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Luciana Bugni

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Como atriz de "Beleza Americana": ser moderna na cama pode esconder abuso

Beleza Americana - Divulgação
Beleza Americana Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

29/07/2022 12h00

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Ser livre sexualmente é um dos preceitos modernos de felicidade conjugal ou na vida de solteira. Ainda bem. Foi-se o tempo em que mulher transava com um camisolão branco, para não aparecer nua (o que denotaria impureza), e o único intuito de um casal heterossexual na intimidade era satisfazer o homem. O que, é importante frisar, costumava durar poucos e tristes minutos. E essa seria a única experiência sexual da vida delas. Só de pensar dá um arrepio.

Hoje é diferente: mulheres se sentem mais seguras com a nudez, sabem que podem ter vários parceiros durante a vida, sem culpa e sabem que podem provar relações sexuais com pessoas do mesmo sexo, desde que sintam vontade. Ter uma vida sexualmente ativa no século XXI é muito mais prazeroso do que seria décadas atrás. Será?

A atriz Mena Suvari, que você conheceu nua, deitada em uma banheira de pétalas vermelhas, aos 17 anos, no premiado filme Beleza Americana, fez uma declaração importante. Ela afirmou que teve um relacionamento abusivo na juventude em que se sentia obrigada pelo parceiro a fazer ménages com outras mulheres. Era assim: o vida mansa do namorado tinha vontade de transar com outras mulheres de Hollywood e dava uma forçada na barra para que Mena providenciasse o rolê.

Tradicão antiga masculina

Ela afirmou que já encontrou algumas dessas mulheres depois de alguns anos e aproveitou para afirmar que nunca quis fazer "aquelas coisas". As moças rebateram surpresas, porque o namorado dizia que era ela que queria. É comum: mulheres que se sujeitam às situações excitantes e modernas na teoria mas que, no fundo, apenas escondem uma tradição antiga do universo masculino: comer todo mundo.

Dá para fazer uma lista: transar em lugares públicos, dar uma rapidinha com mais gente no cômodo, sexo oral com o carro em movimento, sexo anal... Tem um monte de situações que parecem excitantes nas conversas ao pé do ouvido, mas que, na prática, podem ser um desastre. Envolvidas pela névoa do "sexo moderno", mulheres aceitam situações que não apenas podem passar longe de serem prazerosas como podem ser bem constrangedoras.

Pensar sobre isso me fez lembrar de um trecho do livro "A Divina Comédia dos Mutantes", de Carlos Calado, que descreve a relação amorosa moderna de Rita Lee e Arnaldo Baptista. Arnaldo não queria apenas transar com outras mulheres — ele queria que Rita assistisse a cena porque era isso que o excitava. Ela, claro, era moderna demais para dizer que não pirava nisso. Então se escondia no armário, a pedido do marido, para assisti-lo fazer sexo com uma desconhecida. Lá, ficava chorando baixinho, para que ninguém soubesse que não era tão moderna assim. Como ela não fala sobre isso, não dá para ter certeza de que foi assim mesmo. Mas que dá para imaginar, isso dá.

Quando um homem chegar com uma proposta moderníssima de um ménage que você não quer fazer, reverta a situação e tente colocar mais um homem na jogada, em vez de uma mulher. Nessa hora, a modernidade costuma dar espaço a um tradicionalismo de dar inveja ao seu avô.

E mesmo que ele aceite, é de se pensar se prefere o Idris Elba e Chris Evans juntos no mesmo quarto ao mesmo tempo — será que não daria para aproveitar melhor um na sexta e outro no sábado? Fica a reflexão.

Agora, para quem realmente está curiosa ou com vontade de experimentar o que nunca fez na cama, a boa notícia é que menos gente vai julgar hoje do que faria há décadas atrás. Não significa que estamos de fato vivendo tempos totalmente livres, claro, mas que estamos de certa forma caminhando. Ser moderno é uma delícia, fazer o que quer na cama melhor ainda. Só é importante, quando tira a roupa com outra (s) pessoa (s), estar 100% ciente de estar vivendo situações que você escolheu.

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