Nova Tata? Alemã que faz humor com perrengues no Brasil quer trabalho na TV
Lea Maria Jahn é a minha entrevistada desta semana. A comediante alemã está no Brasil há sete anos e conquistou os brasileiros fazendo piadas sobre nós, brasileiros, na visão de uma "gringa" com humor ácido e observações irônicas. Com isso, ela se apresenta em diversas cidades pelo país.
A alemã decidiu vir ao Brasil após conhecer alguns brasileiros na Nova Zelândia. Foi aí que ela começou a se interessar pelo nosso país e cultura, ao vê-los almoçarem juntos e conversarem, diferente dos europeus que ficavam sozinhos, se alimentando sozinhos.
Lea veio ao Brasil para estudar e passou a compartilhar com amigos observações sobre as diferenças culturais e "perrengues" que encontrou. Foi aí que sugeriram a ela levar essas histórias para a internet —e para os palcos. Até então, ela nunca havia trabalho com standup ou comédia. E deu certo: seu primeiro vídeo viralizou.
"O maior desafio é o improviso. Na hora que eu troco ideia, porque eu sempre converso com o pessoal no show, e sinto claramente que, na hora de conversar sobre algo que eu não me aprofundei, é um pouco mais difícil achar o vocabulário, tenho que procurar o melhor jeito para me fazer entender", conta ela.
Em alguns momentos, no entanto, essa dificuldade a ajuda, já que as pessoas explicam para ela e isso acaba ficando engraçado. "Nem sempre preciso me fazer entender 100%, as pessoas me explicando vira piada", conta ela, que não evita nenhum tema. "Tem coisas mais difíceis de abordar por depender de como a pessoa vai interpretar. Nem sempre quem vê na internet entender o contexto que havia no palco".
E Lea já recebeu hater? "É inevitável", afirma ela. "Sempre vai ter alguém que não vai curtir. Mas eu lido com isso e tento ignorar. Hater só é hater porque consegue se esconder na internet, então tento lembrar que, provavelmente, são pessoas que nem aprenderam uma segunda ou terceira língua, não sabem o que é passar esse perrengue, então, não me preocupo com isso."
Sobre os limites no humor, Lea diz que percebe quando está no palco: "Eu fui vendo o peso das palavras. Acho que enquanto não estou prejudicando ninguém está tudo bem. Existem pessoas que se ofendem muito facilmente, mas, enquanto eu não estou discriminando ninguém não me preocupo. Acho que esse é o limite".
Diferenças Culturais
Para Lea, a maior diferença cultural entre Brasil e Alemanha é a questão do atraso dos brasileiros: "O brasileiro, às vezes, não tem horário. Quando eu tenho um compromisso, tem que marcar meia hora antes, meia hora depois, porque sempre atrasa ou sempre se prolonga". A humorista, no entanto, diz gostar dessa flexibilidade.
Questões sociais
Lea conta que as questões sociais foram uma das razões que a fizeram começar a fazer comédia. Formada em antropologia, ela encontrou na comédia uma forma de se expressar e alcançar mais pessoas. "Se você chega na pessoa de uma forma mais leve ou mais descontraída, ela vai se abrir mais.
Um assunto que os brasileiros gostam de conversar com a humorista é Segunda Guerra Mundial. "Sinto uma certa responsabilidade. É muito importante para mim, mostrar que a Alemanha já evoluiu, que a gente já processou nosso passado e que temos muito essa bandeira de ajudar os imigrantes, os refugiados que chegam lá."
Ao conversarmos sobre o crescimento dos grupos de extrema-direita, pergunto-lhe se isso lhe assusta de alguma forma e ela diz que sim. "A gente se preocupa com o mundo em que nossos familiares vão crescer. Me preocupo com possíveis ataques. Vejo isso acontecer no Brasil também, nesses últimos sete anos é muito clara a mudança que aconteceu".
Referências no humor
Lea diz assistir bastante aos vídeos do Porta dos Fundos e se inspira bastante em Tata Werneck. "Ela é minha referência número um, até por ser mulher. Às vezes eu tenho que desacelerar os áudios dela para entender o que ela está falando, porque ela fala muito rápido, mas eu curto muito, é muito sarcástico". Vendo Tata, a humorista revela que tem vontade, sim, de ter um quadro televisivo e que está aberta a propostas.
O momento mais marcante da carreira de Lea até a agora foi a gravação de seu especial, que recebeu o nome de Alemã de Cria, em outubro. Ele reúne material dos quase cinco anos em que ela está no palco —no último um ano e meio viajando com seu show.
"Eu me emocionei bastante em gravar o especial. Principalmente por fazer isso em um bairro da zona leste de São Paulo, foi como resumir a minha vida nos últimos sete anos, foi como fechar um ciclo", afirmou ela, que se diz animada para criar novos materiais e conteúdos. O especial foi gravado em duas sessões em um teatro na Penha. Ele está previsto para ser lançado ainda este mês, até o Natal.
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