Helio de La Peña

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Opinião

Sertão do Cariri repatria filhos esquecidos de um 'Sul maravilha' em crise

Só deixo o meu Cariri no último pau de Arara.

Resolvi tirar uns dias para conhecer o sertão do Cariri paraibano e me deparei com minha ignorância sobre o Brasil profundo.

O sertão nordestino é sempre descrito como um lugar pobre, cheio de carências, com uma seca inclemente que impede qualquer tipo de vida. Não foi o que vi nesta viagem. Conheci um povo talentoso na música, na poesia, no artesanato, na culinária. Um povo bom de conversa, com histórias divertidas e muito produtivo.

Minha ideia aqui é fazer uma pequena introdução e, futuramente, entrar em detalhes e contar mais coisas.

O Cariri ganhou esse nome devido à tribo dos Kariris que ocupou o agreste nordestino, tendo como uma base forte a Serra da Borborema, na Paraíba. O agreste é a região de transição entre a zona da mata litorânea e o sertão. Sendo mais alto, é mais fresco (ou menos quente), ali a chuva é menos escassa que na caatinga.

O estilista Ronaldo Fraga, que cria suas peças inspirado na cultura popular e achou que não podia deixar tudo aquilo em segredo. Se juntou a dois jovens paraibanos, os irmãos Pablo e Thiago Buriti, que fundaram a agência Que Visu, para levar turistas para as belezas do sertão nordestino.

Helio ao lado de Ronaldo Fraga e Ana
Helio ao lado de Ronaldo Fraga e Ana Imagem: Arquivo Pessoal

Ronaldo começou juntando alguns amigos. O pequeno grupo espalhou a novidade, como um esquema de pirâmide do bem. Em apenas quatro anos, 23 expedições foram realizadas, não só para o Cariri paraibano, como para outras partes do sertão e do interior do Brasil. É outra visão do país, já que o viajante está habituado a passar suas férias no litoral.

Fiquei impressionado com a paisagem do Cariri, como o Lajedo do Marinho e o Lajedo do Pai Mateus, onde grandes pedras roliças parecem prestes a rolar ladeira abaixo.

A viagem não se limita a visitar lugares e conhecer belas paisagens. O sertão também tem sua Roliúde. Cabaceiras é cenário para diversas produções cinematográficas. Filmes como o "Auto da Compadecida", séries como o "Cangaço Novo" são realizadas nesse polo.

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A população aprendeu a viver do cinema, oferecendo serviços e produtos, assim como faz o trabalho de figuração e elenco de apoio.

A gente entra em contato com artistas e empreendedores das mais diferentes áreas. Nos deliciamos com os sabores da terra no Memorial do Cuscuz da dona Lia.

Além do cuscuz, a especialidade da casa, saboreamos, carne de sol com macaxeira, o feijão-de-corda e sucos diversos. As crocheteiras do Lajedo do Marinho mostram sua arte produzindo trabalhos maravilhosos.

No distrito do Tabuado, dona Lúcia mostra como maneja o seu tear manual para produzir redes e colchas. Exige uma habilidade com os pés e com as mãos que eu me enrolei todo tentando e quase virei decoração de uma rede.

E como não se impressionar com o polo de renda renascença que é a cidade de Monteiro? Ronaldo Fraga desenha suas peças e encomenda das crocheteiras e rendeiras, gerando emprego e renda para a região. A história dessa renda tem origem na Itália no século 15 e Monteiro se tornou um dos polos produtivos desse trabalho.

O Cariri é um mundo de oportunidades. Eu me impressionei com a transformação da economia local, promovida por essas atividades somadas ao turismo inovador que traz consumidores que fazem a roda da fortuna girar no sertão.

A prosperidade da região inverteu a mão da migração. Filhos que mudaram para o Sul maravilha em busca de uma vida melhor estão voltando para trabalhar nos negócios da família.

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A cultura brota nas ruas. O povo é hábil nos instrumentos. É poético e versador. O Cariri é muito mais que isso. Minha ideia é deixar vocês com um gostinho de "quero mais".

Em breve retomarei esse tema. Vale muito conhecer novas paisagens, provar novas comidas, consumir a arte popular e entender por que o sertanejo tem tanto orgulho do seu Sertão.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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