Helio de La Peña

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Opinião

Sobrou até pro Paquetá: entre Bet e Jogo do Bicho, todos querem é apostar

Já dizia o cantor Luiz Ayrão: depois do avião, a melhor invenção foi o jogo do bicho.

Todo final de ano é a mesma coisa. Brasileiros e brasileiras enfrentam filas enormes para fazer uma fezinha na famosa Mega Sena da Virada.

Até bem pouco tempo, essa era a única forma de manter viva a nossa ilusão de ficar milionários da noite pro dia.

De 2020 pra cá, essa realidade mudou. Os jogos on-line, mais conhecidos como Bets, tomaram conta do país.

Para dar uma bicada nessa gorda fatia de dinheiro das apostas, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado está correndo atrás.

Já aprovou a legalização dos jogos de azar, que obviamente vão pagar impostos para alimentar a máquina pública.

Os jogos ainda não estão liberados. Falta passar pelo plenário do Senado e pela sanção do presidente Lula.

A discussão está acalorada. Muitos são contra, muitos a favor.

Quem é contra desenha famílias destruídas e o crime organizado lavando mais dinheiro do que nunca.

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Quem apoia afirma que o jogo vai gerar milhares de empregos e muita, mas muita grana de arrecadação.

E aí, quem tem razão?

No Congresso, existe uma resistência grande da bancada evangélica contra a legalização das apostas.

Muitos pastores usam dogmas religiosos como justificativa, mas a verdade é que existe uma ameaça da concorrência, já que o dízimo dos fiéis poderia escoar para a jogatina.

Do ponto de vista clínico, a preocupação é o risco de pessoas adictas (que não conseguem se controlar) levarem suas famílias à miséria.

É uma preocupação justa, mas será que proibir é a melhor forma de evitar uma tragédia?

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Não tenho a ilusão de que não há problemas, porém o saldo me parece positivo.

Centenas de cidades no mundo convivem com as apostas. É uma forma de lazer e a maioria apenas se diverte.

O exemplo maior é a cidade de Las Vegas, que atrai milhões de turistas, gera emprego e é palco de grandes espetáculos.

Temos o hábito de proibir para todos o que pode ser maléfico para alguns. Acho que mais uma vez a solução esteja na educação.

Temos que preparar a população para sua maioridade, e que ela não dependa de um estado agindo como paizão, dizendo o que se deve ou não fazer.

Lembrando que a legalização das apostas não obrigará ninguém a jogar nada.

Dois amigos conversavam na fila da lotérica:

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"Tá sabendo que o jogo vai ser legalizado?".
O outro com a raspadinha na mão respondeu:
"Eu sou contra. Não tem a menor chance disso acontecer."
"Quer apostar?"

O Brasil já teve cerca de 70 cassinos, empregando mais de 50 mil trabalhadores. A "era de ouro" do jogo aconteceu na década de 1930.

O então presidente Getúlio Vargas, para fomentar o turismo e a cultura, legalizou de vez a prática.

Criou impostos de licença para funcionamento dos cassinos e espetáculos artísticos.

Na época, quando o Rio de Janeiro ainda era a capital do país, imperava o badalado Cassino da Urca, onde se apresentavam as maiores estrelas internacionais da época.

Nomes como Glenn Miller, Bing Crosby, Josephine Baker, Grande Otelo e Carmen Miranda.

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Bom, até aqui, eu fiz um apanhado histórico de jogos para a elite.

Se a jogatina fosse pro povão, a pegada era outra: era o Jogo do Bicho.

Mesmo ilegal desde o começo do século 20, continua presente na vida de todo mundo.

Em cada esquina da cidade tem um coroa com um bloquinho e uma caneta na mão anotando a fezinha do pacato cidadão.

A loteria zoológica é antiga. Se você tem até trinta e poucos anos, com certeza não sabe jogar. Eu aposto!

Lembro que minha falecida avó Filó adorava fazer suas apostas.

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Sempre de manhã me perguntava: "Sonhou, meu netinho?"

Quando eu dizia que sim, ela pedia pra eu contar meu sonho.

Ela interpretava e transformava em palpite. No começo, eu não dava muita bola e desconversava.

Mas quando descobri que se o palpite desse certo, ela dava uma "comissão", nunca mais deixei de contar.

E se não tivesse sonhado, inventava, né!

Mas o bicho também pega no jogo do bicho.

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A série documental "Vale o Escrito" tem feito muito sucesso mostrando os bastidores do submundo da contravenção.

Os próprios protagonistas expõem suas riquezas, seu poder e seus crimes.

Enquanto algumas figuras se destacam por serem folclóricas, outras metem medo mesmo depois de mortas.

Na década de 1990, os bicheiros expandiram os negócios lotando as cidades de máquinas caça-níqueis, cassinos clandestinos e outras apostas ilegais.

Aliás, ainda lembro da imagem do Gabigol, em plena pandemia, flagrado escondido debaixo de uma mesa num cassino, tentando evitar a chegada da polícia.

Evidentemente não tiveram dificuldade em encontrá-lo, até porque não iam sair dali sem uma selfie com seu ídolo?

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CALMA, BET!

Hoje o futebol brasileiro é totalmente dependente das casas de apostas online. A grande maioria dos clubes é patrocinada por bets, assim como os campeonatos.

Podemos arriscar tanto no palpite de que time vai ganhar como no número de faltas ou de escanteios.

Virou uma febre entre os torcedores.

Aliás, alguns jogadores resolveram faturar com as bets, manipulando resultados em campo.

Entregam para amigos e parentes que vão forçar uma infração para levar cartão.

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Lucas Paquetá, jogador do time inglês West Ham e da seleção brasileira, foi acusado de forçar cartões amarelos para garantir resultados nesse esquema de apostas de cartas marcadas.

A manobra foi feita de forma bem descuidada. As apostas suspeitas de Lucas Paquetá foram feitas na Ilha de... Paquetá!

Podiam ao menos buscar uma casa de apostas na ilha do Governador ou em Fernando de Noronha, se faziam questão de fazer sua "fezinha" numa ilha sem levantar suspeitas.

O esquema virou um escândalo.

Paquetá perdeu a chance de se transferir para o Manchester City, atual campeão inglês, e pode sofrer uma suspensão de até 10 anos.

Fala, jogador: pra quê que o Paquetá foi se meter numa dessas?

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Eu, particularmente, não gosto de usar minha sorte de bobeira.

Prefiro guardar minha sorte pra usá-la nos jogos do meu Botafogo.

E a sorte de 2023 tá acumulada. Quem sabe não vou gastá-la agora em 2024?

É o "BETfogo" na cabeça! Fica a dica, Textor!

São tantas possibilidades que até a Bete Faria.

Aposto que esse foi meu pior trocadilho.

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E você? Qual a sua opinião? Quer apostar se a maioria vai ser a favor ou contra?

Deixe aqui nos comentários. Ah, e se sonhou com algum bicho, deixe aqui também.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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