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Lorena Comparato diz não topar trabalhos em que história fere sua essência

Lorena Comparato é uma jovem atriz com muitos trabalhos, mas muitos mesmos e uma coleção de prêmios invejável. Filha do premiado roteirista Doc Comparato com a fonoaudióloga Leila Mendes, ela começou a carreira bem cedo. Irmã de outra grande atriz Bianca Comparato e da produtora e diretora Fabi Comparato, ela vive essa busca por bons papéis com uma alegria, uma esperança, uma determinação e uma abertura ao novo que chamam a atenção.

E que estão dando muito certo. Atualmente, ela está envolvida em alguns dos maiores sucessos do nosso áudio visual, a série "Impuros", da Disney Plus, já na quinta temporada, e a série "Rensga Hits", que está com a segunda temporada pronta e quase estreando no Globoplay — com os fãs pedindo mais.

Começamos nossa conversa falando sua esplendorosa família e sobre quando começou a se encantar por televisão, aos 3 anos em Portugal — ela nasceu lá, pois seu pai trabalhava com emissoras europeias na época. Já de volta ao Brasil, Lorena conta que se aprofundou no mundo da atuação no Rio de Janeiro e estudou em grandes locais voltados para isso, como o Tablado, Casa de Cultura Laura Alvim e Casa das Artes de Laranjeiras.

Em meio aos seus cursos e trabalhos paralelos em outras profissões para conseguir arcar com o seu sonho, ela também participava de curtas-metragens para colegas, caminhando para onde queria chegar e em um desses curtas conheceu uma aluna, Anita Rocha da Silveira, que se tornou uma premiadíssima cineasta.

Tem uma produtora que eu admiro muito chamada Clélia Bessa e ela sempre diz que o cinema é geracional. Então a gente fica querendo muitas vezes trabalhar com um pessoal maior que a gente ou mais velha que a gente e isso é superlegal, só que a gente esquece de olhar para o lado e ver que os cineastas do futuro estão do nosso lado.

Lorena passou pela apresentação da parte infanto-juvenil da TV Globinho e por algumas participações até chegar em "Pé na Cova" em 2013, onde interpretava Abigail, esposa do personagem de Miguel Falabella, o Ruço, e contracenou com grandes atores como o próprio Falabella, Mart'nália, Diogo Vilela e a grande Marília Pêra.

Curiosidade: Com alguns colegas de Pé na Cova, ela tem um grupo no WhatsApp e conversa com eles praticamente todos os dias. Ela tinha o sonho de participar de "Malhação", da Rede Globo, e passou doze anos fazendo alguns testes, até que conseguiu interpretar Camila, em 2018, em "Malhação: Vidas Brasileiras".

Cada trabalho tem o seu desafio. Todos os personagens é um grande desafio e até os personagens que requerem menos trabalho físico, as vezes o emocional é tão potente que também é um grande desafio, então eu não sei se consigo dizer qual foi o trabalho mais desafiador para mim.

"Se eu conseguir mudar a vida das pessoas com a minha arte, seja para o entretenimento ou pra reflexão social, pra mim já valeu. Se eu estou ali fazendo uma peça para vinte pessoas e pelo menos uma saiu transformada da peça que eu estou fazendo, para mim já valeu, eu estou feita, estou no lucro."

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A escolha dos trabalhos

Perguntada sobre o critério para escolher seus trabalhos, ela explica que ao estudar com as professoras Ivana Chuback em Los Angeles e com Mariana Rigueira no Rio de Janeiro, ela aprendeu que não se deve negar muitos trabalhos, porém ser criteriosa na escolha de bons personagens. Lorena diz que tem dificuldade de dizer "não", porém tem tido que negar alguns personagens por conta de outros, pois não conseguiria conciliá-los.

Lorena também cita os altos e baixos de sua profissão, sobre a confiança que precisa ter na vida e ao mesmo tempo um planejamento a longo prazo para conseguir negar um trabalho. Por não saber dizer "não", um dia enquanto participava de um trabalho, suas irmãs a chamaram e falaram que ela precisava prezar por sua carreira e não aceitar "qualquer coisa", pois as pessoas iriam ver seus trabalhos daqui dez anos, por exemplo.

A Ivana sempre fala que artista não deve negar muito trabalho, mas que temos que ser muito específico de escolher os bons personagens, então eu acho que é uma balança, eu particularmente sei muito bem que na minha profissão existem os momentos das secas e das cheias, então as vezes a gente nega um personagem e depois, mais para frente, falta.

A gente tem que ter uma confiança muito grande na vida, mas ao mesmo tempo um planejamento a longo prazo muito bom para realmente negar um personagem. O que eu acho que o que tem acontecido muito na minha carreira é que eu tenho precisado negar alguns personagens por causa de outros.

Lorena conta quais são seus três critérios para escolher seus trabalhos: A história que vai contar, com quem irá trabalhar e o dinheiro que vai ganhar, porque sempre tem que lembrar que é sua profissão e tem que ser retribuída por isso. Mas que não aceita trabalhos em que a história fere sua essência.

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O que acontece é que a história é tão boa, a galera é tão legal e o dinheiro é tão ruim, que eu tenho duas oportunidades muito boas pra fazer, então eu aceito. Aí o dinheiro é muito bom, a história é mais ou menos, mas o pessoal é tão legal, que vale a pena fazer. Então eu acho que eu faço um balanço de tudo isso.

