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Reportagem

Moacyr Franco gostaria de continuar a fazer TV e revela ter vários projetos

Moacyr Franco com seus 87 anos de idade, uma carreira consagrada de mais de 70 anos, vem a ser um dos meus ídolos, por isso fiquei muito feliz de realizar essa entrevista.

Comecei relembrando como ele entrou em minha vida, na época da canção "Suave É a Noite" e do programa Moacyr Franco Show no início dos anos 1960, onde ele, ao lado de uma orquestra, começava seu programa cantando e depois ia até uma bancada onde se trocava, tudo isso ao vivo, e ia para o próximo quadro do programa, onde contava histórias.

Relembramos também que a primeira experiência de televisão a cores no Brasil foi em seu programa na extinta TV Excelsior em meados de 1964. A ideia partiu de Boni que, junto com a emissora inglesa BBC, trouxe ao Brasil uma câmera italiana que mudaria o jeito de ver televisão por aqui.

Mesmo com o sucesso do programa, o Moacyr Franco Show chegou ao fim em 1966 na TV Excelsior, e lembro-me de ficar frustradíssimo, mas Moacyr explica que diversos fatores levaram ao cancelamento, como questões econômicas e políticas. Em 1964, ele também foi para o rádio, onde apresentou, ao lado de seu filho, Guto, que tinha cerca de cinco anos na época, o programa As Coisas Que Eu Gosto, na Rádio Bandeirantes, com direção geral também de Boni —que já era conhecido de Moacyr, de quando moravam no interior de São Paulo.

Sobre a TV Excelsior, era uma coisa tão bonita, essa 'desorganização' permitia a gente a ser criativo, a trazer o circo para a televisão, muito do rádio...

Mudança do conceito de show na TV

Comento que após o fim do Moacyr Franco Show na Excelsior, Moacyr não teve mais a oportunidade de realizar um programa como aquele, onde ele mostrava todo seu talento como showman, e ele enfatiza que o conceito de show foi mudando, pois naquela época era mais circo e teatro, e com a tecnologia, com a vinda do conhecimento mais moderno de outros países, como Estados Unidos e Inglaterra, acabou transformando o jeito de fazer programas de televisão. Ele relembra que, em países como Alemanha e Itália, a televisão era feita como os cinemas, mais engessada. Diferente do Brasil, que era um show, envolvendo música, circo, teatro e claro de outros países.

Aliás, vale lembrar que foi através da ideia de Boni que o primeiro piso num estúdio foi usado, em um programa de Moacyr, pois até então, o piso dos programas era de cimento, sem acabamento. A mudança chamou a atenção, pois como a câmera se mexia, mostrava o piso e ficava mais bonito, mais atraente de se assistir.

Lado compositor e cantor

Como um showman que é, Moacyr explica que perto dos compositores de hoje em dia, ele escreveu poucas canções, mas que teve muita sorte, pois escolhia temas que ninguém usava e sempre adaptava ao amor, casais, ciúmes.

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Com destaque para seu bordão que divertia a plateia e acabou virando marchinha de Carnaval: "Me dá um dinheiro aí", e músicas como "Suave é a Noite", que é uma versão de "Tender is the night" e "Balada Número Sete" que homenageia o grande jogador de futebol Garrincha.

Nas décadas de 1980 e 1990 compôs várias músicas no gênero sertanejo, que alcançaram os primeiros lugares nas paradas, tais como: "Dia de Formatura", com Nalva Aguiar; "Seu Amor Ainda é Tudo"; "Ainda Ontem Chorei de Saudade"; e "Se Eu Não Puder Te Esquecer", com João Mineiro & Marciano, entre outras. Para ele, seu maior sucesso foi "Ainda Ontem Chorei de Saudade" —cantada até hoje; e a mais importante "Seu Amor Ainda É Tudo".

Vou fazer um adendo que gosto: Os artistas eram muito mais humildes. Um exemplo é 'Me Dá Um Dinheiro Aí', que no coral, cantava a Dolores Duran e Altemar Dutra, imagina o que era isso... A humildade dessa gente, né?

Ele diz muito que tem sorte, porém eu enfatizo que o que ele chama de sorte, eu chamo de talento. "Eu tenho muita sorte. Entrei, sem querer, em muitas coisas que eram por si mesmas um momento importante. A minha entrada na Praça é Nossa foi assim, por exemplo".

Silvio Santos

Ao falar sobre ter conhecido Silvio Santos, Ronald Golías e Carlos Alberto na rádio Nacional nos anos 1950, ele diz que foi uma bênção tê-los conhecido. Ele relembra que Silvio apresentava um programa na rádio, de manhã, e que era difícil os cantores irem por conta do horário, só se fossem contratados, então Canarinho, amigo que os apresentou, falou para Silvio que ele cantava rock e o Silvio o colocava para cantar.

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"Nós continuamos a ser amigos. Não amigos de ir na casa um do outro, de ir no aniversário do filho. O Silvio nunca veio à minha casa e nem eu fui à casa dele, o Carlos Alberto sim". Mas Moacyr relembra que Silvio chegou a consultá-lo, em 1983, sobre a possibilidade de contratar Sérgio Chapelin e a Xuxa, que estavam na Globo e ele já havia trabalhado na Globo.

