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Guilherme Ravache

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Preço não é desculpa para gatonet: TV a cabo é passado e streaming o futuro

Cena de "Piratas do Caribe: O Baú da Morte"; piratas até podem ser vistos de maneira romântica, mas são criminosos - Divulgação
Cena de "Piratas do Caribe: O Baú da Morte"; piratas até podem ser vistos de maneira romântica, mas são criminosos Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

10/02/2023 13h03

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Uma das principais justificativas de quem defende o gatonet, as infames caixinhas que pirateiam conteúdo de streaming e TV e serão tiradas do ar, é de que ela só existe porque os preços das alternativas legais são muito caros.

A TV a cabo de fato é cara no Brasil. Mas em certa medida isso acontece porque ao longo décadas o setor enfrentou a concorrência desleal da pirataria. E isso piorou muito nos últimos anos com o barateamento do acesso à internet e o aumento da velocidade de conexão, facilitando o funcionamento do gatonet.

Mas a TV a cabo é passado e serve cada vez menos como parâmetro. O futuro é o streaming e ele será o grande vitorioso se o gatonet morrer.

Plataformas como Netflix, Prime, Disney+, HBO Max e Globoplay oferecem uma crescente gama de conteúdos e por preços acessíveis, mas nem as maiores empresas do mundo estão imunes ao roubo de sua propriedade. Até o apresentador Casimiro, que cobra apenas R$ 8, não escapa dos piratas.

Ninguém é inocente a ponto de acreditar que é possível ter o conteúdo de todas as TVs e todas as plataformas de streaming por apenas R$ 25 por mês. Conteúdo audiovisual é um produto caro por natureza. Também é uma atividade que gera milhões de empregos e paga bilhões em impostos.

Bilhões em investimentos e prejuízos

O argumento de que as empresas de mídia faturam bilhões e isso justificaria a pirataria é absurdo. É como dizer que um cidadão pode entrar em uma loja e levar o que quiser sem pagar por achar que o preço de um produto é alto ou que o dono ganha muito. Quem dita preço é o dono do produto. E quando se trata de um serviço essencial, agências reguladoras fiscalizam.

As empresas de mídia faturam bilhões, mas também gastam bilhões. A Netflix fatura em torno de US$ 30 bilhões por ano, mas gastou apenas em conteúdo US$ 16,8 bilhões em 2022. Existem ainda diversos outros custos como tecnologia, aluguel, funcionários e impostos. No último trimestre do ano passado, a margem de lucro líquido da Netflix foi de apenas 0,70%.

A Disney, desde que lançou o Disney+, perdeu US$ 10 bilhões neste segmento. Além da Netflix e Discovery+, nenhuma grande plataforma de streaming dá lucro atualmente.

Ou seja, se a Netflix ou a Disney investissem esses bilhões que gastam em conteúdo na poupança, no caso do Brasil, ganhariam consideravelmente mais deixando na renda fixa do que gastando em produções e novos negócios. No final do dia, os investidores aplicam onde o retorno é melhor.

A mesma lógica vale para milhões de artistas e criadores de conteúdo que ganham a vida gerando propriedade intelectual. Sem mecanismos de remuneração a conta não fecha para ninguém.

Conjuntamente, os principais grupos de mídia globais gastaram US$ 238 bilhões em conteúdo em 2022, segundo a consultoria Ampere. Garantir que as empresas não tenham sua propriedade roubada e possam lucrar é garantir que elas sigam investindo e produzindo novidades.

Outro aspecto menos discutido é que aqueles que pagam e seguem a lei, acabam sendo punidos por acabarem gastando mais, seja pagando mais ou tendo menos conteúdo, já que as empresas têm seu faturamento reduzido pela pirataria.

Concorrência é o melhor remédio

A concorrência é o melhor remédio para combater preços altos e vimos isso nos últimos anos no streaming, onde aconteceu um boom de produções. Mas a pirataria é uma concorrência desleal. É impossível concorrer contra quem rouba e não investe um único centavo na produção.

O streaming cresce rapidamente, mas não está imune aos piratas. O valor de R$ 25 para ter todo o conteúdo do mundo ainda é uma oferta financeiramente mais atraente do que pagar R$ 14,90 pelo Amazon Prime ou R$ 18,90 em um plano da Netflix com anúncios.

A pirataria é crime no mundo inteiro porque ao longo de séculos a sociedade entendeu que ela traz mais danos que benefícios à sociedade.

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