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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Leifert, Ícaro Silva e a treta do BBB: arrogância só gera ainda mais ódio

Colunista do UOL

22/12/2021 04h00

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Tem intelectual que não curte novela. Tem gente que trata comédia romântica como uma arte menor. Axé e sertanejo dos anos 90 foram renegados por anos até se tornarem vintage e, por consequência, cult. Teve uma fase longa em que o popular era dizer por aí que odiava o BBB. O desprezo pelo que se considera "pouco inteligente" nas artes parece um tipo de chancela da própria inteligência.

Pode ser esse ciclo que levou o talentoso ator Ícaro Silva a fazer um comentário depreciativo sobre o Big Brother Brasil. Ícaro afirmou que não participaria do programa. Seus argumentos são válidos para a maioria da população adulta como não gostar de dividir banheiro com estranhos. Até entendo.

O estranho é um funcionário da Globo dizer que o entretenimento oferecido pelo Big Brother é medíocre. O comentário opinativo não seria o problema, não fosse sobre a firma onde ele trabalha. Mas o teor agressivo de fato não cabe com tantas ressalvas.

Caso Ícaro odeie muito o BBB como diz (e muita gente odeia), poderia rir dos rumores que dizem que ele iria participar do programa no mês que vem.

Depois da situação, ainda tripudiou: "Gente, eu estou muito excitado que minha primeira interação em massa no site Twitter seja na base do ódio. O esgoto está transbordando. A parte mais legal é que agora vocês sabem que eu não estou topando passar uma parte da minha vida dividindo quarto com luz de necrotério. Amorzão", ele disse. Eita, precisa?

Ex-BBB, Leifert não gostou

Entretenimento pode ser bom para quem consome, mas simplesmente não existe se não acontecer uma coisa: faturar. E nesse âmbito, não é possível criticar o Big Brother. O programa rende muito patrocínio e dinheiro. Esse foi o argumento que Tiago Leifert, apresentador do programa até a última edição, usou para retrucar Ícaro.

Entre as frases, em tom que disfarça a agressividade com condescendência, Leifert diz que o BBB pagou o salário do ator na empresa em que eram colegas.

Parece aquelas brigas de escola: O intelectual chama o rico de burro e o rico devolve para o intelectual o quase fatal: "Mas meu pai paga o salário do teu".

Se na escola não faz muito sentido, no show business o argumento realmente paga umas contas.

Ícaro é um oásis de talento que sobrevive e cresce anos após despontar em Malhação (que também é alvo de críticas desde sempre). Reclamou do BBB bem na época em que o Big Brother virou hype e aceito por todos, mas deve sair maior disso. Seu trunfo é seu trabalho.

Já Leifert não tem nada a ver com o assunto — teoricamente. Como o programa ascendeu em suas mãos, ele trata o produto com o apego com que tratamos os filhos. Com tempo livre aqui fora, deverá passar 24 horas comentando as situações dos participantes, com a (des)vantagem de não poder ser eliminado.

Se Ícaro participar do programa de verdade, Chico Barney já o considera favorito. Leifert ficaria ainda mais irritado aqui fora.

Agora, se é medíocre ou de qualidade? Esse tipo de opinião é pessoal e intransferível. Só lembro que quem está exercendo sua intelectualidade devorando livros não costuma ter muito tempo de causar em rede social. E quem está sossegado de verdade não se irrita com bobagem. Mas você pode discordar de mim no Instagram.