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Quem é a 'bruxa' misteriosa que assombra a capa do álbum 'Black Sabbath'?
Eu não acredito em bruxas. Mas que elas existem, existem. São lendas e frutos da perseguição às mulheres desde cruéis tempos inquisitórios. Mas uma bruxa em particular tem história na cultura do disco: a que estampa a capa do álbum de estreia do Black Sabbath, que esta semana completa 52 anos.
Parada defronte a uma erma propriedade rural, entre árvores e folhas secas de cores infernais, essa figura pagã habitou por décadas o imaginário heavy metal e, apenas recentemente, teve sua identidade revelada em uma reportagem da revista Rolling Stone americana.
O nome dela: Louisa Livingstone, uma então jovem modelo britânica de cerca de 18 anos recrutada em uma agência de Londres pelo fotógrafo Keith Macmillan. Ele havia acabado de se formar na faculdade e recebido carta branca da Vertigo Records para a conceber a arte de estreia do grupo, nova aposta da casa.
E a história dessa capa é fascinante
Após se desbundar com o conteúdo sombrio e pesado de "Black Sabbath", com seus temas ligados à mitologia e ao ocultismo, Macmillan decidiu que a foto representativa precisava ser tirada ao ar livre, em um local tão sinistro e assustador quanto os riffs de Tony Iommi e a voz rouquenha de Ozzy Osbourne.
O local escolhido por ele foi o moinho Mapledurham, uma propriedade do século 15 localizada em Oxfordshire a cerca de uma hora e meia do centro londrinho, às margens do rio Tâmisa. Na concepção do artista, que conhecera o cenário durante a faculdade —era próximo à casa de amigas—, o lugar contava com uma atmosfera misteriosa perfeita.
A estrela da sessão de fotos Louisa Livingstone, que media 1,50 m e se assemelhava mais a uma versão da Wandinha de 'Família Adams' do que exatamente a uma Bruxa, não fora escalada por acaso.
"Ela era muito pequena, muito, muito cooperativa. E eu queria alguém pequeno, porque isso dava à paisagem um pouco mais de grandeza. Fazia todo o resto parecer grande", disse Keith Macmillan à Rolling Stone.
Trivia: durante a sessão, a modelo havia sido orientada a vestir apenas uma capa de veludo. O conceito inicial era de um ensaio sexy. Mas o resultado daqueles cliques perdidos não agradaram. Um álbum chamado "Black Sabbath" —especialmente sua faixa-título— lançado pela banda Black Sabbath demandava uma abordagem no mínimo mais sinistra.
Foi quando Macmillan teve a ideia fotografá-la em plano aberto à beira do Tâmisa, com as mãos como que segurando a abertura da roupa, uma "bruxa Iemanjá" a emergir de águas fumacentas e enfeitiçadas. A magia aconteceu.
Tive que acordar por volta das 4 horas da madrugada. Keith corria com gelo seco, jogando na água. Não parecia funcionar, então, ele acabou usando uma máquina de fumaça. A coisa foi apenas tipo 'fique parada aí e faça isto ou aquilo´
lembrou Louisa, que diz ter poucas lembranças do dia
Para compor o ambiente, o fotógrafo ainda providenciou um corvo taxidermizado, que foi atado a um toco de árvore que aparece na contracapa do álbum, e um gato preto vivo, que ele diz ter sido segurado por Livingstone na sessão. Ela, no entanto, não se lembra do animal.
Como bem sabem os fãs, essa imagem, produzida entre novembro de 1969 e fevereiro de 1970 —ninguém sabe ao certo—, entrou para a história da cultura pop e se tornou um elemento indissociável da identidade do Black Sabbath e do metal. Mas antes disso ela teve de passar por um tratamento pré-Photoshop.
Inspirações surrealistas
Admirador do belga René Magritte, Macmillan utilizou o famoso filme infravermelho Kodak Aerochrome, projetado para fotografias aéreas, para conferir ao retrato um aspecto rosado, que tingiu demoniacamente os tons de verde da vegetação.
Em laboratório, foram feitos ajustes químicos "para obter aquele tipo de sentimento um pouco sombrio, surrealista e maligno". O filme foi submetido a um processo em que era fervido e logo depois congelado, resultando em uma imagem granulada e indefinida. Por causa disso, muitos creem até hoje imaginam se tratar de uma ilustração.
"Quando me vi a capa, achei muito interessante, mas pensei: 'Bem, pode ser qualquer uma'. Então não é como isso mexesse no meu ego. Mas, sim, eu achei que era uma capa muito legal", lembrou a ex-modelo, que nunca havia dado entrevistas sobre o assunto nem sido reconhecida publicamente pelo trabalho. Injustamente.
Mas o que fez Louisa depois desse trabalho?
Livingstone deu continuidade à carreira de modelo fotográfica e de atriz nos anos 1970, atuando em montagens no National Theatre de Londres e em filmes e séries da TV britânica. Quase sempre em papéis de garotas jovens e adolescentes, dada sua fisionomia diminuta.
Na música, conseguir estrelar outra capa, a do álbum "Beginning From an End" (1971) do grupo inglês Fair Weather, também clicada por Keith Macmillan. Sem o mesmo destaque, ela ainda foi uma das mulheres nuas fotografadas para a arte do disco "Jazz" (1978) do Queen.
Depois de se aposentar das artes cênicas, a britânica estudou na Faculdade de Estudos Astrológicos em Londres e atualmente toca um projeto independente de música eletrônica chamado Indreba. "Achei muito terapêutico fazer a música, mas nunca fiz nada para tentar vendê-la. É um negócio muito difícil de se entrar."
Em agradecimento aos excelentes serviços prestados, bem que os integrantes do Black Sabbath poderiam dar uma mãozinha (com chifrinho) na empreitada. Louisa merece.
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E até a próxima datilografada!
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