21 anos após garrafadas em Brown, show de Gil coroa Rock in Rio diverso

Quase 23h, depois de muita chuva, milhares de pessoas em pé, pulando com suas capas plásticas e gritando que a fé não costuma falhar. A família Gil botou a cidade do rock para ferver na noite do domingo (4), decretando que está muito para trás o passado em que a música brasileira era considerada menor em eventos com atrações internacionais.

No Rock in Rio 2022, o filé mignon foi cantado em bom português — Racionais e Emicida e Rael fizeram shows memoráveis e o funk também esteve presente e teve excelente aceitação. Talvez nem desse para chamar de rock, mas seguramente era bastante Rio — e um pouquinho de São Paulo e Bahia, entre outros. A gente chama popularmente de Brasil.

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Quem já acompanhou várias edições do evento nas últimas décadas pode até estranhar o público todo do festival cantando o refrão de "Vamos fugir" enquanto balança os braços para cima calmamente. No fim de noite, imagina-se, o roqueiro espera uma coisa mais explosiva. Mas aqui, nada de solos virtuosos, refrões gritados ou slaps no baixo... quem explodiu a galera foram Gil e família mesmo.

O cantor e sua guitarra, 80 anos em acordes, provam que esse papo de "só banda gringa que vale" ficou para trás em alguma década passada.

Prata da casa era recebida com garrafadas

Há 21 anos, em plena luz do dia, o também baiano Carlinhos Brown levava garrafas de fãs violentos que esperavam por bandas como Oasis e Guns and Roses, que tocariam no Rock in Rio naquela noite.

Hoje, como outros brasileiros citados, Gil foi ovacionado. Quando ofereceu a saideira, faltando cinco minutos para as 23h, o público que enfrentava chuva e um vento gelado lamentou num uníssono "aaaaah". Queriam mais. Gil respondeu que toda menina baiana tem defeitos também. No palco, o coro de backing vocals falava de carnaval, de magia e do que Deus deu. Não parece muito rock'n'roll, mas o público pulava.

Gilberto Gil montou esse show na frente das câmeras, para quem quiser ver: o reality "A Família Gil" está disponível em cinco episódios no Amazon Prime e mostra a rotina da família toda reunida em uma casa de campo na serra carioca. Ali, cada um escolhia e explicava a razão da música que queria tocar na apresentação que fariam futuramente em turnê na Europa. Foi o que fizeram durante 2022 — e agora o show chega ao Brasil, com a família toda atrás dos instrumentos e vocais. Um deleite que nos é familiar, em todos os sentidos da palavra.

Essa documentação do processo artístico talvez dê ao público a sensação de que participou das decisões que culminaram no repertório. Eu diria que "Drão" foi escolhida por mim. A mistura de clássicos que ouvimos há muitas décadas e uma família carismática chega ao ápice quando Flor Gil, neta do cantor, encara o microfone aos prantos para cantar Garota de Ipanema. Ela tem 13 anos. Que coisa mais linda. Foi o Brasil que fez tudo isso?

Preta Gil traz no peito uma foto de Pedro, o irmão que morreu — ele também já esteve no palco do festival nos anos 80. A família Gil é um pouco a gente. Esse Brasil que canta e é feliz, ué, por que não dá para ser triste o tempo inteiro.

A noite de domingo terminou no palco Mundo com o show de Justin Bieber de touca pink e sem camisa. Ouso dizer que a camisa florida de Gil empolgou mais a galera que assistia tudo do outro lado da cidade do rock. Caberia a opinião de Cristiane Torloni para reeditar o meme: hoje é dia de Brasil, bebê.

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