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Chris Rock não aceita desculpas de Will Smith: por que é difícil perdoar?
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Quando vemos o rosto de Will Smith nas telas, pensamos imediatamente na noite do Oscar desse ano. Mas não na imagem dele levantando a estatueta de melhor ator por "King RIchards: Criando Campeãs". Na verdade, precisei recorrer ao Google para lembrar que "No ritmo do Coração" foi o melhor filme do ano. O protagonismo de Smith se deu por conta da violência contra Chris Rock. Três meses após o ocorrido, o ator pediu desculpas. Cinco meses depois, Chris zombou do pedido e afirmou que não perdoa.
Na noite de 27 de março de 2022, o mundo inteiro observou perplexo Will levantar de sua cadeira, dar um tapa no rosto do comediante e dizer impropérios quando voltou a se sentar ajeitando o smoking como se tivesse feito a coisa certa. A violência sem precedentes foi tão inimaginável que a turma do "deixa disso" não teve tempo de agir. Nem a esposa do ator, Jada Smith, que havia sido o alvo da piada de Chris que culminou na atitude de Will, teve tempo de puxá-lo pelo paletó em tentativa de impedir que ele fizesse o que fez.
Em seu vídeo pedindo desculpas, o ator fala que está aberto a conversar com Chris quando ele estiver pronto. Também mostra humildade ao dizer que sua atitude impensada teve consequências para sua mulher e filhos — e teve mesmo. A agressão é gravíssima, mas causa empatia pensar nesse homem remoendo alguns segundos em que o sangue ferveu por tantos meses. Will ainda pede perdão para a família de Chris e se coloca a disposição para falar sobre o ocorrido. Louvável. E talvez o primeiro passo para perdoar a si mesmo, já que ele teve apenas alguns segundos para decidir agredir o colega, mas todo o tempo depois daquilo para pensar no que fez.
Chris Rock demorou quase dois meses para falar sobre o vídeo. Nesse fim de semana, protagonizou um evento de humor na The O2 Arena, em Londres, em parceria com Dave Chapelle, e afirmou, entre palavrões, que não se importa com o pedido de desculpas de Will. Ainda fez piada comparando os dois a boxeadores americanos famosos, como se lamentasse o fato de não ter tido espaço para revidar a agressão.
Como funciona a recusa do perdão
Há um vídeo em que o filósofo Leandro Karnal fala sobre o mecanismo que faz a pessoa não perdoar quem a feriu ou magoou. Ele afirma algo como: "Se eu não te perdoar, você continua errado. E quando você continua errado, eu continuo sendo superior a você". Faz sentido.
Se Chris Rock tiver uma conversa com Will Smith e desculpá-lo pelo tapa que levou na cara, terá que pensar nas suas próprias atitudes que culminaram na raiva do colega. Pode ser que tenha que pedir desculpas por ela também.
Diante do escândalo da agressão física, Chris se deu bem e seu faturamento com shows de humor duplicou. Toda vez que se fala do tapa, a piada ofensiva de Chris sobre a doença de pele de Jada fica invisível. A partir do momento em que ele perdoa a agressão, a piada volta ao protagonismo da cena. E o comediante entra na berlinda do julgamento público.
"A vaidade de não mostrar que errou é pior do que a honestidade de se mostrar imperfeito", diz Karnal. Quando a gente olha no olho do agressor que está despido de armadura, pedindo perdão sinceramente, e desculpa o erro, ficamos mais fortes. Mas há situações em que quem nos agrediu nunca vai ter a humildade de pedir desculpas ou de verbalizar a confissão do erro. E aí é um papo nosso com a gente mesmo: quanto tempo em vou guardar mágoa daquilo? Que espaço dentro de mim eu vou deixar ser ocupado por algo que me incomoda? A resposta é subjetiva.
Está posto que perdoar não é admitir violências ou se colocar em risco. Mas ruminar uma ofensa ou uma traição por meses ou anos não parece a melhor estratégia para uma vida leve. "Quem te irrita te controla", diz Karnal. "Quem te tira do sério, revela sua insegurança." O tapa de Will Smith fala mais sobre ele do que sobre Chris Rock. Não desculpá-lo, entretanto, fala mais sobre Chris do que sobre quem o agrediu.
Se você não se ofender por qualquer coisa, fica mais forte ainda. Ou, como eu disse para meu filho outro dia em que ele se magoou profundamente com algo que sua avó falou: a gente não controla o que os outros dizem, mas pode tentar controlar como aquilo nos fará sentir. Se uma criança de 5 anos entendeu, talvez a gente também consiga mudar de atitude em relação ao rancor que guardamos.
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