Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Luis Gustavo: domingos nunca mais terminaram tão leves como em Sai de Baixo
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Os domingos nos anos 90 tinham um quê de melancolia, a roupa para passar, o resumo do futebol, alguma lição de casa que ficou para a última hora. E então Sai de Baixo: um programa gravado em um teatro, em um apartamento fictício do Largo do Arouche, cenário tão bem-feito que parecia real.
O domingo terminava com uma cara de redenção, porque a gente sabia que ia rir. O Vavá de Luis Gustavo cuidava da casa toda, um tipo de gerente do caos. Os outros personagens amontoavam estereótipos, mas Luis Gustavo era engraçado por ser uma ilha de razão na sala daquele apartamento onde moramos também por alguns anos. Sai de Baixo era conforto, quando você sabia que a segunda era inevitável, mas tinha ali um pouquinho de graça ainda, num último suspiro do dia. O riso é libertário, a gargalhada é um sofá.
Coincidentemente nesse domingo (19), o riso de Luis Gustavo se cala e eu lembro então daqueles domingos que terminavam às lágrimas de tanto rir.
Falabella e Aracy gargalhando em cena, Luis Gustavo segurando a bronca seríssimo, profissional, para o show continuar, como se não rir, naquele contexto, fosse a vitória de um duelo. Gentil, deixava que ríssemos nós. Obedecíamos.
Aquela sensação de leveza nos acompanhou por anos. E acompanha ainda hoje, num tempo oposto daquele, repleto de ausências e de sisudez. A Globo ou a TV brasileira ainda não conseguiu entrar em nossas casas com um humorístico de sucesso estrondoso como Sai de Baixo. Aquele conforto que não nos sai da memória não se repetiu ainda, 20 anos depois. Nunca mais nos sentimos tão em casa em nenhum apartamento como naquele tempo em que passávamos as noites de domingo no Arouche, com Vavá.
O artista se vai e deixa as sensações no público para sempre. Que ofício mais bonito é a arte. Obrigada, Luis Gustavo.
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