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Guilherme Ravache

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Esquenta a briga pelo controle do K-Pop e busca por substituto do BTS

Com pausa do BTS, empresa dona da boy band corre às compras para não perder a liderança no K-Pop - Reprodução / Internet
Com pausa do BTS, empresa dona da boy band corre às compras para não perder a liderança no K-Pop Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

19/02/2023 10h00

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O BTS é muito mais que uma banda coreana, eles também são uma potência do mundo corporativo. Quando a gravadora da boy band anunciou em outubro do ano passado que os sete membros do BTS fariam o serviço militar obrigatório na Coreia do Sul, e só retornariam em 2025, foi um choque.

A notícia causou comoção global em milhares de fãs, mas também realinhou os interesses no bilionário negócio do K-Pop. É um mercado gigantesco, a estimativa é que apenas o BTS gere US$ 5 bilhões para o produto interno bruto da Coreia do Sul a cada ano.

Semana passada, duas das maiores empresas de entretenimento da Coreia do Sul começaram uma batalha pelo controle do K-Pop. A líder de mercado Hybe, dona do BTS, e a subsidiária de entretenimento da gigante coreana de tecnologia Kakao, anunciaram acordos para comprar participações na SM Entertainment, uma das principais concorrentes da Hybe.

A Hybe disse que compraria uma participação de 14,8% de Lee Soo-man, fundador da SM, e se ofereceu para comprar outros 25% de acionistas minoritários por um total de 1,14 trilhões de won (R$ 4,7 bilhões). Isso aconteceu apenas alguns dias depois que a Kakao Entertainment concordou em comprar uma participação de 9,05% na SM por meio de uma oferta de direitos e ações conversíveis.

O poder do BTS

O BTS tornou a Hybe líder absoluta do K-Pop, mas a pausa da banda para o serviço militar colocou a dominância em risco. O mercado vê o movimento como uma tentativa para seguir no topo enquanto o BTS estiver parado.

Quando a Hybe abriu o capital em 2020, o BTS respondia por quase 90% de sua receita. A empresa fez uma série de aquisições nos últimos anos para diversificar a receita. Uma delas foi a compra da Ithaca Holdings, que cuida de Justin Bieber e Ariana Grande. Mas o BTS ainda representava cerca de 60% a 65% da receita no ano passado.

A Kakao também está interessada na compra da SM porque quer adquirir o conteúdo antes das empresas se juntarem, o que poderia implicar em preços mais altos para as músicas e shows que disponibiliza em suas plataformas digitais.

A SM tem no cast artistas de peso do K-Pop como TVXQ, Super Junior, Girls' Generation, J-Min, Shinee, Zhou Mi, Exo, Red Velvet, NCT, WayV, SuperM e Aespa.

Drama na SM Entertainment

Mas a SM Entertainment vive um drama interno. O controle de seu fundador septuagenário Lee Soo-man enfraqueceu após uma campanha bem-sucedida de acionistas ativistas que conseguiram aumentar o controle sobre as finanças da SM. Mesmo sem trabalhar na empresa ou ter qualquer cargo, Lee recebia milhares de dólares por meio de uma subsidiária.

Lee é uma figura controversa. Ex-cantor de folk que estudou engenharia da computação na Califórnia, ele possui 18,4% da SM Entertainment. O executivo é visto como um dos criadores do K-Pop, mas também teria contribuído para o surgimento de uma cultura de assédio na indústria.

Lee é a favor da venda da SM para a Hybe. Os atuais gestores da SM, liderados pelos investidores ativistas, se opõem. Eles dizem que o preço oferecido é baixo e que o maior beneficiado pelo acordo nos termos atuais seria Lee. Eles também afirmam que a união das empresas poderia ser barrada pelo governo coreano para evitar o surgimento de um potencial monopólio.

Na sexta-feira, Lee, a SM e a Hybe seguiam em uma acalorada troca de acusações na imprensa. O caso só deve ser resolvido no início de março, quando acontece uma votação de acionistas.

Indústria musical virou investimento

A disputa pelo controle do K-Pop não surpreende. A indústria musical se tornou alvo de grandes investidores que encontram no mercado de shows e catálogos de artistas a garantia de retornos seguros mesmo em tempos de crise. A mesma lógica explica a onda de vendas de catálogos de artistas consagrados nos últimos anos. Bob Dylan, The Beach Boys, Bruce Springsteen e Tina Turner negociaram os direitos de seus catálogos por centenas de milhares de dólares.

Dois anos de pausa é um tempo considerável. A Hybe e seus investidores não podem correr o risco de perder dinheiro. Neste momento, buscar um ou mais substitutos para o BTS se tornou inevitável. À medida que o K-Pop segue conquistando o mundo, ninguém duvida que a quantidade de dramas coreanos só irá aumentar, inclusive dentro das empresas de entretenimento do país.

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