Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Jornal Nacional ajudou público a entender o constrangedor 7 de setembro
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O feriado foi meio engasgado para a maioria dos brasileiros que, atônitos, de dentro de casa, assistiram compatriotas saírem as ruas em várias cidades do Brasil na terça (7). A pergunta geral da população que não estava vestida com a camiseta da seleção ou levantando faixas de intervenção militar e voto impresso era: "mas o que os apoiadores do governo querem?"
William Bonner e a equipe do Jornal Nacional mais à noite tentaram responder essa pergunta. Não de maneira opinativa, e, sim, levando a sério o princípio do jornalismo e entrevistando grandes especialistas brasileiros em cada um dos assuntos abordados.
Sabemos que o país tem problemas. Assolado há mais de um ano e meio pela maior pandemia do século, centenas de milhares de famílias estão de luto. O governo não agiu de acordo com as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde, maior especialista mundial no assunto) e entramos em 2021 num buraco ainda pior que 2020. Seguimos em desrespeito às normas e nas ruas ontem era raro ver alguém usando máscara.
Paralelamente a isso, vimos também o desmatamento crescer, o que interfere diretamente no clima urbano. Explicando de maneira simplista: menos chuva, mais temperatura extrema, pior qualidade do ar. Outra consequência é o perigo de um apagão. A corrupção, uma das instituições mais tradicionais do país, segue firme. Cortinas de fumaça são criadas diariamente para que os problemas da inflação e desemprego pareçam menores do que são — na hora de encher o tanque ou comprar carne, entretanto, eles ficam bem visíveis.
Mas por que nenhum cartaz levantado raivosamente pela massa verde e amarela nas ruas ontem trazia essas pautas? Repito a dúvida: o que as pessoas nas ruas queriam, afinal?
Os apoiadores queriam apoiar
O povo brasileiro, explica William Bonner, não estava nas ruas a favor do presidente ontem. Quem estava era uma parcela dele, composta pelos apoiadores de Jair Bolsonaro. Com números, o telejornal mostrou a desaprovação do presidente. E constatou que quem se manifestava, cerca de 12% dos eleitores, era o núcleo que faz o que o presidente mandar. Assim fica mais fácil entender as bandeiras nonsense espalhadas pelas ruas. Não estava ali o desejo de um povo, mas sim de pessoas que querem apoiar um homem. Entendi.
O jornal todo foi contundente pautado apenas em fatos. Ali não coube achismos. Usou as imagens das ruas, falou com experts nos temas, explicou assim o que estava acontecendo. "O desrespeito à democracia com as cores de nossa bandeira", Bonner diz ao abrir o programa. "Discurso golpista" e "fere a constituição" foram outras das expressões usadas.
O Jornal Nacional explicou parte por parte o discurso difícil de entender de um inflamado presidente na tarde de terça. É compreensível que tenha sido eleito com a maioria dos votos pré-pandemia em 2018? É, sim. Difícil é entender porque as pessoas tiraram suas camisas da seleção brasileira da gaveta e foram para as ruas, sem máscaras, ainda em uma pandemia, para defender o incompreensível frente a tantas outras prioridades.
A jornalista Aline Falcone, do SporTV, afirmou ontem no Twitter que se lembra de um tempo em que as pessoas sentiam vergonha de parecerem pouco inteligentes (uso aqui o eufemismo propositalmente). Recorrer à imprensa, entender o que dizem os especialistas sobre qualquer assunto — especialmente aquelas decisões que são contra a lei — pode ajudar a parecer um pouco mais inteligente. Ontem o Jornal Nacional foi exatamente nesse ponto para explicar de uma forma simples e muito clara o que parecia surreal demais para ser compreendido.
Ninguém pode se recusar a cumprir decisão judicial, como promete o presidente aos brados com o microfone nas mãos. Isso é contra a lei. E desobedecer a lei transforma as pessoas em bandidos.
Sobre bandidos, bem, o pessoal que estava na rua no feriado costuma ter uma opinião bem contundente sobre o assunto. Eu normalmente discordo.
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