Joyce Pascowitch

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Opinião

'Amor Traiçoeiro': amor heterodoxo, cenário de sonho e clichês

Até agora não sei dizer se a série "Amor Traiçoeiro", da Netflix —que no original italiano se chama "Engano" e aí sim faz todo sentido—, é boa ou é ruim.

Boa na verdade não é, porque é cheia de clichês e de obviedades. Mas difícil ser ruim com uma atriz dessas, Monica Guerritore, e com um cenário desses, a costa amalfitana, uma das mais lindas do mundo. E, principalmente, com uma mulher, Gabriella, que se torna ciente de que está caindo na lábia de um malandro de carteirinha, Elia, que além de lindo é gostoso, tem um corpão e entende do assunto.

Gostei de ver essa mulher, mesmo frágil, estar consciente não só de suas limitações mas também da gelada em que se meteu. Vítima das sensações e da relação que está vivendo, ela mesmo assim resolve continuar.

Agora eu explico melhor: a história começa com o aniversário de 60 anos da personagem principal, com filhos e netos em volta no seu hotel em Positano, olhando para o mar e vendo um belo homem nu pulando no mar para nadar. Na hora, ela já sentiu aquele calafrio, aquele frisson que qualquer uma de nós, mulheres, sentiria. Depois, quis o destino que os dois se encontrassem na rua, ela com o cachorrinho que havia acabado de ganhar de presente do filho, e ele, com seu jipe enguiçado. E aí? Bingo! A história do romance começa aí. Tem de tudo no caminho dos dois: do lado dela tem um filho mal casado, gay no armário, que tem um caso com um policial. Tem uma filha influenciadora digital que vive fazendo plásticas e tem um filho de sexualidade fluida que pra piorar tudo, desenvolve uma paixonite pelo namorado da mãe. Do outro lado ainda tem o ex-marido, casado com a melhor amiga da ex, uma advogada de renome.

Tem um cachorrinho da raça corgie, a mesma dos pets da rainha Elizabeth. E tem paisagens deslumbrantes e tem também o mar?.

A série tem bastante lugares comuns tipo uma ex-namorada do malandro que aparece grávida, tem negócio suspeitos em Ibiza e por aí vai. O rapaz não cansa de aplicar golpes e arrancar dinheiro da namorada rica, mas de vez em quando, ele pinga uma pulseira, muitos beijos e sexo gostoso.

Uma das coisas que me atraiu nessa série foi o comportamento da protagonista. Ela entende e sabe muito bem que está sendo enrolada, enganada, ludibriada, usada pelo namorado 171. Ela tenta se separar dele mas ao olhar seu mundo em volta, sua família, filhos, ela acaba voltando para ele. A gente poderia pensar que ela é ingênua ou boba de se deixar levar assim, mas nenhum desses dois adjetivos se aplica aqui: de boba ela não tem nada. Apenas Gabriella chega à conclusão que isso, ou melhor, esse cara a deixa feliz de uma maneira que ninguém mais consegue. Ninguém e nem nada. Ela é feliz com ele, mesmo com essas nuvens pairando sobre esse caso de amor.

Se eu falar mais, vou estragar a brincadeira. Mas o fato é que eu entendi direitinho as questões dessa mulher: ela já sofreu traumas graves, já foi casada, já teve filhos e netos, já se separou e já foi traída pelo marido com sua melhor amiga .

Depois de muito ir e vir, Gabriella percebe que é nesse desenho, mesmo que aparentemente absurdo, que ela vai ser feliz. Ou melhor, muito mais feliz do que era antes de conhecê-lo.

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Pois é: as coisas boas raramente chegam da maneira mais fácil ou da maneira que a gente gostaria. O preço a pagar sempre é alto.

Essa história de amor bastante complicada deve ter algo a nos ensinar, mas estou até agora pensando exatamente o quê. E, apesar de todos os pesares ou talvez justamente por causa disso, essa série italiana —cujo nome em português deveria ser o mesmo que o original italiano, "Engano"— é uma das campeãs atualmente do canal de streaming.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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