Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Quero (voltar a) escutar vinil. Que aparelho de som preciso comprar?
Você já alugou seu apartamento com piso de taco de madeira. Já providenciou sua samambaia e sua rede de renda pernambucana. E agora, para finalizar o kit santa cecilier, nada mais resta do que adquirir um bom toca-disco.
Brincadeira à parte, esta é a pergunta que mais recebo de amigos que querem se entregar às delícias da mídia física e ao chamado "deep listening": que aparelho devo comprar?
Nesses casos, minha resposta não varia muito entre "depende" e "depende"
Depende da grana que você está disposto a pagar. Do quanto você se dedicará ao novo hobby. De como é sua relação com a música e os discos que você tem. Não temos resposta pronta.
Porque se sua ideia é só ouvir uns LPs empoeirados de vez em nunca porque isso é legal, sem se importar muito com a saúde deles e a qualidade do áudio, uma estilosa maletinha Crosley ou Raveo pode resolver bem o seu problema.
OK, eu prezo pelos meus LPs e quero usufruí-los com a qualidade analógica que merecem
diria você
Sábia escolha. Sendo assim, eu resumiria toda a coluna de hoje em apenas um verbete garrafal colorido:
Compre aparelhos de som separados e esqueça as vitrolas, que são os toca-discos que já vêm com alto-falantes embutidos.
Não, ao contrário do que muita gente pensa, toca-disco e vitrola não são sinônimos.
Mas o que significa exatamente comprar separado?
É adquirir, pelo menos, três aparelhos diferentes e conectá-los em um sistema modular. Parece complicado, mas não é. São eles: toca-disco, as caixas com seus alto-falantes e o receiver.
Não quero entrar em questões técnicas/audiófilas demais. Mas é importante você saber que seu "hi-fi" será formado por quatro partes: toca-disco, pré-amplificador, amplificador (ou receiver) e as caixas acústicas.
Há várias combinações possíveis dentro desse sistema: o pré-amp pode estar integrado ao toca-disco ou ao receiver, como no nosso trio citado mais acima. Mas você não precisa saber muito mais do que isso.
OK, mas qual toca-disco eu tenho que comprar? É melhor novo ou usado?
Existem marcas consagradas como a Technics, a Sansui, a brasileira Gradiente, a promissora Audio-Technica, entre tantas outras de tantas épocas diferentes que valem a pena.
Quanto ao debate novo x vintage: na opinião deste datilógrafo, isso importa pouco. Principalmente se o usado estiver em boa condição e você conhecer um bom técnico para emergências. Sim, esses professores pardais ainda estão por aí a um direct nas redes.
Uma dica necessária nessa seara: prefira toca-discos feitos com material sólido, que não sejam levinhos (estabilidade é importante na reprodução) e tenham um contrapeso no suporte do braço.
Mas que raios é um contrapeso?
É a pecinha que equilibra o braço do toca-disco e impede que ele pressione demais (esse é um dos problemas das maletinhas) ou de menos o seu amado LP (isso pode fazer a agulha pular).
Cada cápsula —a parte em que a agulha é conectada— tem um peso de tração projetado pelo fabricante para o disco rodar da forma mais harmônica possível.
E, para fazer a regulagem, você tem que girar o contrapeso até encontrar essa medida, conforme abaixo.
Outra dica: contar com um sistema de anti-skating, que impede o braço de patinar e arranhar o vinil, também faz diferença. Certifique-se de que o seu tenha um.
Upgrades
Uma das coisas mais legais desse tipo de toca-disco é que ele foi criado para receber upgrades. Dá para trocar e melhorar sua agulha, sua cápsula e até tapetinho que gira entre o prato e o disco. E isso faz diferença na qualidade do som.
Sobre caixas e receivers, para não dizer que não falei deles
A palavra principal aqui, mais do que potência ou watts, é compatibilidade. Caixas e receivers precisam possuir a mesma impedância ao serem plugados. Ela é medida em ohms e, caso haja divergência, seu som pode terminar estragado.
Fique esperto com essas informações, que estão nos manuais de instrução e na internet, em sites como Audiorama e Audio Service Manuals.
Resumo aos iniciantes:
- Compre toca-disco, receiver e caixas separadamente.
- Compre um toca-disco com contrapeso e anti-skating.
- Ver se receivers e caixas são compatíveis.
Mas e o preço dessa brincadeira toda?
Montar um setup legal para ouvir vinil (ou CD, se você adicionar um CD player no conjunto) não é exatamente barato.
Há muita gente vendendo na internet, e, se você souber comprar bem, não é difícil montar um vintage honesto por cerca de R$ 1.500 ou talvez um pouco mais.
É caro? É. E fica ainda mais levando em conta o país em que a gente vive e a crise pandêmica que não tem data para terminar.
Mas, caso sua casa não pegue fogo de repente ou exploda, esse é um conjuntinho que irá te acompanhar por muitos anos. Quem sabe por uma vida inteira.
E provavelmente você já gastou algo do tipo em um celular que em menos de quatro anos padeceu com sua obsolescência programada e precisou ser trocado, estou errado? Isso não vai acontecer com seu som.
Mas respeitemos. Cada um tem sua prioridade na vida.
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