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Guilherme Ravache

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

SXSW: Evento começa com recorde de brasileiros e quer entrar no Brasil

Margrethe Vestager, comissária de concorrência da União Europeia, fala no festival de inovação South by Southwest, nos EUA - Jacqueline Lafloufa/UOL
Margrethe Vestager, comissária de concorrência da União Europeia, fala no festival de inovação South by Southwest, nos EUA Imagem: Jacqueline Lafloufa/UOL

Colunista do UOL

10/03/2023 04h00

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Nesta sexta-feira começa uma nova edição do SXSW (South by Southwest). Um dos maiores eventos de inovação e cultura do mundo, ou o maior pretexto do mundo corporativo para passar uma semana curtindo festas, bebendo cerveja e comendo tacos ou briket em Austin, no Texas.

A explicação sobre o que é o SXSW pode variar, o que não muda é a cada edição um novo recorde de brasileiros presentes no evento. Neste ano não será diferente. Serão mais 1.900 inscritos do Brasil, a maior delegação internacional do evento. Esta coluna de Splash estará presente no SXSW deste ano e trará diariamente alguns dos bastidores do que acontece por lá.

Como aponta o colunista da Folha Ronaldo Lemos, que já é figurinha carimbada do festival, uma das possíveis razões do sucesso entre os brasileiros é o fato da diretora de parcerias do festival, Tracy Mann, ser uma brasilianista. Ela é americana, mas morou na Bahia nos anos 1970 e fala português fluentemente.

Apesar do sucesso entre brasileiros, o evento não tem uma edição no Brasil. Interesse dos donos existe, mas segundo conversas no mercado, a maior barreira é a falta de um parceiro local disposto a arriscar. Os custos são avaliados como altos para o país.

A chegada do Web Summit ao Rio, e que acontece em maio, também é um complicador. O festival tem seu principal evento em Lisboa, mas está crescendo rapidamente e desembarcou por aqui antes do SXSW. "Este será o primeiro evento da marca Web Summit fora da Europa e irá destacar cada vez mais o ecossistema vibrante e em rápida expansão", diz Artur Pereira, country manager da Web Summit. "Isso faz parte da expansão geral para novas regiões, incluindo a África e o Oriente Médio nos próximos anos".

Patrocínio milionário e carro voador brasileiro

E o que não falta são brasileiros e empresas brasileiras nestes eventos. A Globo irá realizar um coquetel no SXSW com a presença de alguns de seus principais executivos e convidados. A influenciadora Nathalia Arcuri, que no início do ano demitiu 70 de seus 140 funcionários no Me Poupe, irá a Austin falar sobre "Como os criadores da América Latina geram inclusão e renda".

O Itaú será pela primeira vez um dos principais patrocinadores do SXSW. O banco está lançando uma plataforma de inovação e viu no evento uma oportunidade de "juntar" as pontas. Além de entrar no SXSW, o Itaú também patrocina o WebSummit Rio.

"Durante o SXSW vamos oferecer à audiência latino-americana a tradução simultânea das principais apresentações (keynote) para português e espanhol e após o festival vamos levar esses conteúdos para outros públicos, em diferentes regiões do país, por meio de eventos e apresentações", diz Renato Haramura, superintendente de marketing do Itaú. "A presença do Itaú em dois dos principais eventos de inovação do mundo, sob o ponto de vista da comunicação de marca, é estratégica para posicionar o banco como instituição que fomenta a inovação e novas tecnologias para a geração de oportunidades de negócios".

O SXSW não deixa de ser uma grande vitrine. A Eve Air Mobility, empresa que nasceu na Embraer, apresentará o mockup da cabine de seu eVTOL (do inglês, electric vertical take-off and landing vehicle, ou veículo elétrico de decolagem e pouso vertical) em tamanho real pela primeira vez nos Estados Unidos. Será uma chance de mostrar o "carro voador brasileiro" a potenciais investidores e formadores de opinião.

