Saída do poderoso chefão da Globo: o que significa o fim da era Ali Kamel?
Foi com aplausos que os jornalistas da Globo Rio receberam a notícia, na manhã de hoje, de que Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo, deixará o cargo em dezembro.
Foram 34 anos de trabalho na Globo, sendo 22 em cargos de liderança, com uma marca registrada de gestão, que pôde ser sentida internamente, mas também vista pelo público na forma de noticiar do canal.
Ali Kamel, bastante respeitado no jornalismo, é uma figura conservadora, algo que, cada vez menos, combina com a nova imagem que a Globo quer passar. A emissora tem como novo pilar a diversidade e a intenção de abraçar novos públicos.
O "poderoso chefão" é fã do tradicional, do terno e gravata, da figura imponente de William Bonner na bancada de um jornal, e preferia dar sempre mais espaço para repórteres tradicionais e experientes— os chamados "galáticos" internamente.
O conservadorismo de Ali Kamel também é refletido no formato das reportagens. Tons mais "despojados" eram pouco aceitos pelo diretor, que aos poucos precisou se abrir para o jornalismo online, e fortalecer os produtos digitais de jornalismo da Globo. Ele era um dos que mais dizia prezar pelo "padrão Globo de qualidade".
Internamente, eram poucos os subordinados que tinham mais contato com Ali Kamel. Ele era batizado pelos funcionários como "o 3 letras" [tudo para evitar que seu nome fosse dito] e normalmente só se comunicava por meio de longos emails. Entre esses comunicados estavam os de demissão ou mudança de cargos no jornalismo.
Os e-mails de demissão assinados por Ali Kamel chegaram a virar "piada" nos bastidores no ano passado, conforme reportou esta coluna.
É que com a grande demanda de e-mails - foram baixas de nomes como Carlos Tramontina, Chico Pinheiro, Ari Peixoto e Eduardo Faustini, entre outros - acreditava-se que as despedidas não eram de fato escritas pelo chefão, e sim por sua secretária, numa espécie de "copia e cola".
Nem mesmo na redação, entre os jornalistas, ficava o diretor. Ele só aparecia para falar sobre decisões sensíveis. Ali Kamel, visto como uma "figura intocável" internamente, trabalhava em uma sala num prédio anexo ao do Jornalismo da Globo, no Jardim Botânico, no Rio, em um andar ocupado por executivos da emissora.
O fim da era Ali Kamel é interpretado, conforme ouviu este colunista de profissionais da Globo, como uma oportunidade de inovação no jornalismo, e de uma chance da emissora realmente apresentar um estilo mais atual de levar a notícia, priorizar a diversidade e colocar mais mulheres em cargos de liderança de telejornais. Mulheres essas que não foram lembradas na dança das cadeiras anunciada hoje. A emissora optou pelo formato de sempre.
Conforme um comunicado divulgado pela Globo, o cargo de Ali Kamel será ocupado por Ricardo Villela a partir do dia 1º de janeiro de 2024.
Ali Kamel vai assumir a recém-criada posição de Coordenador do Conselho Editorial do Grupo Globo. "Trabalho junto com o Ali desde o início da década de 90, uma relação profissional de muita confiança e respeito. Ao convidá-lo para me ajudar no Conselho, minha ideia é continuar a contar com sua capacidade de reflexão e análise. Estou convencido que será muito positivo para todo o grupo", disse João Roberto Marinho, segundo a nota.
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