Topo

Leonardo Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pesquisa: 50% dos que compram vinil não têm toca-discos. Dá para julgá-los?

Pexels
Imagem: Pexels

Colunista do UOL

02/03/2023 13h55

Você entra em uma loja —física ou virtual—, escolhe o desejado disco dos Beatles, Fleetwood Mac ou Taylor Swift, novinho em folha, e corre até sua casa sorrindo só para ...colocá-lo na estante. E dali ele não sairá.

Essa cena curiosa se tornou comum desde que o vinil voltou a ser consumido em grande escala. Pessoas estão comprando LPs sem a possibilidade de escutá-lo. E já temos números sobre isso.

50% dos que adquiriram discos em 2022 nos Estados Unidos, maior mercado global e termômetro de tendências, não possuem toca-discos ou vitrola, indica o estudo anual da Luminate (ex-Nielsen e MRC Data).

Infelizmente, não há dados semelhantes no Brasil, onde impera o comércio de usados e uma quase total ausência de informações sobre o segmento.

A pesquisa recém-divulgada mostra ainda que as vendas de discos de vinil desaceleraram fortemente após explodirem na pandemia —crescimento de 4% no ano passado, ante 51% em 2021 e 46% em 2020—, o que já era esperado.

Consumidores interessados em música passaram a gastar em outros produtos de entretenimento fora do confinamento, como shows, por exemplo.

Mas nada é tão curiosa quanto a informação dos "unidos dos sem toca-discos", bonde que agrega parcela considerável da geração Z, os nascidos entre 1997 e 2012.

Jovem em loja de discos - Unplash - Unplash
Imagem: Unplash

Mas por que existe essa contradição? O que está acontecendo com essas pessoas?

Discos não são troféus. Foram feitos para serem ouvidos, como já martelei nesta coluna. E é fato que existe todo um "hype" em torno do formato e do colecionismo, o que inflaciona preços e dificulta a vida de quem deseja aderir ao hobby.

Mas aqui cabe um parêntese importante. Nada mais cômodo ao amigo colecionador, experiente e feliz proprietário de um toca-discos direct-drive com receiver e caixas potentes, do que julgar os mais jovens por causa disso.

Estamos diante de um quadro de múltiplas nuances, e precisamos entendê-las

  1. A maior parte dos discos são adquiridos por jovens adultos nos Estados Unidos. Gente de 20 e poucos anos. Muitos estudantes sem dinheiro para bancar um bom aparelho de som.
  2. É fato que a indústria de toca-discos não acompanhou o boom do vinil --nem a própria indústria do vinil conseguiu seguir o aumento na demanda sem crise. Poucos aparelhos novos são produzidos. E conjuntos modulares são caríssimos.
  3. Muita gente já entendeu que recorrer às maletinhas, as vitrolas mais baratas, não é uma boa ideia --já escrevi sobre como elas são problemáticas-- e que, às vezes, é melhor economizar do que gastar pouco e mal.
  4. Possuir uma obra física de um artista querido virou um certificado de fã dedicado. Uma prova de que a música realmente importa para você em tempos de frieza e casualidade do streaming. Para muitos, ter como ouvi-lo e se entregar ao ritual da mídia física, como diria o vidente André Rizek, pode ficar para depois. E está tudo bem.

Uma dica deste colunista caso você esteja na situação dos novinhos norte-americanos desprovidos de player: dá para acessar este mundo com um conjunto básico de qualidade decente, por pouco mais de R$ 2.000 (mais barato que muitos celulares).

E sem a necessidade de se aventurar no delicado mundo dos usados —encontrar bons técnicos de manutenção é um desafio hoje.

Exemplo disso é o combo formado pelo toca-discos automático da série AT-LP60, da Audio Technica, e um par de caixas de som ativas R1000T4, da Edifier. Esse duo dispensa amplificador/receiver para funcionar e está à venda em grandes redes como a Amazon.

Você obterá um som de qualidade audiófila ou excelente? Longe disso. Mas sem dúvidas é um começo promissor a uma distância segurança das vitrolinhas destruidoras de discos. Ideal para saber se a experiência do disco de vinil foi feita para você.

Já comprou um LP, CD ou K7 sem ter como reproduzi-lo? O que pensa disso? Comente mais abaixo ou mande uma mensagem para mim no Instagram (@hrleo) ou Twitter (@hrleo_). Quer ler mais textos? Clique aqui.

E até a próxima datilografada!