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Reportagem

'Bateu, levou'; Lívia Andrade comenta fama de 'treteira' e carreira global

Quase 23 horas de uma quinta-feira, após gravar o dia todo o Domingão Com Huck, onde é comentarista, minha amiga Lívia Andrade ainda conseguiu alguns minutos para conversar comigo. Conversar com uma amiga de muito tempo, parceira de muitas batalhas, é sempre muito gostoso.

Falamos de sua infância difícil e de seu dom de cuidar, de sua luta de mulher bonita numa selva machista como é a TV, da sua fama de treteira e de sua generosidade, nem sempre reconhecida. Tudo com muita história e exemplos.

Lívia compartilha que sempre teve o desejo de ser independente. Durante a juventude, não tinha a ambição de se tornar artista, mas começou a perceber que ganhava mais com trabalhos como modelo e com participações em programas de TV, em comparação aos "empregos comuns".

Isso a atraiu inicialmente pela possibilidade de melhorar sua condição financeira, porém com o tempo, a televisão passou a encantá-la de diversas formas. Ela também relata que perdeu o pai muito cedo, vítima de um câncer, e sua mãe, que também era muito jovem na época, teve que trabalhar dobrado para cuidar dela e de seu irmão. Ela fala com muito orgulho da mãe, mas opta por não expor sua família publicamente.

Conversamos sobre um momento marcante na vida de Lívia - que sua própria mãe me contou - quando ela tinha por volta de nove anos e sua mãe teve uma doença que a deixou paralisada por um tempo e ver a filha cuidar dela, tão nova, fazendo comida e outras coisas da casa, só fortaleceu a relação das duas.

Sobre a fama de 'treteira', ela explica que precisou vestir uma armadura para enfrentar as dificuldades da vida e o trabalho desde os treze anos no meio artístico. Ela diz que é fácil ser chamada de 'difícil', mas não aceita desaforo ou falta de respeito:

"Bateu, levou." Isso vale para qualquer pessoa, independentemente da idade ou posição social. Contudo, com a idade e o amadurecimento, percebeu que nem sempre precisa estar armada em todas as ocasiões.

Eu sempre tive uma personalidade muito forte desde pequena. Por quê? Porque eu precisei. Eu precisei ser forte, eu precisei ser dura, eu precisei criar uma casca e vestir uma armadura para suportar, para passar o que passei e pra resistir o que resisti. Lívia Andrade

Lembranças do passado. "O meio artístico não é um meio fácil, você sabe das coisas baixas e pavorosas que acontecem nos bastidores e eu comecei com treze anos, então eu me defendia, ou talvez eu não estivesse aqui hoje."

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É isso gente, bateu levou, mas ninguém ouviu ou presenciou um barraco meu em restaurante, em balada, em show, nunca. Mas nos bastidores (...) eu chamava todo mundo para o camarim e a gente resolvia ali, é assim que eu gosto de resolver até hoje.

Inclusive, ela relembra que foi muito mal-educada (palavras dela) comigo, em uma leitura de uma peça de teatro no meu escritório e explicou que estava sempre armada—- eu não me recordava desse momento.

Comentamos novamente sobre seu dom de cuidar e ser generosa. Relembramos um momento em que ela foi muito generosa com uma pessoa e foi criticada por isso, mas quis ajudar alguém que não conhecia - assim como desconhecidos já a ajudaram e ajudaram sua família. Apesar de sempre perguntarem se ela teria medo de expor seu dia a dia e sua casa, ela ressalta que nunca teve nada a esconder.

A vida é feita de escolhas e cada um escolhe a maneira que quer viver e a gente também tem que respeitar isso. Eu sabia que não ia dar certo porque, ao mesmo tempo que a gente ouve 'vai lá, estende a mão e ajuda', você ouve 'você sabe que pode se decepcionar, né?'

Jogo que segue. "Foi só mais alguma coisa. Sim, fiquei triste na época, fiquei decepcionada porque a gente tem um carinho pelas pessoas. Depois passou, perdoei... "Eu não quero mal, eu desejo tudo de bom, mas a gente tem que aprender que tudo que nos faz mal, a gente só coloca para lá e segue. Não precisamos ter raiva, não precisamos fazer mal (...) Não precisamos inventar coisas para chamar a atenção, a gente só deixa seguir e segue nosso rumo."

Falamos de seus três casamentos, o último com muita polêmica, sua paixão pelo Corinthians, religião, da chegada de Eliana— outra que veio do SBT à Globo —, de seu momento na emissora dos Marinho e da comparação inevitável entre as duas emissoras.

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Ao falar seus relacionamentos, enfatiza que não "compra brigas", mas que defende o que é justo. Ela conta que se surpreendeu com a intensidade de algumas situações e com a imprensa, que divulgou mentiras sobre ela, mesmo conhecendo sua história.

