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Por que o vinil HD deu errado e por que a antiga tecnologia é tão incrível
Audiófilos e colecionadores já desconfiavam. E não sem razão. Depois de uma série de atrasos, o vinil HD, projeto ambicioso que prometia criar um novo disco de altíssima resolução sonora, foi oficialmente suspenso por seus desenvolvedores.
A empresa austríaca Rebeat, que há seis anos anunciou a novidade com pompa e entusiasmo, admitiu publicamente que os testes de qualidade do formato apresentaram resultados decepcionantes. Não há mais previsão de lançamento.
O que deu errado?
Nas palavras de Güenter Loibl, pai do "HD Vinyl", o sinal vermelho foi acendido logo que a equipe percebeu que a atual tecnologia de laser é incapaz de fornecer a precisão e o alcance mínimo que nós, ouvintes, merecemos.
Explicando melhor: durante a fabricação, o molde dos discos não seria mais cortado com um torno mecânico tradicional, mas com uma máquina de gravação a laser. O aparelho seria capaz de perfurar sulcos mais granulares e bem desenhados, aumentando a definição do som.
Esse era o discurso de marketing da Rebeat e a aposta de seus engenheiros, mas algo deu errado
O acetato [material usado como base para fabricar vinis] tem um alcance dinâmico de até 90db. O máximo que os toca-discos conseguem reproduzir é em torno de 60-65db. Alcançamos 50-55db, o que simplesmente não é o bastante para um produto de alta qualidade.
explicou Güenter Loibl ao site Digital Music News
Mas o que isso quer dizer?
Colocando da maneira mais básica: o alcance dinâmico, medido em decibéis, é a diferença entre os sons mais silenciosos e os mais barulhentos de um sinal.
Quanto maior esse alcance, mais agradável e "completa" tende a ser a audição. Vocais e instrumentos das músicas ficam mais nítidos. E esse "detalhe" era importantíssimo para o "HD Vinyl".
A ideia da empresa era entrar de sola no mercado de LPs premium, aqueles feitos a partir da chamada "half-speed mastering", a masterização a meia velocidade que produz os melhores cortes possíveis. A técnica foi utilizada por selos como a hoje contestada Mobile Fidelity.
Entre outros aspectos técnicos, o projeto ainda previa que qualquer toca-discos pudesse reproduzir os vinis. Segundo a Rebeat, eles custariam "apenas um pouco mais" que os LPs normais e contariam com uma fabricação "ecológica", econômica no uso de compostos químicos. Uma das principais demandas da atual indústria.
Uma patente foi registrada e aportes milionários foram feitos, incluindo dinheiro de investidores e empréstimos por parte do governo austríaco. O produto deveria ter sido apresentado à imprensa em 2019, antes do início da pandemia, quando as vendas de LPs explodiram no mundo após mais de uma década de crescimento acelerado.
De acordo com a Luminate, o comércio de discos de vinil bateu a marca de 19,4 milhões de unidades durante o primeiro semestre de 2022 apenas nos Estados Unidos, superando o mesmo período de 2021. Um montante "pequeno" frente aos números do streaming, mas suficiente para sustentar uma indústria pujante e lucrativa. Dezenas de fábricas estão sendo abertas no mundo visando atender a demanda.
Por essas e outras razões, as notícias sobre os problemas com o vinil HD soam tão frustrantes para seus criadores e a esfera colecionista —incluso este escriba.
Mas ainda há esperança
Apesar dos entraves, o projeto da Rebeat, que não é o primeiro e provavelmente não será o último a mirar um sucessor analógico ao vinil, não morreu. Güenter Loibl afirma que todas as etapas de desenvolvimento passarão por uma reavaliação para uma possível retomada.
Para ele, o ponto crucial foi ter minimizado o poder da tecnologia de fabricação analógica, criada pelo alemão Georg Neumann há quase cem anos, que possui uma precisão impressionante no corte de acetatos e ainda hoje é padrão.
"Um torno de corte bem calibrado e conservado corta modulações menores que 1 nanômetro. Você não consegue observar essa modulação em um microscópio, mas consegue ouvi-la. Apenas comparando, a produção do microchip mais sofisticado atualmente oferece precisão de 4 nanômetros. O torno de corte é de 5 a 10 vezes mais preciso que isso."
Segundo a empresa, um novo planejamento já está saindo do papel
"Para alcançar a precisão digital necessária com a tecnologia atual, demoraria de 15 a 20 anos. Portanto, precisaremos de uma abordagem técnica diferente", afirma Loibl. "Ainda este ano, faremos testes com laser controlado por um sistema analógico. Se forem bem-sucedidos, reiniciaremos o 'HD Vinyl'."
Muitas perguntas permanecem no ar. Diante de tantas iniciativas semelhantes que terminaram frustradas, estaria nosso amigo CEO sendo otimista demais ou ainda há salvação para a empreitada? Além da pequena parcela de ouvintes audiófilos, quem compraria esses discos a ponto de torná-los comercialmente viáveis? Parafraseando o meme futebolístico, só o tempo dirá?
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E até a próxima datilografada!
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