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Clube do vinil: você pagaria R$ 1.000 por LPs escolhidos por outra pessoa?
Na última semana, minhas redes sociais foram tomadas por fotos e vídeos do brilhoso "Tim Maia Disco Club" (1978), clássico do Síndico que acaba de receber edição limitada em LP de 180 gramas. Vinil transparente, material gráfico inédito, capa dupla com relevo. Um acinte.
Com o título mais apropriado possível, esse clássico foi relançado com capricho pelo Noize Record Club, o clube de assinatura de discos da revista gaúcha Noize, que vem fazendo barulhos entre a nova geração de colecionadores.
Mas o que é um clube do vinil?
Funciona como os de livros, vinho, café ou qualquer outro item consumido por um público fiel, exigente e, por causa disso, boquisseco por exclusividade.
Como funciona
O assinante paga uma quantia fixa por determinado período e recebe mensalmente um LP novo, com edição limitada, escolhido e editado pelos criadores do clube. Já assinou revistas no passado? Não é muito diferente.
Um adendo interessante: quem não quiser gastar muito ou ficar na mão da curadoria do clube pode adquirir um disco específico do catálogo de forma avulsa.
Tendência
Mirando perfis e gostos dos mais distintos, esse modelo de negócio é uma realidade lá fora. Bandas como Metallica e gravadoras como a Third Man Records, do cantor Jack White, contam com seu próprio clube com lançamentos exclusivos.
Até a gigante Amazon se dobrou e anunciou recentemente seu "Vinyl of the Month Club: The Golden Era", dedicado a LPs clássicos dos anos 1960 e 1970. Mas, infelizmente, ele não chegou ao Brasil e nem tem previsão.
Nossa realidade terceiromundista nos limita a apenas três clubes de assinatura nacionais. São eles:
Noize Record Club
Foi lançado em 2014, como projeto paralelo da revista que estava há sete anos no mercado, autodenominando-se o primeiro clube de discos da América Latina. E deu muito certo. Hoje, ele é o carro-chefe da publicação.
Ofertando o kit LP+ revista, especializou-se em lançar novos artistas e, aos poucos, foi se abrindo a nomes consagrados da música brasileira. Já são 52 lançamentos.
Exemplos de lançamentos
"Melhor do que Parece" (O Terno), "Os Afro-Sambas" (Baden Powell and Vinícius de Moraes), "O Dia em que a Terra Parou" (Raul Seixas), "Little Electric Chicken Heart" (Ana Frango Elétrico), "Sinto Muito" (Duda Beat).
Preços
- R$ 85 por mês (sem frete) em assinatura mensal
- R$ 95 por mês (sem frete) em assinatura bimestral
- R$ 135 (sem frete) em compra avulsa
Três Selos
O clube foi criado em 2019, a partir da união de três selos independentes: Assustado Discos, EAEO Records e Goma Gringa, que recentemente anunciou a saída do projeto.
O assinante ganha disco, cartaz e um livreto sobre a obra. A edição de conteúdo é da jornalista Lorena Calábria. O perfil de lançamentos é semelhante ao da Noize, mas com destaque maior à MPB contemporânea.
Exemplos de lançamentos
"Besta Fera" (Jards Macalé), "Banzeiro" (Dona Onete), "Longe de longe" (Karina Buhr), "Bacurau" (trilha sonora do filme), "O Real Persiste" (Arnaldo Antunes).
Preços
- R$ 120 por mês (sem frete) em assinatura mensal
- R$ 1.620 por ano (com frete) em assinatura anual
- R$ 160 (sem frete) em compra avulsa
Vinil Brasil
Pertence à fábrica de discos homônima, sediada em São Paulo, uma das duas únicas do país e que também é um selo musical, tocado pelo músico e produtor cultural Michel Nath.
Chegou ao mercado no fim do ano passado e, como diferencial, oferece a assinantes desconto de 5% na loja da Vinil Brasil, com edições de artistas consagrados ou distantes dos holofotes.
Exemplos de lançamentos
"O Som das Américas" (Banda Black Rio), "Jogo das Semelhanças" (Edgard Scandurra), "Sintoniza Lá" (BNegão e Seletores de Frequência), "A Dança dos Não Famosos" (Mundo Livre S.A.), "Vamo que Vamo que o Som Não Pode Parar" (Thaíde).
Preços
- R$ 155 por mês (com frete) em assinatura mensal
- R$ 1.350 por ano (com frete) em assinatura anual
Exposto tudo isso: vale a pena assinar um clube do vinil?
Se a ideia é começar uma coleção de discos de música brasileira —os clubes daqui não licenciam álbuns internacionais—, a resposta não poderia ser outra além de "com certeza".
Apesar de mais modestas que as estrangeiras em termos de design e material gráfico, as edições brasileiras estão começando a ficar mais caprichadas e geralmente possuem boas prensagens.
O preço dos LPs, um pouco menor do que o praticado em lojas, mesmo com atual escassez de matéria-prima e a inflação do mercado, também é um atrativo.
A pergunta de R$ 1.000 por ano: mas por que eu pagaria para outras pessoas escolherem um disco para mim?
Afinal, a grana está curta para o brasileiro. Mas acho importante ressaltar aqui: curadoria, esta arte praticamente em extinção na era da overdose de informação, ainda importa —e muito.
Confiar em um criterioso trabalho de seleção, edição e apresentação de um trabalho artístico, seja ele qual for, torna-se ainda mais imperativo nos tempos em que vivemos. É impossível dar conta de tudo sozinho.
E você sente falta do que as boas rádios tocavam no passado? Da programação da antiga MTV? Da seleção de filmes com os quais canais como Telecine e HBO um dia nos brindaram? Dá para dizer que seu gosto e inclinações são consequência de tudo isso?
Sim? Então uma boa seleção é tudo que você ainda precisa. Basta escolher o clube de vinil que alinhe melhor com seu gosto, bolso e expectativas. E torcer para que outros, com gêneros e produtos sonoros variados, aportem e atraquem por aqui.
Enquanto isso, até o próximo post!
PS: como estou datilografando? Se você tem alguma crítica ou sugestão para esta coluna, não deixe de enviar uma mensagem para mim no Instagram (@hrleo) ou Twitter (@hrleo_).
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