Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Sempre achou fita K7 uma porcaria? Sinto em dizer que você foi enganado
Existe um axioma no universo da mídia física. Algo que poucos se arriscam a contestar: "CDs são bons, LPs são ótimos, mas as surradas fitas K7, com seu som ruim e limitações técnicas, simplesmente não prestam".
Se isso se impregnou como verdade na sua cabeça, eu tenho uma notícia para você.
Você foi enganado.
Como assim?
É isso mesmo. Essas icônicas fitinhas têm capacidade de soarem fantásticas, em alta definição e de maneira próxima à de um CD. Mas, para isso acontecer, você terá de usá-las em material ideal e equipamento adequado.
Para entender melhor o que estou datilografando aqui, é preciso saber que há quatro tipos diferentes de K7 em relação ao material empregado na fita magnética.
São eles
Tipo 1
As fitas de óxido férrico
As mais comuns e baratas, com qualidade sonora inferior. Mesmo assim, possuem desempenho interessante em baixas frequências, com graves distorcidos, que ajudaram a criar a estética musical low-fi.
Tipo 2
As de dióxido de cromo
Desenvolvidas pela Basf no início dos anos 1970, são conhecidas como "fitas de cromo" e representam uma clara evolução na fidelidade, com agudos mais profundos.
Tipo 3
As que misturam óxido férrico e dióxido de cromo
As chamadas "ferrichromes" misturam as duas anteriores, em dupla camada. Mas tinham problemas de projeto e permaneceram pouco tempo no mercado.
Tipo 4
As fitas de metal
O topo da pirâmide, reprodutoras de amplas frequências praticamente sem nenhum ruído. Ainda são muito resistentes ao desgaste. Também por isso, bem mais caras.
Fixou? Então já dá para compreender o equívoco na percepção do K7
No passado (e presente), os tocadores mais populares eram os portáteis, em geral mais baratos e de menor qualidade. É a mesma coisa que ocorre atualmente com maletinhas tocadoras de vinil (já falei sobre isso).
E o que as pessoas faziam na época?
Elas pegavam o aparelho portátil e gravavam músicas diretamente do rádio, em fitas do tipo 1. Percebe o problema? São três níveis degradação sonora. É claro que assim a fita vai soar como lixo.
o sincero Jarrett New, criador do ótimo canal Vinyl Eyezz, inspiração para esta coluna
Na contramão, como o próprio Jarrett diz, se você pegar uma fita de metal e gravá-la a partir de um toca-disco de qualidade, usando um tape deck igualmente excelente, o som que emanará das caixas periga te deixar marejado de alegria.
Mas se o K7 pode ser tão incrível assim, por que o tipo 4 não ficou popular como o CD e o LP?
Também me perguntei isso ao vasculhar sobre tema. Afinal, no Brasil e fora dele, a esmagadora maioria dos lançamentos acontecia via fitas tipo 1, incluindo aí as virgens.
O que aprendi com especialistas: elas ficariam caras demais para o consumidor, que gostou e se acostumou com as de óxido férrico. Fitas de metal têm alto custo de produção e matéria-prima limitada. E a justificativa vai além.
Você ainda tinha de ter um tape deck que tocasse metal. E eles eram caros. Nenhum 3 em 1 da Aiwa, por exemplo, tinha. Talvez ficassem mais baratos com o tempo. Mas aí o CD chegou e se popularizou, com melhor custo-benefício. Isso 'matou' esse tipo de fita
resume o produtor Fernando Lauletta, dono da Flap Studios, que já produziu K7
Ficou curioso(a) sobre as incríveis fitinhas de metal? Eu também fiquei
E aprendi que elas continuam sendo vendidas lá fora (assim como todas as outras), destinadas ao público audiófilo, que, como nos velhos tempos, ainda pode criar mixtapes em altíssima qualidade para presentear... outros poucos amigos audiófilos. É a vida.
Saudosismo à parte, a real é que os K7s são muito mais que objeto de desejo de puristas. São mídias afetivas, sem falar charmosas, e que já há alguns anos passam por um revival, que pode não chegar perto da febre do vinil, mas tem lá seu público cativo. No exterior, principalmente.
A boa notícia é que hoje você pode comprá-los baratinho em lojas e sebos
Aliás, diversos artistas e bandas, jovens e veteranos, nacionais e estrangeiros, vêm aproveitando a onda para lançar álbuns em fitas, que no Brasil são duplicadas por entusiastas e pela Polysom, nossa principal fábrica de LPs.
Esta aqui, com a trilha de 'Guardiões da Galáxia' --bem melhor que o próprio filme--, é uma belezinha
Mas então, senhor colunista, você vai passar o texto inteiro sem falar de problemas? Daqueles aparelhos que comiam e estragavam o K7? É isso mesmo?
Sim. Primeiro porque a coluna é minha. Segundo porque, sinceramente, isso acontecia só quando seu som era ruim ou se encontrava sujo demais. Ou quando a fita magnética já havia se desgastado em demasia. Simples assim.
Falando especificamente sobre formato, posso dizer que sou um grande apreciador do design do K7, cuja fita magnética permanece dentro de um pedaço de plástico rígido, superior ao CD e LP nos quesitos proteção e durabilidade.
Interessei e quero reviver meus K7s e comprar novos. Por onde começar?
Sem delongas, recomendo quatro dicas simples, dadas a neófitos pelo nosso amigo Jarrett New e que incrementarão a qualidade da sua experiência, independentemente do tipo de fita usada.
1. Escolha um bom tape deck em vez de players portáteis, como o walkman, e o conecte em um sistema modular.
a propósito, isto é um tape deck.
2. Prefira decks produzidos entre 1990 e 1995, auge da popularidade do formato. Eles contam com várias funções.
3. Entre elas, procure a "noise-reduction" da Dolby (tipos B, C e S) em decks com três cabeçotes e que comportem só uma fita por vez. A qualidade sonora agradece.
4. Evite os que tenham "auto-reverse" (para ouvir os dois da fita sem retirá-la), que com o tempo pode desalinhar os cabeçotes e prejudicar o som.
Pronto, agora é só se sentar, relaxar e curtir
E, como não me canso de escrever por aqui, o importante mesmo é você continuar tocando seu disco, seu CD, sua fita K7 e o streaming que roda no seu celular e mentalmente no interior do seu cérebro. A música não pode parar.
E até o próximo post.
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