Eu lembro que eu achei um absurdo, porque era para fazer um programa como ele já fazia, com o cara solto no palco. Ele (Silvio) disse: 'Ah, mas eu acertei com ele' e eu disse: 'Não vai dar certo', porque o programa que ele (Chapelin) queria fazer era que nem o programa Silvio Santos.

Tempos depois, Silvio o chamou para participar do primeiro programa de Chapelin, onde ele apresentava um programa de auditório no SBT, com direito a usar um microfone preso à gravata, igualzinho ao que é marca registrada do dono da emissora, porém o programa ficou apenas um ano no ar e Chapelin retornou à Rede Globo.

E sobre a Xuxa, ele disse que aconselhou Silvio que, pelo investimento, não seria bom, porque "quem dava a audiência já era a Rede Globo e não era ela, né?". Ele conta que sempre teve muita liberdade com o apresentador, que faleceu há pouco mais de um mês.

O pessoal ficava espantado porque tinha dois seguranças na porta e eu chegava, batia e entrava, com o Silvio se vestindo, por exemplo. Eu tinha muito liberdade para conversar com ele.

Vontade de continuar contribuindo para a TV

Moacyr abre o coração e diz que gostaria muito de continuar contribuindo para a televisão brasileira, que gostaria de mostrar as coisas novas que criou e que tem centenas de coisas novas, modificações e que gostaria de contribuir na adaptação da televisão com a internet, de modo que a rede aberta de televisão se torne uma fornecedora de material para a internet.

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Ele conta que realizou diversas reuniões com Ratinho e que os dois têm projetos juntos, além de ter dado várias ideias para o SBT através do apresentador e enfatiza que eles são grandes amigos. "O Ratinho é um grande amigo, é uma pessoa muito limpa, muito honesta comigo. Ele me dá atenção, eu chego e falo pra ele tudo o que eu penso? É verdade que depois ele acaba não fazendo nada, mas ele escuta tudo", diz rindo na última frase.

Mas ali, esbarra no seguinte: Primeiro é a questão das despesas e outra coisa importante é que os estúdios do SBT estão todos ocupados com os programas semanais, o que é no mínimo uma coisa boba, porque um cenário? O chinês faz um edifício de 50 andares em 19 dias, um cenário faria em 15 minutos. Então, eu acho isso um desperdício todos os estúdios do SBT estarem ocupados.

Saída de A Praça É Nossa

Moacyr trabalhou com Manoel de Nóbrega em 1959 e anos depois. Com uma carreira consolidada, aceitou trabalhar em 2005 com Carlos Alberto de Nóbrega em A Praça é Nossa, do SBT, onde criou o personagem caipira "Jeca Gay" que tinha o bordão "Chique no úrtimo" que estourou em todo o país, sendo relembrado até hoje.

Seu contrato com o SBT não era para fazer especialmente A Praça, ele estava lá porque tinha trabalhado na série humorística "Meu Cunhado", com Ronald Golias. Porém, como já dito, ele aceitou o convite e fez dois personagens no humorístico de Nóbrega. Sua saída da Praça e da emissora foi repentina. Ele foi apenas chamado na direção, em novembro de 2017, e avisado sobre a decisão. Moacyr conta que ficou muito triste e chocado, pois havia contribuído muito para a emissora, apresentou o Concurso de Paródias —que era um sucesso e só saiu do ar por questão de direitos autorais e também criou, junto de seu filho Guto, o seriado "Ô... Coitado", com Gorete Milagres.

Como sempre a casa alega que não tem espaço, estúdio e nem dinheiro.

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Com a justificativa de necessidade de economia por conta da emissora, Moacyr sugeriu diminuir bruscamente seu salário para menos de um salário mínimo, o que não foi aceito, e disse que gostaria de continuar fazendo A Praça É Nossa, uma vez por semana, sem receber nada e lhe disseram não também.

Eu lembro até da frase: 'Não, não. No momento não é possível'; eu fiquei tentando fazer relações e pensar o que seria essa economia, já que ao mesmo tempo estavam pagando R$ 600 mil a R$ 1 milhão para um monte de gente lá que tinha chegado.

Ele relembra que quando voltou para o SBT, seu salário comparado com os artistas da casa naquela época era bem baixo, já que os outros colegas recebiam mais de R$ 100 mil, chegando a quase meio milhão de reais fazendo merchandisings e propagandas.

Apesar da situação, Moacyr ressalta que não guarda mágoas, rancores e que adora o SBT, e fala que a vice-diretora da emissora, Daniela Beyruti, entende de televisão, e que após conversar com ela, ele entendeu que toda a mudança feita na emissora a partir do início desse ano, foi por conta do orçamento, mas que acredita que o SBT irá dar certo nas mãos das herdeiras de Silvio Santos.

Eu tive a chance de conversar com a Daniela (Beyruti). Ela é craque, ela entende de televisão, ela sabe o que tem que ser feito, ela vai mudar o SBT e vai dar certo. Eu acho que dá para fazer muita coisa no SBT, não eu fazer, mas acho que o SBT se adaptar bem rapidamente e com muito sucesso ao que se faz no mundo.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • 'Suave é a noite' é uma versão de 'Tender is the night' e não de 'Love me tender'. O texto foi corrigido.

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