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Como o LP 'Garota de Ipanema' ajudou a Interpol a prender um foragido
E quando um disco de vinil ajuda a polícia a encontrar um dos homens mais procurados do planeta? Alguém que, apesar de operar crimes, também sabe reconhecer o valor e a beleza da mídia física e da música brasileira? Aconteceu e virou "manchete" no jornal britânico The Times.
O italiano Roberto Vivaldi, 69 anos, foi preso na Venezuela após passar 25 anos foragido, condenado por uma série de crimes financeiros, incluindo lavagem de dinheiro e falência fraudulenta. E o que ele estava fazendo por lá? Administrando uma loja de discos.
Mas a melhor parte é como ele foi descoberto
Após décadas de tentativas frustradas, investigadores conseguiram rastrear o paradeiro do fugitivo usando as redes sociais e um software de dados. Ele vivia sob identidade falsa na ilha de Margarita, paraíso turístico no mar do Caribe, e se mantinha vendendo LPs usados na internet.
O comércio de Vivaldi seguiu a tendência mundial provocada pelo isolamento social e decolou na pandemia. Mas, para o infortúnio do criminoso, isso ocorreu bem na época em que o caso foi reaberto pela Interpol italiana.
Em entrevista ao The Times, Alessandro Gallo, chefe da investigação, contou que a desconfiança cresceu quando agentes notaram que um perfil monitorado havia recebido uma felicitação de aniversário em um dia que não coincidia com a data de nascimento cadastrada.
E o que a Interpol fez?
O que qualquer um com bom senso faria. Decidiu encomendar alguns LPs a Vivaldi a partir de uma conta falsa. Entre eles, uma cópia do brasileiro "A Garota de Ipanema".
"Quando os discos chegaram à Itália, limpamos as capas em busca de impressões digitais e encontramos o que queríamos. Algumas das impressões correspondiam às de Vivaldi", contou Gallo.
Mas ainda faltava descobrir a última peça do quebra-cabeça: o endereço dele. Passando-se por colecionadores curiosos, investigadores então se aproximaram e tornaram-se amigos de Vivaldi. Disseram querer se mudar para a Venezuela para comprar um restaurante no local, no qual ele atuaria como intermediário.
Um encontro foi marcado no estabelecimento, onde Vivaldi foi preso em flagrante. "Quando ele apareceu, descobriu que era polícia venezuelana esperando", disse o investigador. Segundo o jornal, o caso aconteceu em 2021 e o fugitivo já foi extraditado para a Itália, onde cumprirá pena após passar 22 anos escondido na Venezuela.
Mas que disco é esse?
Não está totalmente claro. O jornal fala em "uma gravação da década de 1960 de 'Garota de Ipanema' pelo compositor brasileiro Antônio Carlos Jobim". Mas Tom nunca lançou um LP ou compacto com o título da canção imortalizada pela parceria Stan Getz-Astrud Gilberto.
O mais provável é se tratar da trilha sonora do filme "Garota de Ipanema" (Leon Hirszman), editada em 1967 pela Fontana Records com canções, em sua maioria, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes e participação de Chico Buarque. A protagonista do filme, Márcia Rodrigues, ilustra a capa posando de biquíni.
Na lista de intérpretes estão Elis Regina, Nara Leão, Tamba Trio, Baden Powell, Quarteto em Cy e MPB-4 e Ronnie Von. Vinicius de Moraes assina a produção, com arranjos de Eumir Deodato. É um dos discos brasileiros mais procurados por colecionadores no mundo.
Duas curiosidades: o título exibe a grafia "Garôta", com o acento circunflexo que caiu na reforma ortográfica de 1971. E, apesar do nome, "Garota de Ipanema", de Tom e Vinicius, não integra o repertório do álbum como a conhecemos, apenas uma adaptação orquestrada batizada de "Tema da Desilusão".
O disco, no momento em que você lê este texto, deve estar na mão dos agentes da Interpol.
Sorte a deles.
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