Helio de La Peña

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Opinião

Qual o verdadeiro X da questão na briga entre Musk e Alexandre de Moraes?

Depois de 39 dias fora do ar, podemos ser cancelados de novo!

Afinal, qual é o X da questão? A rede social foi suspensa no país depois de uma queda de braços entre Elon Musk e Alexandre de Moraes. De forma inédita, a plataforma foi tirada do ar dia 30 de agosto.

Tudo começou quando o X se recusou a excluir conteúdos que, segundo a Justiça, faziam ataques à democracia. A empresa foi multada. Elon Musk não só desobedeceu, como cumpriu a ameaça de não pagar a multa e fechar seu escritório de representação no Brasil.

Dia 18 de setembro, Elon Musk ainda agravou a situação ao tentar driblar o bloqueio do X. Ao constatar a manobra, uma multa diária de R$ 5 milhões foi aplicada.

Antes de discutir quem tem razão, quero levantar o ponto de vista de usuário.

Em 2009, criei um perfil por lá, @lapena, para me aproximar dos meus fãs. Também servia para testar piadas, conseguia saber a opinião do público sobre os mais diversos assuntos, dava para divulgar meus trabalhos e ainda ficava em dia com as fofocas.

O uso permanente no Twitter me levou a conquistar mais de 2 milhões de seguidores, me tornando assim uma voz relativamente relevante, sobretudo quando se tratava de humor e do meu Fogão.

Outro uso da plataforma foi a defesa do consumidor. As empresas prontamente atendiam aqueles que reclamassem na rede social. Redes de telefonia e companhias aéreas até hoje são as campeãs de reclamação. Infelizmente, com a evolução da tecnologia de atendimento robotizado, veio a frustração de nós, clientes reais. Pior que as bets, são os bots.

Em tantos anos de experiência como tuiteiro, 2010 me marcou bastante. O Rio de Janeiro passava por um período de extrema violência, devido à guerra entre gangues do tráfico. O governo estadual decidiu implantar UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora).

A troca de tiros constante provocou uma grande quantidade de vítimas de balas perdidas, muitas delas fatais. A partir de um certo momento, os repórteres não conseguiam mais circular no morro para informar o que se passava.

O Jornal Nacional passou a ter como fonte o perfil da Voz das Comunidades, o único meio de se ter notícias do conflito. Renê Silva, na época com apenas 16 anos, virou um porta-voz internacional e sua Voz das Comunidades ecoou pelo planeta, que acompanhava estarrecido a brutalidade.

Em 2022, Elon Musk comprou o Twitter por US$ 44 bilhões e fez uma série de mudanças, para reformular a plataforma à sua imagem e semelhança. Promoveu demissões em massa e adotou uma nova marca —X. Seu objetivo principal era intensificar o uso político, dando mais espaço para aqueles com quem o empresário tinha maior afinidade ideológica.

Donald Trump nos Estados Unidos e Jair Bolsonaro no Brasil foram dois dos beneficiados com as mudanças. Em nome de uma suposta bandeira da liberdade de expressão, permitiu a livre disseminação de fake news, discursos de ódio e ataques a adversários políticos.

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A atitude entrou em rota de colisão com a Justiça brasileira que exigia que a plataforma moderasse conteúdos, bloqueando perfis que divulgassem mensagens de ódio e que promovessem ataques às instituições oficiais e à democracia do país.

Elon Musk reagiu acusando Moraes de atitudes ditatoriais. Ao se recusar a pagar as multas e a controlar os perfis em questão, Musk bateu de frente com Moraes que, numa atitude impositiva, ordenou o bloqueio da rede no país e congelou os ativos da Starlink, outra empresa de Musk, até que as ordens judiciais fossem cumpridas.

Vinte milhões de pessoas, que nada haviam feito de errado, da noite para o dia, se viram prejudicados pela medida, sem terem a quem recorrer.

As opiniões no país se dividiram. Parte do público deu razão a Moraes, vendo o juiz como defensor da soberania nacional. Outra parcela dava razão a Musk na sua cruzada pela liberdade de expressão. Vejo exageros em ambas as partes.

A suposta liberdade de expressão implicava em permitir a livre circulação de notícias falsas, assim como mascarava o descumprimento de medidas básicas, entre elas, a existência de um escritório de representação para o funcionamento da empresa no país.

Por outro lado, o bloqueio de contas bancárias da Starlink, outra companhia com os mesmos sócios majoritários, provocou uma insegurança jurídica ao criar um precedente perigoso para os negócios. Serviços de uma empresa em dia com suas obrigações poderiam ser prejudicados com a medida. Sem falar nos consumidores, que acabaram pagando por algo que não fizeram.

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Ao perceber que não ganharia a queda de braços, o empresário cedeu, nomeou um representante legal no país, pagou as multas e bloqueou os perfis acusados de tentativa de golpe. O X voltou a funcionar.

Alexandre de Moraes pode se declarar vencedor da batalha, já que todas as suas exigências foram cumpridas para a reabertura da plataforma.

Mas o consumidor ficou ressabiado, ao ver que o seu direito de uso de um serviço pode ser usado como moeda de troca quando há uma chamada briga de cachorro grande.

E, você, o que acha de disso tudo? Na sua opinião, quem tem razão? Conta pra mim.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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