Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Briga no vôlei: por que desenho de Superman bissexual incomoda tanta gente?
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Maurício, jogador de vôlei da seleção brasileira, não esconde suas opiniões homofóbicas. O método é curioso. Ele batalha pelo direito de criticar um beijo gay enquanto diz que precisa ser respeitado. Diz que é apenas o seu jeito de pensar, de ser de direita, de respeitar a família... desde que haja nessas famílias a certeza de todos serem heterossexuais.
Confuso, para não dizer ilógico.
A briga dessa vez foi porque Maurício ficou ofendidíssimo com a imagem do filho do Superman, nos quadrinhos, beijando outro homem. Pois é, o personagem másculo se revela bissexual na nova fase da HQ. Acompanha os tempos: em 2021, os jovens sabem que não precisam esconder desejos com medo da aceitação.
Enquanto os homens de meia idade se estapeiam nas redes sociais criticando um beijo entre homens ilustrado, seus filhos podem estar aceitando a diversidade na vida real — e nem deveria ser diferente. Evoluímos. Quem vem?
Maurício começa a criticar o Superman bissexual, como se dependesse da heterossexualidade de um herói fictício o bom encaminhamento da família. O mundo cai em cima dele, pois não há mais espaço para esse tipo de opinião. Como um tiozão do pavê solitário na mesa do almoço de domingo, sem ninguém para rir de suas piadas, ele faz um vídeo sério, triste, em que por alguns minutos pede respeito ao próprio direito de ser desrespeitoso. Um paradoxo.
"A desigualdade é muito grande quando uma pessoa é de direita e preza pelos valores da Bíblia", ele diz. De fato. Maurício está do lado mais confortável dessa balança. Pessoas não morrem por serem de direita e pregarem a Bíblia. Enquanto isso, caso o Superman e seu parceiro de cabelo rosa existissem de verdade, correriam o risco de serem abordados na rua por machões defensores da tradição munidos de paus e lâmpadas. É muito ruim viver com medo quando o perigo está a espreita na esquina.
A marcha dos homofóbicos
O discurso acabrunhado de Maurício, sentindo-se marginalizado por ter um comportamento equivocado e reforçá-lo no vídeo em que deveria se desculpar, surtiu efeito. Seus companheiros de equipe ameaçam parar de jogar caso ele seja retirado do time Minas Tênis por pressão de um patrocinador. A torcida, entretanto, repudia.
Um pequeno exército de homens defendendo o direito de debochar do direito do outro — afinal, se ver representado em uma história em quadrinhos é algo que faz diferença para a população LGBTQIA+.
Não cai bem moralmente e finalmente respinga no bolso: os acordos comerciais não querem carregar o peso da homofobia.
Douglas, também jogador da Seleção, sabe que ver gays ou héteros nos programas infantis ou nos gibis não afeta orientação sexual. Ele diz que nunca virou hétero por conta dos conteúdos que consumia. Maurício prefere dividir em times: "Se você fala sua posição e defende que lado você está, você é escrotizado (SIC). Vou defender o lado em que estou, penso lá na frente", diz o jogador. Ele se refere a defender seu filho e sua filha de doutrinas homossexuais para que cresçam segundo as "tradições deixadas por Deus". Por mais que ele lute, essa disputa está bem longe de seu controle.
Falar sobre este ou aquele lado só afunila o diálogo. Afinal, a questão entre os LGBTQIA+ e pessoas hétero está longe de ser uma batalha. O ideal é o convívio pacífico em que ambos tenham apenas um inimigo comum: a homofobia. Deve ser essa a luta do filho do Superman e deveria ser a de todos nós.
Ser gay, lésbica ou bissexual não pode ser ensinado para crianças. Ser homofóbico, sim. Enquanto Maurício estiver tentando repassar esse tipo de valor, haverá quem tente calá-lo. Que bom.
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