Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.
Preço de carro: como descobrir quanto vale uma coleção de discos de vinil
Colecionar discos é uma renovação constante de obsessões. A mais recente deste colunista colecionador: decidi catalogar meus mais de 400 LPs, edição por edição, no maior e mais confiável banco de dados do gênero na internet: o site Discogs.
Mas pra quê? Organizar uma coleção é uma excelente maneira de entendê-la e gerenciá-la. Mais do que isso: no Discogs, conseguimos estimar quanto ela vale financeiramente.
Quando mergulhei na aventura de colecionar em 2007, primórdios do "retorno" (aspas necessárias, dada a relatividade do fenômeno) do vinil, a diferença entre o preço de dois cachos de banana e o de um LP era praticamente zero.
Especulações e hype à parte, discos hoje são ouros feitos de plástico. Valorizam-se mais e mais a cada dia. E não existe forma melhor de aferir valores do que recorrer ao Discogs, maior marketplace de discos do mundo, com 500 milhões de álbuns cadastrados.
Como fazer? Veja um guia expresso
Entre no Discogs e crie uma conta clicando em "Cadastrar-se".
Vá até a busca no topo da tela e procure pelas edições dos discos que você possui.
Na página da edição do disco, ache o botão "Adicionar à Coleção" e clique. O disco então será enviado à seção "Coleção", acessível no ícone no canto superior da página.
Cadastrados todos os itens, o Discogs mostrará no topo da tela o valor estimado da coleção, baseado em vendas concluídas dos mesmos discos no site.
Serão mostradas três referências de valor: mínimo, máximo e mediano.
Mínimo: valor estimado a partir do preço mais baixo que o disco já foi vendido no Discogs.
Máximo: valor estimado a partir do preço mais alto que o disco já foi vendido no Discogs.
Mediano: o valor estimado a partir da tendência central de preços, eliminando parte das distorções.
Três dicas
Guie-se pela mediana, que tenderá à estimativa mais realista. Principalmente se, em geral, seus discos estiverem em bom estado de conservação.
Caso estejam quase todos mal preservados, com riscos, sujeira e chiados evidentes durante a reprodução, foque no valor mínimo.
Estão novos, livres de riscos, sujeira ou chiados? Baseie-se em algo perto do valor máximo.
Mas nem tudo é tão simples assim
Para se conferir precisão à estimativa do Discogs, será preciso descobrir a exata edição do disco, e isso não é uma missão fácil.
Podemos nos deparar com centenas de prensagens diferentes, e seus respectivos preços variam consideravelmente.
Prensagens são importantes no colecionismo. Algumas são famosas, de qualidade superior e por isso soam melhor e são mais caras do que outras.
Como checar a prensagem
Procure pelo nome do disco no campo de busca e, nas opções disponíveis, clique na que constar "todas as versões". A página seguinte exibirá todas as edições de um disco cadastradas no Dicogs (incluindo as de CD e K7) .
Com seu disco em mãos, procure pelo país de origem (é brasileiro? Americano? Inglês?) na contracapa ou selo e procure a edição correspondente na lista.
Encontrou mais de um LP do país? Bata o número de série do disco e compare todas as informações gráficas possíveis do disco e suas posições (títulos, logos, números etc).
Se o jogo de 7 erros acima não resolver o seu problema, vá ao último recurso: coloque o "runout" (o espaço "morto" entre a última faixa interna do LP e o selo) contra a luz e compare os códigos de matriz gravados ali com os que a página do disco no Discogs te indicar.
Pontos negativos do Discogs
Eis algo que me incomodou bastante nesta experiência maluca: a maioria do meus LP tem origem brasileira, e, como o Discogs é um site global, muitas edições nacionais jamais foram negociadas ali, e por isso ficam sem estimativa de preço.
Após quatro dias cadastrando 423 LPs (excluí CDs e K7s, que ficarão para um segundo momento), isso ocorreu com 31% dos meus discos.
Outro limitador: há a chance de um disco ter sido negociado poucas ou apenas uma vez, e isso tende a distorcer os valores para cima ou para baixo.
Mas isso não te impossibilita de estimar o valor de sua coleção
Existe a nossa amiga chamada regra de três. Vejamos.
Dos meus 423 discos, 291 ganharam cotação no Discogs.
Desses, as somas totais foram de R$ 14.186,50 (mínima) R$ 39.599,88 (máxima) R$ 22.181,85 (mediana)
Como fujo de arranhados e a maior parte dos meus discos está em estado exemplar de conservação, pegarei a referência da mediana e acrescentarei 33% do valor. Isso me dá R$ 29.500.
Dividindo esse número pela quantidade de discos que foram cotados pelo Discogs, chego a uma média de R$ 101,37 por unidade.
Multiplicando R$ 101,37 pelo total de LPs da minha coleção, 423, o produto é: R$ 42.881.
Esse é o valor de mercado aproximado do meu acervo, composto principalmente por clássicos (outros nem tanto) de rock, jazz, soul e música brasileira, valor comparável ao de um carro usado no Brasil (não tenho carro e nem pretendo ter).
Achou muito? Obviamente, a lei geral de preços da economia também se aplica ao Discogs: quanto mais cultuado (procurado) é um disco e menor é a sua oferta (exemplares disponíveis), mais caro ele será.
Antes que o leitor se apresse a apontar uma exagerada inflação —concordo— e que os preços de anúncios do Discogs, a maioria em dólar e euro, difere dos praticados no Brasil —discordo frontalmente—, faço uma ressalva: essa é apenas uma estimativa. Uma referência. E ela é, sim, realista, mesmo diante da volatilidade do mercado.
O fato é que, com a procura crescendo exponencialmente e ainda sem sinal de arrefecimento, discos de vinil viraram um investimento como qualquer outro. Por isso, saber o quanto eles valem é imprescindível, e não apenas para colecionadores.
Quem quer vender LPs e não sabe quanto cobrar precisa dessa informação
Semanalmente, recebo mensagens de leitores que herdaram LPs e não tem a menor noção do mercado. Você é um deles? Para todos os efeitos, acesse o Discogs.
Quer entrar de cabeça no colecionismo e construir um acervo valioso? Tente priorizar a qualidade sobre a quantidade. Mais vale um "Clube da Esquina" original na mão do que dezenas de Julio Iglesias voando na sua sala de estar.
E você? O que acha de catalogar a coleção? Escreva no campo de comentários ou mande uma mensagem para mim no Instagram (@hrleo) ou Twitter (@hrleo_). Quer ler mais textos? Clique aqui.
E até a próxima datilografada!
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