O que a morte da atleta Walewska Oliveira tem a nos ensinar
A morte da atleta Walewska Oliveira, jogadora de vôlei e medalha de ouro nas Olimpíadas de 2008, acendeu a luz vermelha que ninguém de nós gosta de ver acesa: o perigo que mora ao lado. Às vezes as pessoas mais frágeis e necessitadas estão bem juntinho, ao lado. E o pior é que a gente nem percebe que o cenário é esse e que a tragédia é iminente.
Ver uma mulher de sucesso, bonita, aparentemente tão cheia de si faz a gente entender cada vez menos sobre o que é a vida. Temos de falar sobre isso. E temos que falar sobre morte.
Fica difícil entender e dá medo, muito medo. Uma mulher de família com pai, mãe, irmão e o marido. Uma carreira vitoriosa. Um apartamento num dos bairros mais nobres de São Paulo e tudo isso resultou no que a gente viu. Algumas questões surgem logo de cara: como afinal uma mulher aparentemente tão realizada em tantos setores chega a esse ponto? Também ouvi falar bastante da sobrecarga a qual as mulheres sistematicamente têm sido submetidas. Quem espera que uma atleta desse porte, dessa envergadura fosse frágil? Acho que a gente deveria rever nossos valores e começar a perceber que por princípio todos nós somos frágeis, alguns menos e outros muito mais.
Isso chama atenção para que a gente reveja também nossos procedimentos e comportamentos de rotina. Afinal, como essas coisas ainda acontecem sem que ninguém por perto perceba qualquer sinal? Pois é, muitas vezes acontece mesmo e sem qualquer possibilidade de uma percepção mais acurada. Daí a importância dessas campanhas como a do Setembro Amarelo, por exemplo, que tenta alertar justamente para esses casos de depressão às vezes imperceptíveis. Todo cuidado parece pouco e uma das ferramentas mais importantes é olhar para quem está à nossa volta, mas um olhar de verdade, profundo, atento. A
dificuldade de entender, notar ou perceber por que essas coisas acontecem é grande.
Não é à toa que cada vez mais escritores e pensadores têm escrito, têm se debruçado sobre essa questão do luto. Não sei se a pandemia reforçou essa necessidade, assim como reforçou nosso medo em relação a tragédias e principalmente à morte. A médica Ana Claudia Quintana Arantes escreveu um livro que fala que a morte é um dia que vale a pena ser vivido. Sugere que esse é um excelente motivo para se buscar um novo olhar sobre a vida. Ela aborda o tema da finitude, que tanto nos assusta, mas alerta que o que deveria nos assustar é a possibilidade de chegarmos ao fim da vida sem ter aproveitado, de não termos usado a nossa vida da maneira como gostaríamos.
O psicanalista Christian Dunker escreveu sobre o tema, em "Lutos finitos e infinitos", vendo a questão sob outros ângulos e aspectos, de uma maneira histórica em diferentes tempos, uma coisa mais filosófica e ética, enquanto o poeta Fabrício Carpinejar acaba de lançar "Manual do luto", um olhar sobre as dores do mundo.
Com certeza tem alguma coisa no ar para fazer todas essas cabeças privilegiadas focarem nesse mesmo tema quase ao mesmo tempo.
Essa é uma questão. Esse é um medo, um grande medo. Some-se a isso o fato de os assuntos do coração ainda mexerem muito com as mulheres, principalmente aquelas que mesmo não parecendo são mais frágeis. Não me atrevo a discutir sobre suicídio, depressão e outras patologias, não é minha área. Mas posso dizer que se cada um de nós conseguir olhar um pouco mais para quem está do lado, talvez algumas tragédias possam ser evitadas e talvez a gente ainda possa fazer mais pessoas felizes. Vivas.
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