Ivete Sangalo, Leo Santana, Caetano Veloso e o jetlag intelectual
Ivete pula, Ivete dança, Ivete tira com os dedos da mão a calcinha que entra dentro do bumbum. Ivete fala palavrão, mexe com o público, corre pela continuação do palco que entra pelo gramado, dá um beijo no marido que estava lá de pé. Ivete é humana, é mulher que dá certo.
Ivete domina a multidão de uma maneira raramente vista, e olha que já vi bastante coisa por esse mundo. Ivete está vestida toda de vermelho, muito brilho, numa alegoria da Timbalada. A maquiagem também tem toques de vermelho, cenário e figurino dos bailarinos, dos músicos, tudo vermelho. Uma apresentação perfeita. Nesse Festival de Verão de Salvador eu assisti ao melhor show que eu já tinha visto dela. Ela está plena, realizada, com controle de sua carreira, de suas finanças e de seus jatos privados. Uma mulher contemporânea que deu certo, muito certo. Ivete tem o público na palma de sua mão. Corpo e alma.
Agora, corta para o dia seguinte.
Direto pra outra força da natureza: o que é Léo Santana? Difícil de descrever, impossível de resistir: ele colocou o mundo todo pra cantar aquelas letras que até Deus duvida. Fez todo mundo dançar, colocar a mão na cabeça, descer até o chão. Ele comanda a turba ensandecida com tranquilidade. Figurino perfeito, cenário, bailarinos. Num festival tão cheio de estrelas, os dois conseguiram o pulo do gato. Os dois. E olha que teve muita coisa boa mesmo. Teve até Caetano Veloso que jurava que ia passar esse mês de férias, esse verão na Bahia, mas acabou apresentando seu show "Transa", uma coisa bem anos 1970, com aquelas canções pré, durante e pós-exílio, bastante herméticas.
A plateia-cabeça fazia cara de êxtase. Tenho que confessar que fiquei bastante atrapalhada saindo de Leo Santana direto para Caetano Veloso sem escalas, apenas cruzando o enorme espaço que levava de um palco ao outro. Só que nem esse trajeto a pé foi suficiente para combater o jetlag intelectual que se apossou de mim. Começa o "Transa" e eu fico perdida no tempo no espaço. No meio de mundos tão diversos, tão representativos do que é este país, eu tenho que aprender a lição. Tenho que aprender a só ser.
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