Geração 30 e poucos: a vida melhora quando estamos olhando italianos fofos

Prócida é uma ilhazinha de 4 km quadrados e 10 mil habitantes a 45 minutos de balsa da italiana Nápoles. Daqueles lugarzinhos de cartão postal que você fica com vontade de morar. É um dos cenários da série da Netflix "Geração 30 e poucos", que também se passa em Nápoles — cidade grande na costa, com charme caótico das lambretas da Itália.

Só os cenários valeriam a incursão na série ternurinha — uma boa comédia romântica tem o poder de nos tirar da amarga realidade de ser brasileira nesse começo de década. Mas tem mais. A série tem aquele gostinho da nossa adolescência catastrófica via internet discada.

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Traz também a memória da vida sentimental frustrada que insistíamos em dizer que era ruim antes da pandemia. Olhando daqui, veja bem: o que eram alguns desencontros amorosos diante disso? Pelo menos eu podia deitar chorando no colo dos meus amigos enquanto eles me faziam cafuné.

É exatamente isso que Daniel (Angelo Spagnoletti) faz quando chega em casa arrasado. Em seu apartamento, hospeda Lu (Gianluca Colucci), seu amigo desde os 90. Um rapaz com tiradas geniais e um medo danado de tirar as relações do plano virtual e colocá-las na prática. É, Lu tem um quê de todos nós em tempos de pandemia.

Daniel deita no colo de Lu, que lhe faz um cafuné consolador. A cena é difícil de ver na vida real em relações entre homens. O machismo estrutural muitas vezes impede que se tenha gestos de carinho até com os filhos do sexo masculino. Que dirá com o brother da escola, do bairro, do jiu jitsu. Daniel e Lu se abraçam desde os anos 90 e acham natural se consolarem com um cafunézinho. Acreditem, meninos: nós, garotas, fazemos isso desde sempre também.

O trio tem essas caraterísticas de todo mundo: sabem valorizar a amizade, vivem uma vida ordinária de frustrações ou dificuldades amorosas e continuam, apesar de tudo, tentando.

A série começa com a descrição de uma cena que pode ser familiar a todos, mas ninguém confessa. Num encontro amoroso de aplicativo, Daniel não tem nenhum interesse na garota que acabou de conhecer. Mas aceita que deve transar com ela por educação, já que é o que ela espera também. Educação é o eufemismo aqui para a preguiça absoluta de dizer não. Você vai me dizer que isso é um absurdo, eu vou te dizer que acontece com todo mundo, sim. Eu chamo de sexo constrangido para evitar constrangimentos. Não é recomendável, de fato.

Nessa crueza de vida real com a colorida arquitetura do Sul da Itália emoldurando, temos Matilda (Cristina Cappelli), que tem um quê de Alinne Moraes, e charme suficiente para apaixonar o maior dos incrédulos no amor. Matilda tem o noivo perfeito. E estranhamente, está em dúvida se quer ficar com ele. Sua perfeição é o seu defeito. Quem não tem ninguém, vive triste por isso. Quem tem alguém, bem, não tem certeza de nada. E encontra Daniel ao acaso, entre drinques.

A fórmula perfeita do que a gente espera da vida quando a vida não é bem o que a gente espera.

Quando a internet era discada, a gente demorava um pouco mais para perceber que tinha problemas amorosos, mas demorava bastante também para consertá-los. Agora, com essa internet rápida que temos ao alcance de um clique... a gente não aprendeu nadinha.

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