalhes do processo.

O desespero de Musk ficou evidente em seu primeiro e-mail para os funcionários do Twitter desde a aquisição. A mensagem enviada nesta quarta-feira dizia que "o quadro econômico à frente é terrível". O bilionário disse ainda que o Twitter corre o risco de falir.

Como disse o comediante Trevor Noah, "o que está acontecendo com Elon Musk é um microcosmo maravilhoso para mostrar a rapidez com que as pessoas abandonam o que dizem ser um princípio quando as coisas não estão indo do jeito que querem". Musk descobriu o que o lutador Mike Tyson imortalizou na frase: "todo mundo tem um plano até tomar um soco na cara".

Anunciantes fogem do Twitter

Na segunda-feira, dezenas de marcas anunciaram que vão pausar campanhas no Twitter após Musk compartilhar uma fake news em seu perfil no Twitter no final de semana. A resposta do bilionário? Avisou aos anunciantes que quem pausar os anúncios será publicamente atacado por ele. A fala gerou ainda mais insegurança entre as marcas.

Agora, Musk está despertando a ira do principal regulador de privacidade do país, a Federal Trade Commission (FTC). Três executivos do Twitter encarregados de privacidade e segurança da informação pediram demissão na quarta-feira.

De acordo com o The Verge, um advogado do Twitter alertou seus colegas de trabalho que a urgência de Musk em promover mudanças no serviço corria o risco de violar uma ordem de consentimento que o Twitter assinou com o FTC, decorrentes de problemas de segurança anteriores. Violações do decreto podem levar a centenas de milhões ou bilhões de dólares em multas para o Twitter.

"Estamos acompanhando os desenvolvimentos recentes no Twitter com profunda preocupação. Nenhum CEO ou empresa está acima da lei, e as empresas devem seguir nossos decretos de consentimento", disse um porta-voz do FTC em um comunicado divulgado para a imprensa.

Os decretos de consentimento descrevem a conduta supostamente ilegal ou deficiente e, em seguida, especificam as medidas corretivas - desde multas até o monitoramento de práticas de uso de dados por terceiros até a exigência de alterações para solucionar deficiências nas políticas. Ou seja, o FTC quer que Musk siga o que foi combinado ou irá punir o Twitter.

Solução mágica que não existe

O plano infalível de Musk para salvar o Twitter seria uma nova conta com assinatura que dá direito ao selinho azul verificado. Lançado de maneira confusa e precipitada, gerou uma onda de perfis falsos com o selo de verificado. O personagem Mario fazendo um gesto obsceno em um perfil se passando pela Nintendo foi um dos casos mais comentados.

A verificação do Twitter costumava significar "O Twitter verificou que você é quem diz ser". Mas com a mudança, o significado passou a ser apenas que você paga US$ 8 para se juntar ao clube porque Elon Musk decidiu que qualquer pessoa pode comprar uma marca de "verificada" sem qualquer verificação. O serviço não chegou a ser disponibilizado no Brasil.

Obviamente, se qualquer um pode ter o selo de verificado, seu valor é zero. Para resolver o problema, na manhã de quarta-feira o Twitter lançou um novo conjunto de selos de verificação para grandes marcas, organizações de mídia e algumas figuras públicas com perfil no Twitter. Mas poucas horas depois, Musk anunciou que havia descontinuado o lançamento.

Na sexta-feira, o Twitter também desistiu do plano de assinaturas com selo azul após a gigante farmacêutica Elly Lilli e a fabricante de armas Lockeed Martin perderem bilhões na bolsa de valores com a publicação de mensagens de perfis falsos com o selo de verificado.

Organizações de mídia como a Bloomberg e a CNN já tinham avisado que não iriam pagar por selinho algum, nem para elas nem para seus jornalistas e personalidades. Nos Estados Unidos, o Twitter também enfrentou nesta semana uma debandada de famosos temerosos com o crescimento do discurso de ódio na plataforma.

Pior, os funcionários do Twitter fizeram as contas e descobriram que o selo azul vendido como Musk prometeu fazem a empresa perder dinheiro. Quem paga a assinatura vê metade do número de anúncios, e os US$ 8 que Musk está cobrando não cobririam a queda de receita, ao menos nos Estados Unidos, principal mercado da empresa. Mais de 90% do faturamento do Twitter vem de anúncios.

Ironicamente, quando Elon Musk estava comprando o Twitter, foi procurado por Sam Bankman-Fried. O dono da falida FTX dizia querer encontrar Musk para fazer um investimento de US$ 3 bilhões. Musk diz que não deu sequência à conversa por não acreditar que Bankman-Fried de fato tivesse US$ 3 bilhões.

Bilionários em crise

O Twitter estava longe de ser uma empresa eficiente. O processo de verificação sempre foi confuso e nada transparente. Em dez anos, a empresa deu lucro em somente dois anos. Mas Musk conseguiu transformar o que era ruim em péssimo.

De quebra, fez sua fortuna despencar. Musk perdeu US$ 90,8 bilhões desde janeiro. Atualmente, sua fortuna é estimada em US$ 179 bilhões. Mas nessa semana, certamente os US$ 44 bilhões investidos no Twitter valem bem menos.

A lista de bilionários perdendo dinheiro é longa. Mark Zuckerberg perdeu US$ 88,2 bilhões em 2022 e pediu desculpas publicamente nesta semana ao ter de demitir 11 mil funcionários, ou 13% da Meta (ex-Facebook). As ações da empresa acumularam desvalorização de mais de 71% em 2022.

Jeff Bezos perdeu US$ 80 bilhões neste ano com a queda do valor das ações da Amazon. Mas vale lembrar que não faz tanto tempo, o bilionário foi humilhado publicamente ao ter um affair revelado na mídia. Bezos perdeu o posto de homem mais rico do mundo ao dividir a fortuna no divórcio.

Bilionários também têm problemas e a escala das complicações é do tamanho do número de zeros em seu patrimônio. Afinal, no caso deles, o dinheiro potencializa o tamanho do vexame. E, para os demais pobres mortais, resta o conforto de que os ricos também erram.

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