Joyce Pascowitch

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Opinião

Todos se interessam pelos ricos, mas 'Palm Royale' é entediante até demais

Sempre percebi o interesse das pessoas mais variadas pela vida dos ricos: como eles vivem, do que eles se alimentam, o que bebem, consomem, como se comportam, que drogas usam. Esse interesse vale para quem já é rico e para quem não é, para quem nunca foi, para quem sonha em ser ou para quem não está nem aí. O fato é que se trata de um assunto que atrai atenção.

Esse tema surgiu para mim ao assistir na Apple TV alguns capítulos do seriado "Palm Royale", que trata da vida de abastados de verdade, outros de mentira, todos estabelecidos no pedaço da Flórida onde eles reinam, pintam e bordam: Palm Beach. Mesmo que eu me interesse por esse tema também, me incluo nesse time, tenho que admitir que a série é de uma chatice única.

A produção, figurino, trilha e a direção de arte são perfeitas assim como as atuações, mas o roteiro não segura. Não apenas porque a vida deles é entediante de verdade (a de Jay Gatsby e Daisy Buchanan também era de uma certa maneira e a história deles é incrível, no livro e no filme "O Grande Gatsby"). Enquanto isso, em "Palm Royale", tudo gira em torno de senhoras do high society local disputando espaço por meio de eventos benemerentes e figurinos deslumbrantes.

Enquanto as tais senhoras das tradicionais famílias dos ricos locais têm casos com professores de tênis e outras coisinhas mais, a novata que chega à cidade sedenta de poder tenta se encaixar de todas as maneiras nesse mundinho cheio de experiências nada a ver. Para se dar bem, ela rouba joias e bolsas de grife — ultrapassadas, diga-se de passagem — de uma tia que vive em estado vegetativo. Umas ela apenas pega e devolve, outras vende para conseguir uma grana enquanto seu marido trabalha numa companhia aérea e vive literalmente no ar.

Nem sempre a vida de rico foi mal explorada no streaming. Se desta vez, nessa série tão aguardada e bastante decepcionante, a coisa não rolou, várias outras tentativas que se apoderaram desse universo e deram muito certo, como "The White Lotus", cuja segunda temporada mostrou em grande estilo os ricos entediados em hotel de luxo na Sicília. Foi perfeito, a vida deles como ela é. Com toda aquela opulência e aquela fragilidade?

Já em "Succession", mega premiada assim como "The White Lotus", também deu muito certo, apesar de lá os megarricos serem muito mais ricos e quererem matar uns aos outros, mesmo sendo irmãos, pais e filhos. Sim, dinheiro nessa quantidade, jatos executivos enormes, barcos no verão europeu e casas espalhadas mundo afora, tudo isso deve ser muito complicado e inclui, claro, essas intrigas todas.

Enquanto isso, na série "The Swans" — que só apareceu por aqui por enquanto em opções ou difíceis de conseguir, ou piratas —, que mostra a vida de Truman Capote, escritor de língua afiada e o rei dessa turma toda, a gente também vê bem o que é ser rico. Nesse caso, são as mulheres dos ricos, seus almoços em torno do amigo gay, escritor inteligente com humor ácido e extremamente sem caráter. Está aí uma série onde aprendemos muito sobre essa gente tão rica, sobre todas essas coisas que eles vivem, fazem e das quais com certeza eles não deveriam se orgulhar.

Sob outro olhar, fica ainda aqui o registro do papa desse mundo: Dominick Dunne, repórter especial da revista Vanity Fair, especializado em crimes e alta sociedade. Ele escreveu vários livros, era um expert no assunto, um verdadeiro repórter investigativo com um texto primoroso. Seus livros eram um prazer e justamente em função disso a gente vê que esse tema já foi muito mais bem tratado em outros tempos.

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Drinks, drogas, adultério, bolsas de grife, roupas exuberantes, casas cinematográficas, carros ostentação são o pano de fundo para frustrações e vidas vazias. Vale para ver no cinema e no streaming. Concorda?

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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