Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Após vitória de Johnny Depp, quem comemora resultado não entendeu nada
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Tanto já foi falado sobre Amber Heard e Johnny Depp, que o ponto final no julgamento da ação movida por ele contra ela pode até dar um alívio. Ok, do que a mídia mundial vai falar agora? No veredito, temos dois perdedores. Amber é condenada a pagar US$ 15 milhões por ter mentido ao dizer que foi abusada sexualmente por ele e feito outras acusações maliciosas. Depp também mentiu, segundo o júri, ao dizer que a ex inventou uma história para os policiais. Por isso, deverá pagar a ela US$ 2 milhões.
Quem perde mais? Em prestígio, Amber. Em dinheiro, Amber também. E no geral, perde qualquer mulher que, daqui para a frente, ouse dizer que o marido ou ex é protagonista de situações abusivas.
Quem ganha com isso, então? Depp na opinião pública, claro. Nesse fim de semana, ele já subiu num palco e empunhou em um show a guitarra que o projetou para o sucesso. Ovacionado, claro. Assim, ficamos sabendo que o ator é carismático. Mas, veja bem, isso a gente sabe há décadas! Quem ganha com isso, em geral, são os homens abusivos entre quatro paredes. Ué, mas eles também vêm ganhando há décadas.
Carisma intocado
Recebi algumas mensagens de leitores após a publicação do texto linkado no parágrafo anterior, há 10 dias. Eles diziam frases como: "uma psicopata", "quero que ela apodreça financeiramente" e outras coisas do gênero. Fiquei dias com a frase de Depp sobre a ex para um amigo: ele dizia querer vê-la morta para transar com seu cadáver e ter certeza de ela estava morta. Passo os olhos pela frase novamente incrédula que possamos ainda achar que quem diz esse tipo de coisa possa ter seu carisma intocado.
O vídeo de Amber, mostrado várias vezes na internet, filmando um surto de Depp na cozinha da casa deles me toca especialmente. Nas imagens, ele secava, no café da manhã, uma daquelas garrafas de 1,5 litro de vinho que tem nos EUA. Vou me encolhendo na cadeira ao pensar a quantidade de mulheres que vivem situações semelhantes com homens que bebem, que usam drogas ou que são violentos sóbrios também. A maioria delas está tão paralisada quanto eu ficaria, e não tem coragem de filmar nada.
O abuso está nos detalhes. Pode nem haver copos quebrados, dedos decepados, facas cravejadas de diamantes, ofensas escabrosas, dejetos na cama (sim, essa relação tóxica teve até essa polêmica escatológica).
Olhares ameaçadores bastam para condenar uma mulher a viver para sempre em um casamento que não lhe faz bem. Quantas dessas você conhece? Quantas têm coragem de dizer que querem ir embora? Quantas realmente vão?
Entre as tantas nuances de um relacionamento abusivo, há o revidar a agressão. Num vai e vem de farpas, as brigas logo evoluem para a incontrolável violência física. Se o homem começar, a mulher tem o direito de devolver o soco? Qual a chance de isso acontecer? E se o homem revidar os tapas de uma mulher descontrolada que tenta atingi-lo? Pode ser que ela saia machucada.
Não dá para defender Amber ou Depp nessa quase trágica história onde todos saem feridos. Os prejuízos, parece, não se encerram no troco de milhões que sobram para o ator. O que dá é para tentar ouvir as mulheres que saem de relações com homens poderosos (seja mundialmente, como Johnny, ou apenas na microesfera de suas próprias casas, como tantas) sem preconceitos.
Para que menos gente saia perdendo e mais gente tenha coragem de ser feliz fora dessas armadilhas tóxicas em que nosso romantismo incansável (ou carência?) nos mete.
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