Luísa Sonza, aguente firme: a difícil arte de ser mulher
O ano está acabando e teve como uma de suas marcas a reação de mulheres famosas, profissionais de sucesso que se recusaram a continuar submetidas aos seus homens, empresários, maridos e afins.
Sinto que essa tendência veio para ficar e isso é muito bom. Não sei porque essa onda bateu de novo em mim quando assisti, nesse fim de semana, ao documentário de Luísa Sonza, na Netflix. Sim, tem aquela cara de comercial de TV, característica da produtora Conspiração, mas tem verdade nua e crua, tem pele ruim, cabelo ralo, depressão, Rivotril. Tem namoros que não dão certo, mas tem amizade tipo acampamento e colônia de férias, tem aquela coisa de turma unida e, para não fugir da palavra do momento, tem sororidade.
Devo deixar claro desde o início que gosto muito do trabalho de Luísa Sonza, gosto de suas músicas. Gosto de sua postura e sinto nela um talento de verdade. A questão é que com tudo isso, todo esse sucesso, vem junto a banda podre, nesse caso a baixa autoestima, muito comum nessa geração, e uma carência que parece difícil de ser resolvida.
Por outro lado, Luisa não está esperando isso: ela está psicanalisada, medicada, evoluída. No doc a gente vê que ela era uma pequena estrela desde a primeira infância. Claro, incentivada pelos pais que aparecem em vários momentos da série, assim como sua ex-assistente e uma prima muito próxima.
Fiquei impressionada e surpresa com a maneira como ela compõe suas canções: em grupo, com as amigas e com os boys arranjadores. Mas principalmente colocando na pista sentimentos profundos, medos, angústias e outras coisas mais que se sente na nessa idade — ela tem hoje 25 anos.
As letras são muito interessantes, os arranjos também. Um vídeo, inspirado naquela famosa entrevista que Clarice Lispector deu para a TV Cultura, foi o sinal que um diretor do Rock in Rio precisava para convidá-la para sua primeira apresentação no festival. Ela sempre fez por merecer.
O primeiro dos três episódios foi batizado de "O mundo é um Moinho", título de uma emblemática canção de Cartola. Num outro ela assume ser ela própria sua maior hater. Realmente, Luisa não é uma garota comum, rasa ou óbvia. É intensa, profunda, criativa e parece ter em suas mãos as rédeas de sua vida. Ela escolhe os caminhos assim como os arranjos musicais e os passos de sua carreira.
Decide para onde quer ir, mas sempre com muito sofrimento. Como todas essas meninas superstars, Luisa se sente refém de sua própria vida. E chora, chora muito. Já foi odiada por motivos nem sempre justos, já foi julgada e cancelada. Já se comportou mal e já foi politicamente incorreta: assumiu.
Como toda menina e mulher que deu muito certo na vida, não tem tido sorte no amor. Não me parece que Luisa vá um dia entrar para o cordão de Ana Hickmann e Nayara Azevedo: ela é de outra geração e parece ser bem mais dona do seu próprio nariz, num modelo mais próximo de Anitta, que comanda tudo o que lhe diz respeito.
Tenho falado com pessoas próximas que assistiram ao documentário: todo mundo reconhece o valor de Luísa Sonza e a importância de um documentário desses. Para mim foi entretenimento Foi aprendizado. Foi diversão. Foi lição. Luisa, sei que não é fácil, mas aguenta firme porque está super valendo.
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