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Sucesso de Douglas do vôlei é primeira evidência do legado de Gil do Vigor
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Estou fascinada olhando meu celular.
Na telinha, um homem de 2 metros de altura pula em cima da famigerada cama de papelão na Vila Olímpica japonesa. Ele escuta um "crec". Se assusta, mas não deixa de sambar que nem passista (das boas e espalhafatosas). Bastam 15 segundos, estou fascinada. De onde saiu esse menino?
Douglas saiu de Santa Bárbara do Oeste. Foi lá que ele nasceu, em 1995. Há cinco anos, nas Olímpiadas do Rio, foi campeão olímpico: isso mesmo, saiu dali com uma medalha de ouro. O jogador revelou ser homossexual em 2018. Desde então, já declarou várias vezes sua orientação sexual nas redes sociais. Michael fez o mesmo em 2011. Lilico na década de 90. Mas só Douglas foi tão acolhido.
Então por que você não tinha ouvido falar dele até anteontem, quando seus stories cheios de carisma foram compartilhados por todo mundo que você conhece?
Primeiro, claro, porque ele está na Vila Olímpica. O assunto gera um interesse. Mas peraí... você tinha parado para ver alguém postando stories em camas de papelão antes? Douglas tem carisma. Ele cita Britney Spears em seus vídeos. Ele brinca com o companheiro de quarto hétero. Ele canta Pabllo Vittar em seus vídeos. E ele faz isso há muito tempo. Mas agora o grande público acolheu de vez. Por que? Ele nos lembra alguém de quem gostamos muito...
O Vigor do legado
Gil inventou coreografias no Big Brother. Exaltou Pabllo. Fez duetos improváveis com homens hétero que normalmente não desfilam pelados de mãos dadas com gays. Mas estão se descontruindo, como Fiuk. Fez duetos impagáveis com homens hétero que fazem o estilo troglodita, como Arthur. Magnético, seduziu todo mundo. A gente gostou.
Dias desses, vendo uma das várias propagandas protagonizadas pelo economista acadêmico, pensei: "Que saudade de Gil todo dia". Ok, sinto o mesmo com Juliette. Eu realmente os trato como amigos. Pelo tanto que eles estão lucrando, mais gente pensa como eu e gasta só porque eles disseram que o produto é bom. Quem ousa duvidar dessa gente legal demais?
Gil rompeu uma barreira importante. Ele botou na janela o gritinho efeminado, o rebolado homossexual que era "de bom tom" reprimir no ambiente de trabalho. Ele não saiu do armário, o armário já estava aberto. Ele escancarou a porta e desceu até o chão fazendo Tchaki Tchaki e dizendo para os héteros aqui de fora em tom de deboche: "olha lá dentro e vê o que a gente está fazendo". Beijou Lucas para todo mundo ver. Tem eleição de melhor beijo do ano? Eu voto nesse. Citou Britney, exaltou Madonna, venerou Pabllo. O sintetizador já começa na minha cabeça com vinho do bom.
Quando Gil mostrou para todo mundo o que havia dentro do armário, arrombou as portas do nosso coração, como canta sua ídola. O pessoal adorou. Queremos mais. Quem recusaria alegria em 2021?
Douglas vai no mesmo caminho. Já me imagino fazendo algo que não pretendia: vendo qualquer jogo do Brasil nas madrugadas das próprias semanas e torcendo fervorosamente para ele arrebente na quadra.
O jogador levantou uma medalha de ouro do lugar mais alto do pódio nos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. O que ele levantou agora de tão especial para conseguir de um dia para o outro 1 milhão de seguidores?
Uma bandeira. Bem bonita, das cores do arco-íris. E importante, já que estamos no país que mais mata pessoas LGBTQIA+ no mundo. Se todo mundo quiser carregar essa bandeira também, sobra menos espaço para a violência.
O caminho é longo e estamos muito longe do ideal. Michael e Lilico já haviam se declarado gays — atitudes muito importantes para a aceitação no esporte — mas não foram acolhidos como hoje. O carisma e a coragem de Gil do Vigor e Douglas ajudam o país a dar um passo importante na direção do amor.
Que bom que vocês existem. Obrigada.
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PS: Douglas não tem 2 metros de altura, é importante me corrigir. Ele tem 1,99m.
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