Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Mariana Lima não fala só de ser bi ou abrir casamento: é sobre ter espaço
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Existe algo de nossa criação monigâmica que acha um absurdo quando duas pessoas informam que vivem em um relacionamento aberto. Por mais que alguns saibam que ninguém tem nada a ver com as escolhas do outro, o julgamento sempre aparece. Temos o estigma de que só a fidelidade vai trazer estabilidade. E que qualquer coisa que seja diferente do matrimônio tradicional é errado, promíscuo, desonesto e mais algum adjetivo pejorativo que você queira porventura incluir.
Talvez venha daí o barulho causado pela entrevista dada pela atriz Mariana Lima sobre seu casamento aberto com o ator Enrique Diaz. Em casas separadas há dois anos, ela afirma que os dois vivem um amor profundo, "com tesão profissional e sexual". Isso, entretanto, não a impediu de se apaixonar algumas vezes, inclusive por mulheres.
Enrique e Mariana estão juntos há 25 anos. Ela era uma jovem de apenas 24 anos quando começaram a namorar. Parece natural que um casamento tão longevo tenha passado por transformações. Muita gente nos moldes monogâmicos não chega a um quarto de século juntos. E há quem chegue, mas não consegue dizer sinceramente as coisas que Mariana, ainda apaixonada pelo marido, diz com a maior tranquilidade: "Sempre tive certeza de que nada substituía o que eu tinha com ele." É bonito ver um amor assim.
A declaração de Mariana sobre o seu padrão de relacionamento e a bissexualidade choca as pessoas. Sim, infelizmente há ainda quem afirme que a atriz cita o casamento é aberto para "tentar induzir outros a viverem essa promiscuidade". Acho improvável que essa seja a intenção, visto que eles não ganhariam nada com isso.
Quem seria induzido a abrir a relação ao ouvir alguém falando sobre isso? Certamente pessoas que têm muita vontade de abrir a relação e precisam de um empurrãozinho de coragem.
Se este não é seu caso, não há com o que se preocupar. É possível respeitar o modelo de amor de Mariana e Enrique e manter o seu, se esse te faz bem.
Mas toda essa conversa tira o foco do ponto central do que diz a atriz: ela precisa ficar sozinha às vezes. Decidiu morar em outra casa para ter espaço. Ficar longe do marido, para ela, não é desamor, e sim o oposto disso.
É muito difícil para as pessoas admitirem que precisam ficar sozinhas, mesmo que suas relações não sejam sufocantes. Ter espaço é importante. Não à toa, estamos vindo de uma pandemia repleta de divórcios. A ausência de espaço mina as relações.
Dar muita importância a esse modelo familiar é uma estratégia para sobreviver. Nesse núcleo, a mulher é imprescindível de tal forma que acha que isso é confortável. Simone de Beauvoir discorda e afirma que agir assim pode tornar a mulher um parasita do marido e do filho. A frase forte faz sentido, mas é difícil de admitir. Como no meme, existe o questionamento: eu estou vivendo ou apenas sendo esposa e mãe?
Mariana diz com tranquilidade que está vivendo — amando o marido como amou nos últimos 25 anos, mas capaz de estar só e se apaixonar por mulheres e homens também. Mais do que fazer sexo com mais gente, Mariana nos lembra que somos indivíduos, apesar dos relacionamentos estáveis que temos.
Seu casamento pode não incluir fazer sexo com terceiros, mas pode ser aberto o suficiente para ter espaço para si: ler uma tarde inteira, caminhar todo dia, quem sabe até fazer uma pequena viagem e entrar no mar sem se preocupar com mais ninguém?
Ser aberto é fazer o que a gente precisa. E é só o indivíduo que sabe o que é melhor para si.
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