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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Susana Vieira confessa dedo podre aos 79 anos: difícil dispensar o boy lixo

Susana Vieira reclama de ex-maridos com bom humor: mas na hora é sofrido - Reprodução/Instagram
Susana Vieira reclama de ex-maridos com bom humor: mas na hora é sofrido Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

19/05/2022 04h00

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Quando Susana Vieira confessa em entrevista em Portugal que só teve maridos "horríveis", toda mulher sente uma pontinha de tristeza. É lamentável, porém muito real, que nós, representantes do sexo feminino, escolhamos homens, digamos, de procedência duvidosa para a vida conjugal.

No jargão jovem, dedo podre. Mas escolher mal com quem se relacionar não é privilégio de quem é inexperiente. Há quem, como bem disse Susana, passa a vida toda errando. E conserta o erro se livrando do traste. E erra de novo no próximo. Por que será que isso acontece?

Há um aspecto comum à maioria das criações de mulheres ricas ou pobres, de qualquer nacionalidade: casar e se reproduzir são valores passados como de extrema importância. Para muita gente, a vida só será completa se o sonho do casamento de princesa for realizado — seguido por gestações de cinema e criação de filhos digna de propagandas ensolaradas. Aí, quando a prática se mostra meio diferente dessa idealização maluca, a gente tende a aceitar qualquer coisa só para dizer que teve o que era necessário.

É impossivel ser feliz sozinho?

Há, claro, moças que fogem desse roteirinho pré-estabelecido. Há décadas, sabemos de quem teve a coragem de se permitir uma vida sem filhos por escolha própria, peitando o julgamento de todo mundo que vem com clichês como: "uma mulher só é completa com filhos". Tem quem perceba a tempo que não vale a pena acreditar em Vinicius de Moraes pregando em verso e prosa a bobagem de que é impossível ser feliz sozinho. Impossível para quem, Poetinha? Ele não devia saber o prazer de ter a própria companhia e poder escolher o filme que vai ver no cinema sem brigas de casal.

Mas de tanto escutar insistentemente essas regras criadas pela sociedade, nós mulheres estamos quase sempre em um relacionamento (ia dizer presas, o que me soa uma pouco fatalista) mediano. Ou então desesperadas para achar um namoro no qual possamos nos prender. Por algum motivo, o mundo acha interessante que o maior número de mulheres possível esteja envolvido com tábuas de passar e camisas engomadas em vez de estarem, sei lá, mudando o mundo.

Quando a gente fala disso, parece impossível que, esclarecidas como somos, entremos outra vez em relacionamentos com homens que estão interessados em tudo, menos em respeito.

Mas a gente sabe que ser talentosa como Susana Vieira, ter a vida resolvida financeiramente, saber se relacionar e ser admirada... nada disso é proteção suficiente para nos livrar de homens que não valem grande coisa.

Quando a gente menos espera, caiu de novo na cilada do ciumento abusivo, do macho que não sabe passar as próprias camisas, do pai de Instagram e tantas outras espécies que não valem a pipoca que a gente é obrigada a dividir no cinema.

Que possamos criar as meninas sabendo que não precisam ter filhos se não quiserem. Não precisam casar se não acharem que vale muito a pena. Não precisam dividir a vida se a convivência não acrescentar reciprocamente. Casal é legal demais quando é legal para os dois lados. Ter uma vida pela metade mesmo com um anel dourado na mão direita é uma das coisas mais tristes que tem.

Mas é uma dessas armadilhas difíceis de driblar: a fala mais triste da entrevista de Susana é quando ela diz que tirava os maridos de casa, mas eles demoravam a sair. O processo de entendimento do "isso não me serve" é lento e ainda mais devagar é para o homem a compreensão de que aquela mulher realmente não o quer mais.

O serviço prestado por Susana é gigante porque nos tira do esconderijo da vergonha. Uma atriz de sucesso escolheu mal seus parceiros. Muitas mulheres comuns também já se envolveram com quem não valia lá muito a pena. Eu também. E você? Que a gente possa falar disso até ter plena consciência do quanto a gente é especial para aceitar qualquer coisa.

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