Demissão de Rodrigo Bocardi expõe 'teto de vidro' e relação com políticos

A coluna ouviu fontes que trouxeram à tona um panorama dos bastidores da demissão.

Bocardi, em paralelo à Globo, mantinha abertas três empresas em seu nome: a Free Live Produções e Editora (desde 1997), a DigLog Produções e Editora (desde 2015) e a Digital 720 (aberta em 2017). As empresas estão registradas como "produtoras de vídeo e publicidade".

Só o fato de Bocardi ter empresas com foco em comunicação já pode ser algo encarado, dependendo da interpretação da emissora, como uma quebra do Código de Ética. Isso porque não é permitido que jornalistas do canal façam trabalhos extras.

Apenas em alguns casos específicos, a Globo autoriza a prestação de serviços fora da emissora.

Ainda segundo fontes da coluna, Bocardi atuava de forma bastante presente nestas empresas - inclusive oferecendo serviços de media training (treinamento para lidar com a imprensa) - e mantinha uma relação muito próxima com empresários e políticos, principalmente da região da Grande São Paulo.

Vale lembrar que Lívia Torres, repórter da editoria Rio, foi demitida da Globo por muito menos em junho de 2023. Ela foi desligada por apresentar um evento da CBF como freelancer, algo "extra" semelhante ao que vários outros jornalistas do canal fazem e não foram punidos.

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'Teto de vidro' e sucessão de Bonner

A dedicação de Bocardi a projetos paralelos à Globo estava, segundo fontes, ligada ao fato de o jornalista saber que não teria mais chances de crescimento na emissora.

Segundo apuração da coluna, o âncora não aparecia como uma opção da direção de jornalismo para ser o sucessor de William Bonner no JN. Isso porque ele era visto como "jornalista com teto de vidro", e a Globo não queria arriscar. Bocardi sabia disso.

Algumas polêmicas que envolveram o nome de Bocardi justificam o "teto de vidro", entre elas um suposto vídeo íntimo que viralizou em 2018 -e que depois foi apontado como uma "montagem".

Bocardi também já viralizou com polêmicas ao vivo: em 2020 foi acusado de racismo por telespectadores após perguntar se um atleta era quem "pegava bolinhas" no clube onde jogava tênis; já em 2023, a um homem que levantou o dedo do meio para a câmera, ele respondeu: "Vai você".

Foto com prefeito

Após o anúncio da demissão, uma foto de Bocardi ao lado do prefeito de Mongaguá (SP), Paulo Wiazowski Filho (PP), viralizou nas redes, mostrando que o jornalista realmente mantinha uma relação com políticos da região.

A foto foi publicada em novembro de 2024, dias após as eleições municipais. Paulinho havia acabado de vencer a disputa para comandar a prefeitura da cidade da região metropolitana da Baixada Santista.

No mesmo aniversário, havia outros políticos, que também aparecem em imagens. Entre eles, o deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB), Doutor Luizinho, deputado federal pelo RJ e líder dos Progressistas, e Felipe Rominha, vereador em São Vicente (Baixada Santista), também pelo Progressistas.

Em nota enviada à coluna, a assessoria de imprensa do prefeito de Mongaguá, Paulo Wiazowski, esclareceu que Rodrigo Bocardi jamais esteve na casa do político, muito menos compareceu à comemoração de seu aniversário em Mongaguá. Informou, ainda, que o aniversário do político é em agosto, e não em novembro.

Sobre a foto publicada, afirma que ela não condiz com o conteúdo apresentado. "Ela foi tirada em um evento diverso, durante momento de lazer onde se encontravam o político e o jornalista".

Ainda na nota, a assessoria esclareceu que o encontro não teve relação alguma com a demissão de Bocardi. "Consideramos um equívoco grave, com requintes dolosos, utilizar a foto de Paulinho para ilustrar uma informação completamente desprovida de veracidade".

A coluna busca contato com os demais políticos para entender a relação deles com Rodrigo Bocardi.

Até o momento da publicação desta reportagem, Rodrigo Bocardi não havia se pronunciado sobre a demissão na Globo. Ele foi procurado pela coluna, mas não retornou às mensagens.

A Globo diz que não irá mais se pronunciar sobre o ocorrido e alegou que não comenta as decisões do compliance, departamento que avalia conduta dos funcionários e checa se as regras internas e leis estão sendo cumpridas. A emissora foi procurada novamente e não comentou sobre o apurado nesta reportagem.