Leonardo Rodrigues

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Reportagem

Você conhece este homem? Ajude a decifrar um mistério da música brasileira

Um dos compactos mais caros do Brasil foi lançado por um pintor de paredes totalmente desconhecido. Tão desconhecido que ninguém sabe se ele morreu, virou poeira estelar ou acabou abduzido.

Disco "perdido" de samba amador, "Discos Voadores dos Mundos Siderais", de Altino Soares da Silva, está avaliado em R$ 12 mil na plataforma Discogs — o dobro de um Tim Maia "Racional" de 1974.

São duas faixas registradas precariamente no início dos anos 1980: a título e a romântica "Maria Cecilia".

Altino desafia os limites da afinação cantando que discos voadores existem e que vieram à Terra para tratar de intercâmbios comerciais.

"São aparelhos a jato e possantes / Eles pesquisam a Terra / São de outros planetas distantes / Até o ano 2000 / Eles se identificarão", entoa ele, acompanhado do conjunto Os Populares e coral.

Contracapa de "Discos Voadores dos Mundos Siderais", de Altino Soares da Silva
Contracapa de "Discos Voadores dos Mundos Siderais", de Altino Soares da Silva Imagem: Reprodução

O século virou e, infelizmente, ninguém se identificou — nem o impávido Altino, que aparece jovem e de terno na capa.

Do outro lado do disco, chama a atenção um desenho em que dois seres do espaço, com imensas cabeças e uma espécie de pé de pato, se apresentam a um homem.

A cena seria um retrato da realidade. Altino jurava ter sido abduzido, e a história teria inspirado a letra de "Discos Voadores dos Mundos Siderais".

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"Relato Interplanetário de uma viagem a outro planeta com Altino Soares da Silva e dois Estraterrenos (sic). Pilotando em uma nave que eles deram o nome de Discos Voadores", descreve texto na contracapa, com erro de português.

Por que esse disco vale tanto?

Primeiro: restaram poucas cópias do compacto. Altino o distribuía quando prestava serviços.

O disco foi editado pela Disco Som Produções, do maestro gaúcho Francisco de Assis Nazaret, o Maestro Caroá, que produziu as faixas.

O selo fundado em 1977 no Rio, com sede em Copacabana, foi pioneiro em gravar artistas independentes. Era só chegar com um pouco de dinheiro e um sonho. Foi o que Altino fez.

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"Discos Voadores dos Mundos Siderais" era apenas o nono disco da "gravadora de aluguel".

Segundo: Altino Soares da Silva é um dos maiores mistérios da música brasileira.

A faixa-título foi postada na internet há seis anos, e a quase total falta de informação sobre ele gerou uma espécie de "culto".

Vai virar livro

O pouco que se sabe sobre o autor do samba dos ETs é fruto do esforço do historiador maranhense Bruno Azevêdo, criador da Pitomba! Livros e Discos e especialista em cultura underground.

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O pesquisador descobriu Altino há dois anos e, de início, pensou que era piada.

Hoje, prepara um livro sobre a história: "Discos Voador existem!: Contatos Imediatos com Altino Soares da Silva", previsto para 2025.

Bruno recorreu a um colecionador, mandou remasterizar as músicas e as colocou no Spotify, de forma não oficial. Ele pretende agora relançar o compacto junto do livro.

Não é para lucrar com a música, mas para ver se a família sai da toca. Mas, sinceramente, não acho que exista família. Bruno Azevêdo

Pernambucano radicado no Rio

Pesquisas documentais e entrevistas indicam que Altino nasceu em 1928 em Bonito, em Pernambuco. Tinha duas grandes obsessões: música e extraterrestres.

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Ele se mudou para o Rio nos anos 1950. Enquanto ganhava a vida pintando paredes na zona sul, escrevia letras. Chegou a se casar na época, mas a união durou pouco mais de um ano.

Altino não teria deixado herdeiros nem família. Documentos encontrados não mencionam ninguém. "Mesmo o atestado de casamento e nascimento não informa irmãos", diz Bruno Azevêdo.

Foto de Altino Soares da Silva
Foto de Altino Soares da Silva Imagem: Reprodução

"Ele era filho de uma doméstica viúva. Só tirou certidão de nascimento quando tinha mais de 20 anos. O CPF está cancelado. Era aposentado."

Ganhar dinheiro com música nunca aconteceu.

Sem instrução musical, ele escreveu e chegou a registrar seu trabalho em editoras musicais e no Arquivo Nacional, que abriga 20 de suas letras — 13 com temática espacial.

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"A sensibilidade dele aponta mais para as ondas ufológicas dos anos 40 e 50. A. A referência dele é Vênus. E os alienígenas são vistos não como invasores, mas como exploradores. As letras inéditas dele falam sobre a chegada à Lua e a colonização do espaço."

Último registro

O último registro que se tem de Altino é de 1992, quando lutou na Justiça pela casa que alugava no centro do Rio. Ele venceu o processo, mas não apareceu para receber o dinheiro.

O ano é o mesmo da morte do maestro Caroá. O provável, diz o historiador, é que Altino também tenha morrido na época — ou abduzido de novo. Vai que...

Uma dos poucos que dizem tê-lo conhecido é Ronaldo Di Pádua, vocalista da banda carioca Os Copacabanas, O músico mostrou o compacto em uma entrevista para Jô Soares no SBT em 1991.

Altino foi chamado ao programa. Nunca apareceu. Mas nunca é tarde para surgir uma pista.

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"O lançamento da obra do Altino no streaming é uma etapa da minha pesquisa. Ainda me falta ir ao Rio fazer algumas entrevistas e bater na porta de todos os endereços registrados que tenho", conta Bruno.

Você conhece Altino Soares da Silva? Sabe de algum parente dele? Escreva no campo de comentários ou mande uma mensagem para mim no Instagram (@hrleo) ou X (@hrleo_). Quer ler mais textos? Clique aqui.

E até a próxima datilografada!

Reportagem

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