Helio de La Peña

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Opinião

Cheguei aos 65 crocante e com mais remédio que comida nas refeições

Dia 18 de junho de 2024 foi um dia histórico. Não para você, nem para o Brasil, mas para mim. Nesta data, completei 65 anos e passei a ser considerado, legalmente, um idoso.

Desde os 60 me considerava um velho aprendiz. Agora não tem mais jeito. Cumprido o estágio probatório, sou de fato um velho.

Falei com meus filhos: "Agora, eu sou vintage".

Aí um deles disse: "Você não é vintage, você é cringe".

Perguntei: O que é cringe?

É quem não sabe o que é cringe.

Não tem o termo trintei, quarentei, cinquentei? Pois é? Acho que eu "cringei".

Quando eu era garoto, uma pessoa de 40 anos já era considerada velha. Aos 50, era muito velha. Aos 60, já estava na cadeira de rodas sendo levada para assinar um empréstimo em banco.

Minha inspiração da longevidade vem dos meus ídolos da música. Caetano, Gil estão com 81 anos. Ben Jor bateu 85 anos em março. Todos ativos, rodando o mundo fazendo shows.

Tem gente que costuma esconder a idade. Glória Maria, por exemplo, que me presenteou com o personagem Chicória Maria no Casseta, partiu sem que os fãs soubessem exatamente quantos anos ela tinha.

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Eu acho bobagem. Tenho orgulho dos meus 65 anos. Até porque isso não me impede de fazer nada. Pelo contrário, muita coisa comecei a fazer justamente depois de velho.

Quando o Casseta e Planeta saiu do ar em 2012, eu estava com 53 anos. Não foi o fim do mundo. Pelo contrário. Depois de uma carreira estabelecida na TV, decidi iniciar novo ciclo.

Passei mais de 30 anos trabalhando em equipe e resolvi partir para uma carreira solo. Participo de filmes e séries, escrevo livros e, recentemente, criei um solo de stand-up e estou rodando o Brasil. É o "Preto de Neve".

No tempo do programa, tinha uma rotina sob controle. Agora aos 65, não faço ideia de que cidade estarei na semana que vem.

Não chego a dizer por aí que estou na melhor idade. Acho isso cringe. Chamar de "melhor idade" é uma tentativa de enganar os velhos como se a gente fosse criança.

Aliás, se tem uma coisa que irrita velho é quando ele é tratado feito criança. Quando a fisioterapeuta fala: "Vamos esticar a perninha". A enfermeira diz: "Dá-me o bracinho para aplicar a injeção. Não vai doer nada".

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É verdade que a gente vai virando criança. A altura diminui, temos que obedecer aos filhos, ficamos teimosos, malcriados e se vacilar ainda molhamos a cuequinha?

Eu me toquei que estava ficando velho um dia no café da manhã, quando reparei na mesa e tinha mais remédio que comida. Remédio para pressão, para colesterol, para incontinência urinária, remédio para dor. Eu nem estava sentindo, mas uma hora vou sentir. É remédio para memória... para no mínimo me lembrar desses remédios todos.

É uma fase que você acorda feliz porque a cervical não tá doendo. Quando levanta, percebe que a dor migrou para lombar. Se a lombar está ok, é porque ela passou para o joelho. Se você não está sentindo nada, pela lei de Murphy, não é que você esteja saudável. É que você não procurou direito.

E por mais que eu brinque, a verdade é que a idade não é nenhum desespero, desde que você se cuide. No meu caso, tenho uma vantagem genética que herdei dos meus antepassados e consegui passar para os meus filhos.

A cabeça tem que estar sempre funcionando. Lendo, trabalhando, aprendendo coisas diferentes. Eu me renovo fazendo shows pelo Brasil com gente que tem idade para ser meus filhos. É importante se manter curioso, interessado na vida, se dispor a encarar desafios.

Mas olha, sem essa de sair da zona de conforto. Conforto é muito bom. E eu sei que eu tenho pouco tempo para curtir isso daqui em diante.

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Quando completei meio século de vida, mais conhecido como 50 anos, pensei que naquele momento estava começando a segunda metade da minha vida. E que se não me cuidasse, a segunda podia ser bem mais curta que a primeira. Para isso, me manter ativo tem sido fundamental.

Sendo meu aniversário, eu mudei a rotina. Em vez de ir puxar conversa na fila do banco como um bom velho, fui conversar com a Alexa e com o Chat GPT. Eles me explicaram que, segundo o IBGE, um brasileiro nascido em 1959 tinha a expectativa de vida de 55 anos.

Ou seja, eu já devia estar morto. Um brasileiro que nasce em 2024 tem a expectativa de viver 77,5 anos. Já uma brasileira pode viver em média até os 81 anos. Os tempos mudaram e as contas são outras.

De qualquer forma, a previsão é que a mulher viva mais. Para não deixar a Ana viúva por muito tempo, tenho que correr, ou melhor, nadar atrás do prejuízo. Exercícios físicos espantam as dores e a flacidez.

Então resolvi praticar um esporte, já que não tinha saco pra academia. Escolhi a natação no mar. Abracei o esporte aos 50 e hoje eu sou um humorista de águas abertas. Nado com regularidade em treinos de 2 a 3 km pelo menos três a quatro vezes por semana.

Mesmo no frio eu vou nadar no mar. Quem não tá acostumado não consegue entender como alguém tem prazer em ficar tanto tempo dentro de uma água fria como a das praias do Rio. Lógico que dá uma preguicinha sair debaixo das cobertas num dia chuvoso. Nunca me arrependi de ter ido nadar. Mais fácil me arrepender de não ter ido!

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Agora, eu não tive sempre essa intimidade com o mar. Quando tinha vinte e poucos anos e ainda morava no subúrbio da Vila da Penha, bem longe do mar, já adorava ir à praia. Mas ficava na areia batendo papo e tomando cerveja, só ia na água para me aliviar?

Hoje a coisa mudou bastante. Assim que completei 60 anos, garanti o "cartão de idoso". Quando vou de carro para Copacabana, estaciono na vaga que me é de direito, entro no mar e nado 3 quilômetros até Ipanema.

Caramba! Estava falando de como é vida de velho, de repente comecei a falar de nadar no mar e esqueci qual era o assunto. Um dia eu falo só sobre isso. É um assunto apaixonante. Além disso, a partir de uma certa idade, a memória é um problema sério? O quê? Eu já falei sobre isso? Já fiz essa piadinha em outra coluna? É? É o que eu estou dizendo?

Inclusive, achei o máximo me tornar colunista. Esse nome me remete a alguém que tem notório saber sobre as dores da coluna. Meu caso. Eu me sinto um quiroprata da língua portuguesa. Principalmente quando meu corpo começa a se manifestar em onomatopeias de corpo crocante.

É você? Como é que você se vê lá na frente? Conta para mim, algum medo? Alguma curiosidade? Pergunta aqui. Eu respondo para você.

65 anos! Finalmente vou poder viajar de graça em ônibus e metrôs! E sentado porque agora, além de lugar de fala, eu tenho "assento de fala". Ou melhor, "lugar de assento".

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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