Por que a gente gosta tanto de ver gente pelada em reality show, hein?

Aqui no Brasil, apesar do calor que dura a maior parte do ano, a gente tem certa resistência a ficar pelado. Nas praias, diferentemente dos países europeus, o top less é proibido. Parece que a gente não gosta de tirar a roupa, a menos que seja muito necessário — para tomar banho e para fazer sexo. E não gosta que tirem também... a menos que a pessoa esteja em um reality show na TV, claro.

A expectativa de parte do público de realities de confinamento é apenas essa: ver partes do corpo dos participantes enquanto tomam banho ou se trocam. Se for durante o sexo então, melhor ainda. Quando a espanhola Noemi entrou no BBB em 2012 e se trocou na frente das câmeras se despindo, foi aquele auê. E quando ela contou que na Espanha o pessoal tomava banho sem roupa de banho na casa? Que escândalo, hein?

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Há sempre participantes destemidos que se aporrinham de ter todo o cuidado para se trocar sob toalhas molhadas enroladas ao corpo, deixam cair e tocam o barco. Há aqueles que se enchem da sunga ou biquíni e decidem abaixar um pouco a peça para esfregar as partes com sabonetes Ambos são raros e causam frisson.

Seja no Soltos, do Prime Video, cuja próxima temporada se passa em Salvador, ou no Túnel do Amor, reality de estreia de Mion no Multishow, ou no queridinho De Férias com Ex, também do Prime: se tiver um pouquinho de partes íntimas à mostra, o barulho é muito maior.

A pira por pegação também é digna de estranhamento — é só vouyerismo ou um fascínio de ver pessoas de verdade fazendo na TV o que a gente não faz muito dentro de casa? Ok, isso é outra conversa.

Em uma conversa com o editor chefe de Notícias desse UOL, Marcos Sergio Silva, ouvi algo interessante: "Somos pudicos. Não olhamos o corpo sem sexualizar e a nudez tem sempre um contexto erótico que não soa natural. Aí, quando um reality mostra cenas assim, temos a sensação de que isso é proibido e secreto", ele disse. As cenas de Noemi tomando banho em 2012 foram parar em sites pornográficos quando o banho não apresentava nenhum menção a sexo, apenas continha nudez.

Os pelados que a gente não julga

Largados e Pelados é a franquia de maior sucesso do grupo Discovery e teve recentemente sua edição brasileira. A série mostra duplas de homens e mulheres tentando sobreviver por 21 dias na selva, desprovidos de qualquer conforto — o que inclui roupas. Se o que chama atenção é o pelado no titulo, a curiosidade quase pueril de ver as partes íntimas dos participantes é frustrada por tarjas na edição do programa. Não há pênis, vulva ou seios totalmente à mostra, mas a nudez está ali.

Mas quando o público engaja com o desenrolar das histórias, a nudez é só uma dificuldade a mais — que expõe o corpo às queimaduras de Sol, ao frio extremo notuno, às picadas de formigas, por exemplo.

Eles transam? São raríssimas as sugestões de atração entre os participantes — e dá para entender que quando alguém está procurando um lagartinho para matar e comer depois de três dias de fome não pensa muito em sexo. A pessoa pode literalmente aparecer pelada na sua frente que não provoca o desejo.

Quando tirada do contexto da sexualização, a nudez é o que é: apenas falta de roupas. Daí o sucesso daquele meme que fala sobre ser a vizinha pelada, aquela que circula pelo apartamento sem vestimentas, para delírio do pessoal que a vê pela janela no prédio da frente. A vizinha pelada só foi buscar uma toalha no varal, não está dizendo que quer transar. Você e eu sabemos que fechar a janela dá muito trabalho.

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