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Em crise de identidade, Record já foi destaque e promessa de liderança

A Record, canal da família Machado de Carvalho, foi um sucesso na década de 1960. Era a grande concorrente da TV Excelsior, com seus muitos musicais com auditórios elegantes e lotados.

Quem viveu aquela época se lembra com saudade das terças-feiras de A Praça da Alegria, com Manoel de Nóbrega no banco recebendo Maria Tereza, Consuelo Leandro, Walter e Ema D'Avilla, Roni Rios (a velha surda) e sua vítima Apolônio (Viana Jr.).

Às quartas-feiras era dia de Fino da Bossa, apresentado pela maior cantora do Brasil de todos os tempos, Elis Regina, e pelo carismático cantor Jair Rodrigues, que lançou ou reforçou a carreira de tantos que hoje ainda fazem sucesso, como Chico Buarque, Gilberto Gil, a saudosa Nara Leão, Maria Betânia, MPB4 e tantos outros.

Manoel de Nóbrega na "Praça da Alegria", na Record, em 1971
Manoel de Nóbrega na "Praça da Alegria", na Record, em 1971 Imagem: Reprodução

Show em Si...monal era o programa das quintas, com o grande showman, rei do suingue, Wilson Simonal, enquanto nas sextas-feiras era dia do Corte Rayol Show, que misturava música e humor, com o "rei da voz" Agnaldo Rayol e o humorista e comediante Renato Corte Real.

Os destaques dos finais de semana eram a Família Trapo, aos sábados, com Otelo Zeloni, Ronald Golias, Jô Soares, Renata Fronzi, Cidinha Campos e Ricardinho Corte Real, com redação de Carlos Alberto de Nobrega; e Jovem Guarda, aos domingos, com Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos; ainda no domingo, mas à noite, Hebe Camargo comandava seu próprio programa.

Sentiu o elenco? Pois é, estes programas de humor, música e entrevistas eram gravados no Teatro Record Consolação, em São Paulo, hoje transformado numa Igreja Universal. Lá, também eram realizados os Shows do Dia 7, uma espécie de mesversário da emissora, misturando todo elenco em especiais memoráveis. E também os icônicos Festivais da Canção de 1966, 1967, 1968.

Esse Teatro da Consolação, apesar de lindo, ficou pequeno e toda essa programação vitoriosa se mudou para o enorme Teatro Paramount, na Brigadeiro Luís Antônio, e depois para a rua Augusta, também em São Paulo. Tudo com muito sucesso.

No início dos anos 1970, toda essa programação entrou em declínio, assim como a Tupi e a Excelsior, por pressão da ditadura militar. Tanto que, em 1972, a família vendeu 50% para Silvio Santos, e a programação virou um pasto para enlatados ruins e pouca criatividade.

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Em 1989, a Igreja Universal, do bispo Edir Macedo, comprou, os 100% da Record dos dois sócios, na época por R$ 250 milhões.

Pensava-se, na época, que a nova Record iria recuperar seu DNA de musicais e humorísticos, o que teria sido muito bom, mas a emissora mergulhou em programas religiosos. É até compreensível pelos novos donos, mas, hoje, o canal tem esquecido de ser televisão. Seu jornalismo é fraco, voltado ao policialesco, e suas novelas bíblicas, que poderiam ser interessantes, viraram a visão de uma autora herdeira sobre a Bíblia, com adaptações grosseiras do livro sagrado.

E os musicais, a maior tradição da casa, ficaram inviáveis por lá, pelo viés religioso e pelo próprio gosto dos novos donos. A emissora, que pretendeu um dia ser maior que a Globo, anda perdendo até para o SBT, mergulhada numa crise muito difícil, até de identidade.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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