'Embate de ideias': Gabriel Santana revive terror da ditatura em peça em SP
Meu entrevistado desta semana é um ator que conheci quando ele tinha apenas 13 anos nos bastidores do SBT. Na época, ele dava vida ao Mosca, na segunda versão de "Chiquititas" (2013). Gabriel Santana cresceu e continuou trilhando seu caminho na arte, passando por diversas novelas e produções. Hoje, ele está com uma peça de teatro em cartaz em São Paulo.
Carreira
Gabriel começou a carreira cedo guiado pela irmã mais velha, que queria ser modelo de passarela. Ele acabava acompanhando ela em testes e ensaios, até começar a fazer os testes também. Com o tempo, a irmã descobriu que não era isso que ela realmente queria. A veia artística pulsou mais forte nele.
O ator conta que seus pais sempre o orientaram a pensar em médio e longo prazo, não somente a curto prazo. Sem pressa, ele então focou em se formar como ator. Estudou e no mesmo ano de sua estreia como Mosca já começou a fazer teatro profissional. Também participou de séries do Globoplay e do Disney Channel. Em 2019, Gabriel foi escalado para "Malhação - Toda Forma de Amar" e depois para o remake de "Pantanal", ambos na Globo.
Quando saí do SBT, estava muito preocupado em me formar como ator. Tive dois anos de experiência lá e isso ensina mais do que qualquer faculdade ou curso, com certeza. Mas, eu acho que uma formação técnica também é muito importante. Acho que isso mudou muito minha forma de enxergar o mundo, minha visão artística.
Gabriel é bacharel em teatro pela Escola de Teatro Célia Helena e faz pós-graduação de direção também na instituição.
Sexualidade
Gabriel explica que se entendeu como bissexual aos 19 anos, na época que estava participando de "Malhação". Ao ir em uma festa com um amigo, ele ficou com uma garota, mas sentiu vontade de ficar com o amigo depois. E aconteceu! E quando percebeu que poderia gostar de mulheres e homens, tratou com muita normalidade.
Quando veio esse desejo para mim, quando percebi que poderia, além de gostar de mulheres, também gostar de homens, eu tratei com muita naturalidade, acho que pelo fato de eu ter crescido no meio artístico, a gente sempre conviveu com pessoas de gêneros, orientações sexuais diferentes e sempre com muita normalidade. Então, na minha cabeça, eu ser gay, bissexual, uma pessoa trans ou não binário, foi algo normalizado, para mim, isso foi sempre muito natural.
"Até porque eu acredito muito que além de gênero fluido, eu acredito em orientação sexual fluida. Acho que uma pessoa não precisa ter a mesma orientação sexual do começo até o final da vida. Você pode se identificar como hétero até os 40 anos e aos 40 anos se redescobrir, se reinventar", completou.
Quando entrou no Big Brother Brasil, em 2023, ele já estava muito tranquilo e brinca que nunca esteve no armário porque quando percebeu, já estava fora dele. Diz que a mídia não descobriu que ele era bissexual porque não queria, pois ele nunca escondeu e acredita que isso virou uma pauta quando entrou no reality.
Gabriel acha que ainda é muito cedo para ter uma resposta sobre a sua sexualidade ter atrapalhado ou ajudado sua carreira, pois faz pouco tempo que a mídia descobriu isso. "Eu posso dizer que nunca tive medo de me assumir bissexual, acho que não há transformação social se pessoas não lutarem pela causa, mas eu diria que desde o BBB, tanto os produtores de elenco, como o público tem me visto em um outro lugar".
O ator conta que cerca de 80% das propostas de trabalho que tem recebido ou testes para personagens que tem feito são para filmes, peças e séries com temática LGBTQIA+ ou personagens LGBTQIA+.
É maravilhoso, é uma representatividade, é uma força, uma latência para a comunidade e para as causas sociais, mas ao mesmo tempo, eu não gostaria que as pessoas só me vissem num lugar de poder representar um personagem que seja LGBTQIA+, porque essa é uma das minhas facetas, eu sou muito mais do que isso. Isso é uma das coisas que me representa e eu fico muito feliz de representar, mas eu sou uma pessoa preta de pele clara, eu sou um homem bissexual, eu sou uma pessoa formada, um jovem adulto, eu sou produtor, eu sou ator, eu sou diretor, eu sou muita coisa além disso.
Apesar de ter aparecido em junho deste ano em um relacionamento com o influenciador e escritor Erick Mafra, Gabriel diz que seu último namoro foi entre 2016 a 2018 e que seu coração está em busca de um outro coração.
Big Brother Brasil
Gabriel tinha acabado de encerrar sua participação em "Pantanal", quando foi chamado por um produtor para um "projeto que estava no começo", e era reality show. "Na hora, eu pensei em tudo, pensei em 'Dança dos Famosos', pensei em algum quadro, alguma coisa que podia ser de algum programa, pensei em novela, filme, série, eu pensei em tudo, menos em um convite pro BBB".
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Quero receber"Acho que na contemporaneidade só ser artista, através do que você comunica, através do seu trabalho, não é mais o suficiente. É importante a gente sempre dar entrevista, participar de programas, estar nas redes sociais... no meu caso, decidi ir para o BBB para que as pessoas pudessem conhecer quem é o Gabriel. O que a gente mais vê são pessoas babacas que receberam o Oscar, e se não fosse a contemporaneidade, não teríamos acesso a esse tipo de informação. Então, acho que é muito importante os artistas se posicionarem, sim, o máximo que puderem".
Gabriel acredita que o resultado de sua ida para o reality foi muito bom. Desde então, ele começou sua carreira como comunicador e apresentador, gravou dois filmes, uma série, duas peças e teve convites para novos trabalhos para o próximo ano. "Acho que o BBB me fez muito bem, tanto artisticamente, quanto de prospecção de carreira".
Trabalho Atual
Além de estudar, Gabriel está em cartaz no Teatro Studio Heleny Guariba, localizado na Praça Roosevelt, região central de São Paulo, com a peça "O Sonho Americano", que é ambientado no Brasil dos anos 1970, durante o auge da ditadura militar.
A escolha do teatro para ficarem em cartaz foi a dedo, justamente porque, neste ano, completa 70 anos do início desse período marcante do nosso país, e porque Heleny Guariba foi professora de teatro, dramaturga e lutou contra o regime militar, acabou sendo presa, torturada e executada pelo regime, sua morte é um dos casos investigados pela Comissão da Verdade, um colegiado organizado pelo governo do Brasil para apurar mortes e desaparecimentos ocorridos durante o período.
É um tema muito importante. Se não olhamos para o passado, se não entendemos como a história se seguiu, a gente não consegue entender o nosso presente. O momento político atual, reflete muito as consequências da ditadura militar, todo o retrocesso político, social e econômico que a gente teve nessa época. Só vivemos as coisas que vivemos hoje por conta desse golpe e as pessoas não olham para trás.
A peça é um drama familiar e explora como sentimentos como medo e insegurança são manipulados e como a pequena burguesia reage diante da repressão. Ele dá vida a Bento, um militante de esquerda que luta contra a ditadura militar, que acaba de passar por uma ação guerrilheira que dá errado e ele se refugia na casa de sua tia que acredita na democracia, mas sua prima é de direita. "É um embate de ideias", diz ele.
"O Sonho Americano"
Quando sáb., às 20h, dom., às 19h até
Onde Teatro Heleny Guariba, Praça Franklin Roosevelt, 184 (República), tel. (11)
Quanto R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia)
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