Lívia sempre foi muito conservadora em seus relacionamentos amorosos, preferindo não os expor. Quando seu novo relacionamento virou pauta na imprensa, ela estava recém-solteira e se relacionando com alguém que também estava solteiro, após sair de um relacionamento de um ano com uma pessoa de sua cidade.

Eu fiquei de cara com a intensidade, com a maldade que foi feito isso. Porque como eu trabalho na TV desde muito nova (...) a maioria dos jornalistas me conhecem, conhecem a minha história e essas pessoas noticiaram mentiras a meu respeito. Isso foi muito complicado.

Relacionamento. "Agora você não fazer a m**** e ser julgada, condenada e ser escorraçada por algo que você não fez, é muito duro. O que eu queria era provar para mim, que eu era capaz, que eu queria conquistar minhas coisas pelo meu trabalho e não porque eu estava namorando alguém famoso (...) porque eu estava namorando alguém que pudesse me proporcionar uma alavancada."

Conquistas. "É muito difícil aceitar que uma mulher conquiste algo na vida. Que ela consiga sua independência financeira. Seria muita burrice, incompetência da minha parte se eu não tivesse construído o patrimônio que eu tenho hoje."

Lívia comenta sobre os questionamentos que recebe por não ter filhos. Ela explica que, devido ao meio em que vive, sua origem e a experiência de ver sua mãe criar dois filhos sozinha, decidiu não ter filhos. Ela ama e respeita tanto as crianças que, ao observar a perda de valores na sociedade, preferiu não ter filhos, pensando cuidadosamente sobre o assunto.

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Existem várias situações: você pode querer um pai para o seu filho, você pode querer uma pensão, você pode querer o que você quiser. No meu caso eu não quis nem a pensão e nem um pai para o meu filho e não foi por falta de opção, foi por uma escolha minha.

Religião

Lívia recorda que antes de muitas pessoas públicas passarem pelo preconceito das escolhas religiosas, ela já era chamada de "macumbeira do Silvio Santos". E que quando percebeu que era um ponto que existia muito preconceito, fez exatamente aquilo que já citou acima, defendeu aquilo que era justo.

Ela também explica que as pessoas acham que ela é do candomblé, religião que ama e respeita, mas que não pode dizer que é do candomblé porque não é tão disciplinada assim: "Eu gosto de ter a liberdade de praticar a minha fé, da minha maneira, como eu quiser, onde eu estiver (...) E não é um templo que vai me definir."

Eu gosto de ser livre, eu não consigo me enquadrar. Se me perguntarem qual é minha religião, a minha religião é a liberdade (...) Eu não me defino em nenhuma religião e sempre sofri preconceito.

"As pessoas acham até hoje que eu sou do candomblé, com todo o meu respeito, amo (...) Mas eu não posso dizer que eu sou do candomblé, porque é uma religião tão bonita, que existe tantos cuidados, preceitos, que é até injusto as pessoas falarem que eu sou do candomblé por que eu não sou tão disciplinada assim."

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Globo x SBT

Lívia comenta que nunca imaginou trabalhar na Globo e destaca as diferenças entre o SBT e a emissora carioca, mencionando a grandiosidade, a quantidade de profissionais envolvidos e como as coisas acontecem rapidamente, "num passe de mágica" como diz. Sobre a chegada de Eliana, ela ressalta que no SBT não tinha mais espaço para a apresentadora crescer e que Eliana já era a rainha dos domingos.

O SBT eu via como a casa dos pais, sabe? E aí é como se a gente crescesse e falasse: 'Agora eu quero ter a minha casa, eu quero crescer, eu quero conhecer o mundo', eu acho que é mais ou menos isso.

Questionada sobre sonhar em fazer algo diferente na Globo, ela diz que não e que acha ótimo assistir ao programa do palco, comentar e ganhar dinheiro com isso. Lívia ainda ressalta que está aprendendo muito com o Huck e que foi muito bem recebida.

Eu acho ótimo assistir ao programa do palco, comentar e ganhar dinheiro com isso. Apresentar programa dá muito trabalho. Está ótimo e está maravilhoso assim, por enquanto está lindo, amanhã já não sei e eu nunca fui uma pessoa de querer, de fazer planos e projetos.

Aprendizagem. "A realidade é dura e eu coloco meus pezinhos no chão. O que eu costumo fazer: Aproveitar as oportunidades que chegam pra mim. Me preparar para isso, a gente estuda um pouquinho de tudo e no momento eu estou aprendendo muito com o Luciano".

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É sempre prazeroso conversar com a Lívia e após tanto tempo, tantas histórias e trabalhos juntos, ver seu amadurecimento e sua independência como mulher, a forma de empoderar outras mulheres é muito inspirador. Espero que vocês conheçam e reconheçam a Lívia mais a fundo nessa entrevista.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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