Projetos na agulha

Ao falar de "Impuros", que acaba de estrear a 5ª temporada na última quarta-feira, 24, no Disney Plus, onde ela interpreta Geise, que vai da comédia ao drama. Ela comenta que é muito emocionante e enfatiza que é emocionante estar numa série de cinco temporadas.

"Impuros" conta a história da entrada da cocaína e dos armamentos mais pesados nos morros cariocas nos anos 90 e 2000 e Lorena interpreta Geise que no início da história é a "Mc Loira do Dendê", que acaba se apaixonando por Evandro, personagem de Rafael Logan, que se envolve com o crime após ver seu irmão morrer por policiais por causa do tráfico de drogas, seu objetivo era ganhar dinheiro de forma honesta, porém ele acabou virando um dos maiores narcotraficantes da América Latina.

Geise acaba se deixando levar pelo amor e ela também acaba virando uma das maiores narcotraficantes da América Latina. Lorena avisa que a série é violenta, porém tem uma dose de humor.

"A série acaba trazendo um humor, uma leveza, mesmo em contraponto com essa violência toda. Então você assiste rindo e eu acho que isso é um dos grandes segredos, a pitada de segredo do 'Impuros' (...) As pessoas se apaixonam muito pela quantidade de verdade que tem na série, porque é baseada em fatos, mas ao mesmo tempo traz o caráter fictício dessa história".

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A série sempre mostra Evandro tentando lidar com a expansão de seu 'negócio' e Geise acaba vendo a sobrecarga do marido - com a mesma essência do início da série, de dar o melhor para sua família — acaba entrando nos negócios dele, acaba gostando do "poder" e que ele acaba sempre preso ali no morro que nasceu e cresceu, porém o sonho de Geise é sair dali e morar em Miami. Os dois acabam tendo sonhos diferentes.

Ela adianta - sem spoilers - que essa nova temporada fala de lealdade, família, vingança e questiona. "Até que ponto o amor é suficiente pra segurar uma relação?".

Já em "Rensga Hits", que é uma série "dramédia", drama e comédia juntas, além de musical, a série está com a segunda e terceiras temporadas prontas e porém, por enquanto, somente a segunda estará disponível em breve no Globoplay. Lorena fala que a série tem esse lugar de enaltecer essas mulheres do sertanejo. Ela canta na série músicas como as de Maiara e Maraísa e que segundo sua mãe, ela sempre cantou desde criança e que sempre foi afinada, o que a ajudou em sua personagem.

Minha mãe sempre achou que eu ia ser cantora, só que eu acabei envergando para as artes cênicas e usando a arte do canto como uma ferramenta de meu trabalho.

Ela conta que vê sua personagem como uma grande homenagem às cantoras sertanejas e que estuda muito para interpretá-las. E que na segunda temporada, ela e a irmã, personagem de Alice Wegmann - que conheceu a pouco tempo, já que ela não sabia que tinha uma irmã "perdida" - entendem que as duas fazem sucesso juntas e o questionamento é: "Será que essa carreira dará certo?".

A gente gravou recentemente algumas cenas da segunda temporada em Londrina (PR), imagina para mim, subir ao palco, com um figurino maravilho, no meio de um rodeio de peão. Foi muito emocionante, eu sou muito agraciada com os personagens que eu tenho.

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Novos projetos

Sobre as novidades de sua carreira, Lorena conta que faz parte de um núcleo criativo chamado "Companhia de Quatro Mulheres" ao lado de Andrezza Abreu, Anita Chaves e Karina Ramil, e elas acabaram de finalizar o primeiro curta-metragem de terror delas, que teve co-produção da Record. Ela informa que em breve vai rodá-lo em festivais e depois lançarão para o grande público.

Ela também está ensaiando a peça "Bonitinha, mas ordinária" de Nelson Rodrigues, com direção de Bruce Gomlevsky, com atores como Emílio Orciollo Neto, Aline Dias, Kênia Barbara, entre outros. A peça estreia no próximo dia 9 de agosto no Teatro Caixa Cultural no Rio de Janeiro.

Para finalizar, ao ser questionada sobre "levar o personagem para casa", como Juliana Paes comentou sobre a dificuldade de separar isso de sua personagem Liana, em "Pedaço de Mim", série do Netflix. Lorena diz que tenta não levar alguns personagens para casa, que tenta separar, mas é impossível dizer que não tem uma "contaminação".

Eu tento sempre dizer para mim mesma que aquilo é mentirinha, que é separado, que é a vida de uma pessoa e a minha é outra. Se eu permitir que isso contamine tanto, eu não vivo.

A verdade é que as produções estão cada vez mais apertadas, o dinheiro está cada vez mais faltando. Então, as vezes é difícil fazer trabalhos tão profundos, tão rápido a toque de caixa. O que eu tento fazer hoje em dia é me acostumar e lidar com o que tem e fazer o melhor trabalho para o meu público.

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O pai dela artista, criador de tantas séries de sucesso para a TV Globo, como "Malu mulher", a premiada internacionalmente, " Lampião e Maria Bonita" e a série "Mulher", com Eva Wilma e Patrícia Pillar, sonhava que filha virasse presidenta do Banco Central, mas hoje baba pela artista completa que ela se tornou direitinho da genética e da boa formação que deu as três.

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