A bilionária, o namorado, o mordomo... (e muita confusão envolvida)
"A Bilionária, o Mordomo e o Namorado": esse é o título de uma série-documentário das mais interessantes do momento na Netflix, de apenas três episódios. Fala, no final das contas, sobre vida de rico. Mas não exatamente rico e sim bilionário, quaquilionário, na verdade, a mulher mais rica do mundo: Liliane Bettencourt, herdeira do fundador e maior acionista da L'Oréal, maior marca de cosméticos do planeta.
Vida de rico sempre atraiu atenção, sempre rendeu comentários e audiência. Uma coisa meio sonho, casas tipo castelos, carros incríveis, obras de arte, muitos funcionários em volta fazendo tudo e até ilhas privadas em Seychelles. Tudo isso tem muito charme, certo? Quem não gostaria?
Mas a história também mostra que raramente esses mesmos ricos são felizes. Aliás, eles costumam ser bastante infelizes e frustrados. Pode parecer sacrilégio, mas a vida dos muito, muito, muito ricos não me causa inveja. Ter mais dinheiro, sim, sempre é bom e facilita muito a vida em vários aspectos. Mas pelo que eu tenho acompanhado tanto na ficção quanto na vida real, esse tal dinheiro a mais, um excesso dele, mais atrapalha do que ajuda.
Veja a vida de madame Bettencourt: um casamento com um empresário e político francês, que ao que tudo indica, não gostava de mulheres. Uma filha única com a qual tinha dificuldade de lidar.
Um batalhão de 20 funcionários na enorme casa em Paris, um administrador de sua fortuna, um advogado, um copeiro próximo e, finalmente, um cara tipo sanguessuga, interesseiro que ficou próximo dela por pelo menos dez anos, fazendo tudo ter mais graça, tirando ela da depressão e a levando para eventos, galerias de arte, festas e viagens: esse era François-Marie Banier, que passou esse tempo surrupiando uma grana brava de suas abastadas contas bancárias espalhadas pelo mundo. Também ganhou altos quadros, barcos e até a tal ilha batizada de Arros, em Seychelles.
Eu pessoalmente cada vez gosto mais de documentários no streaming, gosto dessas histórias reais contadas e mostradas com detalhes por meio de pesquisas e entrevistas. Como já dizia a autora de novelas Glória Perez, a ficção nunca consegue chegar no nível de loucura que é a realidade.
Liliane já é uma senhora de idade avantajada quando esse tal espertinho se aproxima dela. Ele é envolvente, divertido. Que viúva não gostaria de ter um acompanhante desses para alegrar a vida e a carregar para cima e para baixo? A conta sempre sai caro, mas no final do terceiro episódio, quando ela já está velhinha, foi entrevistada por um repórter que arranca dela a confissão de que tudo valeu a pena, as altas somas, os milhões de euros que ela gastou com François.
Ela pergunta para o repórter se ele não faria o mesmo se tivesse muito, muito dinheiro. Perguntou também ao mesmo repórter se ele achava que ela estava errada. Difícil não concordar.
A trama passa também pela política envolvendo Nicolas Sarkozy e dinheiro de campanha. É muito baseada também na relação difícil de Liliane com a filha Françoise, casada, com dois filhos grandes — a esta altura, hoje, trabalhando na L'Oréal.
Na série, a gente acompanha desde o surgimento desse senhor malandro na vida de Liliane até o julgamento dele, que eu não vou contar para não estragar a história. Tudo muito saboroso e que faz a gente pensar como a vida de rico, além de custar caro — mas isso não é problema -traz muita coisa ruim junto.
Parece que a viúva rica só foi realmente feliz no tempo em que ela tinha esse par constante e mega malandro a seu lado. Eu digo malandro por que no último episódio a gente fica sabendo que ele já tinha um histórico semelhante com outra ricaça, muito tempo atrás. Malandro de carteirinha, mas deu uma graça todo especial à vida dessa milionária triste, mal casada e com uma filha única com quem nunca se deu bem.
"A Bilionária, o Mordomo e o Namorado" envolve boa parte do grand monde francês, ricos, políticos e empresários. Tem três episódios e estreou há pouco na Netflix. Se eu fosse você, assistiria. Explica muito da alma humana. E de lambuja faz a gente dar graças a Deus por não ter todo esse dinheiro.
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