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Rayssa será ídola de geração de meninos no skate. Isso é gigante
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Quando Rayssa Leal, aos 13 anos, levanta a medalha de prata sorridente no Japão, sua fadinha azul que viralizou em 2015 fazendo manobras de skate no Maranhão fica para trás. Seu nome se tornou maior que a personagem que a fez conhecida e possibilitou uma carreira no esporte.
Rayssa briga com adultos e ganha deles faz tempo. A diferença é que agora todo mundo sabe.
Nessa manhã de segunda (26) no Brasil, anoitece em Tóquio. Rayssa viveu um dia de emoções. Vai dormir com 3 milhões de seguidores no Instagram, o triplo de dois dias atrás. Desses tantos milhões, quantos são meninos espalhados pelas ruas, esperando para dar seu drop? E meninas? Certamente muito mais do que anteontem.
A importância de ter alguém para se inspirar
Nos Estados Unidos, há mulheres no skate desde os anos 60. Patti McGee se profissionalizou na Califórnia, aos 19 anos, em 1965. Foi capa da Life plantando bananeira em um skate, fazia propaganda de telefone como a dona de casa comportada que corria de skate para atender uma ligação. No Brasil, há nomes fortes desde os anos 80: Jéssica Lengel, Maria da Graça, Larissa Bagsan, Myrian Belloni, Leni Cobra e Mônica Polistchuk.
Mônica foi pioneira no skate vertical, aos 53 anos, posta "uns pulinhos", como ela diz, no Instagram até hoje. É também chef de cozinha. E vieram as próximas gerações: Karen Jonz, que desistiu de competir em Tóquio porque não tinha a modalidade vertical. Hoje é comentarista da SporTV e chorou com a vitória de Rayssa. Letícia Buffoni e Pâmela Rosa estão entre as melhores do mundo e competiam com a Fadinha ontem fazendo manobras.
Tive muitos amigos que viviam atrás do skate na nossa adolescência, como tive muitos que viviam atrás da bola de futebol nos campinhos de terra. Algumas mulheres, como essas citadas, estavam com eles. Outro grupo grande de meninas como eu estava fazendo outra coisa: brincando de Barbie, por exemplo. Nunca achei que o skate do meu irmão fosse algo para mim.
A vitória e a visibilidade de Rayssa mudam esse comportamento. A menina sorri serenamente, medalha na mão, como quem diz: quem vem comigo? 2 milhões de pessoas a seguiram de um dia para o outro.
A importância de saber que é possível
É lindo ver Karen Jonz chorando a emoção da repercussão do vice-campeonato. A lição que fica é: quando Tony Hawk, skatista americano, compartilhou o vídeo de Rayssa vestida de fada, informou ao mundo que era possível. Na pista, esperando para dar seu drop, meninos agora não só dividem o espaço com elas: eles também querem ser como elas.
Tem espaço para todo mundo, claro, que tem. A questão é que precisa vir alguém antes com o pé na porta, descer o corrimão, cair, levantar mais forte e fazer uma dancinha depois. A entrada de um esporte de rua popular como esse nos Jogos Olímpicos é importante porque muda o comportamento das pessoas. A presença das meninas, cheia de carisma e graça, é motivadora para gerações futuras de meninos e meninas brasileiros que as terão como ídolas.
O "drop" do skate é uma metáfora legal: para se jogar na pista, você precisa ter confiança. Não dá para dropar com displicência demais, ou com muita cautela. É a segurança que vemos em Rayssa, desde seus 7 anos de idade, fazendo manobras em pistas e corrimãos com suas asinhas azuis de fada. É a segurança com a qual ela levanta a medalha em Tóquio. Dropando na medida certa. Fazendo a gente daqui ter vontade de dropar também.
Ela tem só 13 anos, dorme com um bichinho de pelúcia na cama de papelão do Centro Olímpico. Sorri de aparelho. Agora sem asas azuis — ela não precisa mais delas para voar longe.
Skate é para corajosos. Rayssa Leal é gigante. E dona de uma magia de fada, faz a gente acreditar que pode também.
A gente pode falar mais disso no Instagram.
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