Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Jade Picon não dança nas festas por vergonha: libertem os maus dançarinos!
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Meu coração parte ao ver Jade Picon sentada quieta em festas do BBB. Todo mundo dançando e ela ali, parada, dizendo que tudo bem, que se diverte mesmo assim. Claro, tem gente que não gosta de dançar. Entendo (na verdade não entendo muito, mas não pega bem dizer). Mas deixar de fazer isso por medo de ser julgada... poxa, é triste demais!
Meu falecido pai não ia gostar de saber disso, mas eu não sei dançar muito bem. Coitado, se esforçou para que isso não acontecesse quando a filha mais velha tinha apenas 8 anos. Quis aproveitar a onda da lambada e me colocou para aprender com uma conhecida que morava ali perto de casa. Às terças à tarde, eu atravessava a praça e batia na porta da moça, cujo nome me escapa agora. Ela colocava um K7 de Kaoma ou similar no rádio e "chorando se fomos" por muitas semanas num tapete felpudo. Não aprendi nada. Longe de ser inabilidade da mestra, cujos quadris pareciam ter vida própria. O negócio é que a aluna era meio devagar mesmo. Até hoje não entendi direito como que faz o tal rebolado lateral.
Durante a pandemia, um colega de trabalho colombiano veio me perguntar sobre a lambada. Fascinado pelo ritmo, ele aprendeu algumas palavras de português só para entender as letras nos anos 90. Perguntou se eu sabia dançar. Protegida pelo plano americano do Zoom, menti que sim.
Não dá para se cortar a ilusão de um gringo. Eles acreditam que todas as brasileiras têm Deus no coração e o diabo nas ancas, oras.
Dance bem, dance mal, dance sem parar
Gostar de rock na adolescência é de certa forma libertador: que bênção é existir um ritmo em que dançar esquisito é o certo. Aí você vai soltando o corpo na pista — obrigada ao Duboiê bar e sua pista escurinha e acolhedora. Quando o assunto é samba, eu até que sei a técnica. Tenho a força nos posteriores da coxa para descer até o chão e subir sem encostar a mão em nada. Se sambo bem? De jeito nenhum. Ouvir Luisa Sonza também mexe com minhas partes baixas, mas daí a conseguir coordenar um fight de bumbum — estou bem longe.
Acontece que não teve um único dia na minha vida em que deixei de dançar por isso. Não tenho ideia do que estou fazendo. Mas eu danço muito. Livre, leve, solto, e sem saber muito bem onde colocar os membros. Acontece.
Jade Picon em seu famigerado TikTok de dancinha fracassado, dança mil vezes melhor que eu. Mas fico pensando que se eu fosse flagrada na adolescência tentando descer na boquinha da garrafa, talvez nunca mais tivesse coragem de repetir os movimentos de novo. Na maturidade, graças ao advento do smartphone, às vezes me vi na tela retangular de um celular dançando tudo errado na rede social de alguém que filmava rindo. Eu ria também. Essa é uma boa hora para culpar a bebida, embora sóbria minha situação até piore um pouco.
Eternizar a falta de gingado num vídeo vertical talvez não seja uma boa ideia. Eternizar o sentimento de que é melhor ficar parada do que curtir uma festa me parece pior ainda.
Que Jade Picon, eu e toda a nação de mulheres sem molejo aceitem a condição e dancem sem parar. A pista é dos maus dançarinos também. Ninguém disse que quadris menos frenéticos não podem sacolejar felizes por aí.
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