Leo Miggiorin antes de se declarar gay: 'Fingia por medo de ser rejeitado'
Leonardo Miggiorin, 41, cansou de ter medo de falar sobre a sexualidade e de fugir da luta por pautas relevantes à comunidade LGBTQIA+. O ator, um dos destaques no elenco de "The Boys in The Band", espetáculo que estreia dia 31 em São Paulo, se vê livre para falar de amor e para participar de um trabalho que conversa diretamente sobre diversidade.
Em entrevista exclusiva à coluna, Miggiorin desabafa sobre ter fingido por muito tempo ser uma pessoa diferente do que era dentro de casa. Em maio deste ano, uma declaração do ator viralizou após compartilhar nas redes sociais mensagens ao namorado e dizer não ser mais bissexual e, sim, gay
Precisava fingir que era uma pessoa diferente e ter um comportamento diferente do que eu tenho em casa. Por medo de ser rejeitado, de apanhar, de não trabalhar mais e de não ser aceito. Foram anos de terapia, anos sofrendo. Tive crises de ansiedade e pânico, e fui orientado a não expor isso. Leonardo Miggiorin
Não falar de forma natural sobre sua sexualidade era, para Miggiorin, uma solução para não perder trabalhos. "Tinha medo de ficar preso num arquétipo [de fazer apenas papéis gays]. Fugi do meu lugar de fala por medo. Lutava por outras pessoas, mas me esquivava da pauta gay por receio de me comprometer neste sentido profissional."
Com diversos trabalhos na Globo e Record, sendo o último deles em "Vicky e a Musa", do Globoplay, o ator afirma que conseguiu lidar melhor com o assunto após se sentir mais à vontade dentro de casa.
Tenho pai coronel. Tenho outra vivência. Precisei me sentir à vontade dentro de casa para ter coragem de falar no mercado. Independentemente do que possa vir, é um caminho de autoaceitação. De me aceitar e de me posicionar para fortalecer a nossa luta.
'Cansei de fazer teatro fora de cena'
O espetáculo "The Boys in The Band", que será relançado no Teatro Procópio Ferreira, em São Paulo, é considerado a primeira peça de temática abertamente gay. A primeira versão brasileira estreou na cidade em 1970. Após cinco décadas, a montagem volta com Miggiorin no elenco. "Cansei de fazer teatro fora de cena", diz ele, que une a celebração de sua liberdade pessoal com a comemoração pelo novo trabalho.
Na montagem, Miggiorin será Donald e antecipa algumas características do personagem. "Ele tem questões de humor e é muito conservador. Ele é um pouco bipolar, depressivo, tem crises de ansiedade. Eu já vivi isso. Já fiquei muito deprimido, muito relacionado a essa questão da sexualidade. Não é bem a questão do Donald, tem mais a ver com a questão de pertencer, de se sentir inserido e acolhido."
Miggiorin também se preocupa com a questão do acolhimento, principalmente no mercado de trabalho.
Por muito tempo me senti de fora dos grupos, mas não percebia que era eu quem me tirava. Me afastei por medo. Agora é hora de tomar posse do meu lugar como artista. Quem eu sou. Se eu não tiver mais um convite para trabalhar, por conta disso [ser gay], vou construir minha própria peça. O mundo hoje nos dá a possibilidade de construir a nossa própria história.
Elenco de peso
Com direção de Ricardo Grasson, "The Boys in The Band", além de Leonardo Miggiorin, traz Bruno Narchi, Caio Evangelista, Caio Paduan, Heber Gutierrez, Heitor Garcia, Júlio Oliveira, Mateus Ribeiro, Tiago Barbosa e Otávio Martins no elenco.
Chegar neste espetáculo, aos 41 anos, que trata do universo gay, universo LGBTQIA+ — do qual faço parte — é um ato político, um ato de coragem. É uma peça que traz alegria, humor, comédia, mas que trata do universo masculino. Debate o que é ser homem na nossa sociedade — e a diversidade dentro deste universo, além do universo gay.
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Quero receber"The Boys in The Band"
Estreia 31 de outubro --sessões às terças e quartas-feiras, às 21h
Onde Teatro Procópio Ferreira (R. Augusta, 2823)
Ingressos de R$ 60 a R$ 120
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