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O que está escrito no papelzinho japonês que faz um vinil custar tão caro?
Um papelzinho em forma de cinto pode fazer seu disco de vinil valer uma pequena fortuna —às vezes não tão pequena assim. Falamos do preço de um carro usado.
Para a mágica acontecer, basta que um fino pedaço de folha seja envolto na margem esquerda da capa e contenha os maravilhosos ideogramas e silabários japoneses.
Você sabe o que é um obi de disco?
É a tira informativa que acompanha a embalagem de LPs fabricados no Japão.
A palavrinha japonesa significa "cinto"—abreviação de "obigami" (obi = cinto; gami = papel), ou 'cinto de papel'.
Ali são impressas informações básicas sobre a obra: nome do artista, título, data de lançamento, gênero, valor.
Alguns indicam até quando varejistas podem reduzir o preço tabelado do disco.
E todos os obis são alvo da cobiça de colecionadores do mundo.
Mas por que ele torna o disco especial?
Porque são itens colecionáveis, que incrementam as já caprichadas edições japonesas, famosas por seu belos encartes e prensagens de excelência, uma das mais valorizadas do mundo.
Exemplo
Uma edição original japonesa de "The Dark of the Moon", em bom estado de conservação, é oferecida em média no site discogs por US$ 100 dólares (pouco mais de R$ 500) sem o obi.
Com ele, o valor mais que dobra e salta para R$ 1.100 —e não estamos considerando os gastos com frete.
Eis um obi básico
- O nome da gravadora ou o logo de série do disco
- Lista de músicas (pode ser selecionada ou completa)
- Nome do artista e do álbum
- Um teaser com informações sobre o artista e a gravadora
Como nasceu o obi
Para entendermos a origem dele, precisamos voltar ao chamado milagre japonês (1950-1990), quando país se abriu e cresceu exponencialmente após a Segunda Guerra Mundial.
Durante quatro décadas, a bonança econômica gerou uma demanda vertiginosa por cultura pop ocidental, então consumida por uma população jovem e curiosa.
Mas as mentes do marketing japonês identificaram um problema logo de saída: consumidores tinham hábito de adquirir produtos ocidentais "pela capa", sem saber exatamente do que se tratava.
Eram tempos de informações escassas, e o idioma funcionava como barreira. Quase tudo vinha impresso em inglês, em alfalbeto romano, não na escrita do país.
Gravadoras e editoras tiveram a ideia de traduzir todas aquelas informações de forma simples e barata. Assim nasceu obi.
O formato se popularizou rapidamente como sobrecapa de livros e também passou a acompanhar embalagens de discos, CDs, K7s, LaserDiscs, games e DVDs de produtos ocidentais.
A estratégia foi tão bem aceita que mesmo títulos de artistas japoneses começaram a receber a faixa, que até hoje é produzida em diferentes tipos.
Nações vizinhas na Ásia também adotaram o obi, e mesmo o ocidente chegou a imprimir suas peças para dar peso a edições especiais.
Obis viraram febre a partir da década de 1960 e se transformaram em uma das mais sólidas tradições do colecionismo.
Três curiosidades
1. No início, o obi do vinil era uma faixa da altura da capa com uma pequena aba dobrada pra trás em cada ponta. Mas o design fazia o papel escorregar. Isso levou à criação do tipo "cinto", que dá uma volta completa ao redor da embalagem e se tornou padrão.
2. O termo obi é mais usado no ocidente. Como o papel se assemelhava a uma cinta, colecionadores pegaram emprestado a palavra japonesa que também designa as faixas dos quimonos. No Japão, o obi é conhecido como "tasuki" —ou simplesmente "faixa".
3. A ironia é que a tira foi desenvolvida como mero adereço comercial. Servia apenas para auxiliar o ato da compra e nada mais. A ideia era que, lidas as informações sobre o produto, ela fosse imediatamente descartada.
Muita gente de fato fez isso no início, e hoje prensagens originais japonesas com o obi são extremamente raras e caras, com preços elevados à casa do milhar.
Há obis que são obras de arte e do design
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E até a próxima datilografada!
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