Outra empresa presente em Austin será a Gerdau, que estará pela 1ª vez no SXSW. Além de estrear como parceira do festival, ela irá oferecer um painel sobre inovação e soluções na habitação popular.

"Temos uma importante presença no mercado norte-americano", diz Pedro Torres, líder Global de comunicação corporativa e marca da Gerdau, "nossa participação no SXSW é uma oportunidade de também nos conectarmos ainda mais com a sociedade americana".

Modas, música e Dungeons & Dragons

Se destacar no festival não é fácil. Neste ano Greg Brockman, fundador e presidente da OpenAI (ChatGPT), e a futurista Amy Webb estão entre os destaques. No ano passado, as atenções foram para as NFTs, um negócio que minguou e deixou gente como Neymar, que gastou milhares de dólares comprando figurinhas digitais, no prejuízo.

Neste ano, inteligência artificial e ChatGPT são temas recorrentes. No SXSW até auto-ajuda ganha um viés futurista no debate "Empatia operacional: como a IA mudará a consciência humana e acelerará a inteligência emocional".

Transcender a morte é outro tema recorrente no evento. Há quem queira fazer isso por meio da alimentação aliada à ciência ou até virando árvore. A Transcend é uma empresa de enterro verde que está plantando pessoas (e animais de estimação) como árvores quando elas morrem como um meio de reflorestar o mundo.

Além de oferecer uma alternativa de carbono negativo para caixões e cremações, eles também são os primeiros a criar um modelo de impacto acelerado para incentivar o planejamento futuro.

Para cada enterro de um cliente, a Transcend planta 1.000 árvores nativas em projetos globais de reflorestamento. A empresa é apoiada por nomes como o cineasta Darren Aronofsky e o investidor bilionário Josh Kushner.

O festival traz ainda dezenas de shows com mais de 300 artistas de todas as partes, estreias de filmes e até um festival de comédia. Tem até tapete vermelho com direito a astros de Hollywood se misturando aos ícones do Vale do Silício.

A Paramount fará a premiére de "Dungeons & Dragons: Honra entre Rebeldes" no SXSW. O lançamento do filme inspirado no jogo popular entre os jovens nerds é um dos mais aguardados.

De origem humilde a negócio de milhões

O SXSW, ao nascer em 1986, já apontava para o crescente domínio das empresas de tecnologia na cultura global.

A Amazon terá o espaço "Prime, Texas", onde promoverá debates e lançará seis produções do Prime, sua plataforma de streaming cada vez mais onipresente nos lares do mundo todo.

Durante a pandemia o SXSW quase quebrou. O festival foi cancelado dias antes do início e o seguro não previa uma pandemia. Um empreendimento operado pela Penske Media, que publica revistas como Rolling Stone, Billboard e Variety, comprou uma participação de 50% do SXSW.

O SXSW começou como um festival de música local e desde então se expandiu para cinema e tecnologia. Segundo os organizadores, o evento injeta US$ 355 milhões na economia de Austin.

O festival gera cerca de US$ 100 milhões em receita todos os anos por conta própria e foi lucrativo nos 10 anos antes do cancelamento na pandemia. Não deixa de ser irônico que um dos maiores eventos de inovação do mundo seja controlado por Jay Penske, herdeiro da Penske, empresa que fez fortuna com carros, caminhões, corridas e foi fundada por seu pai, o bilionário Roger Penske.

A coluna enviou uma mensagem à assessoria de imprensa do SXSW pedindo mais informações, mas até o momento não obteve retorno.

Um festival de contradições

Não faltam contradições no SXSW. O Brasil não está nem entre os dez países mais inovadores do mundo, e na América Latina, está atrás do Chile no ranking Índice Global de Inovação 2022. Mesmo assim, é o maior participante internacional de um evento de inovação como SXSW.

Além disso, em um momento no qual o mundo parece cada vez mais digital, a elite da inovação ainda prefere se encontrar pessoalmente.

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